Na semana em
que os partidos fora do segundo turno das eleições decidem eventuais apoios na
disputa entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB), a quarta colocada no
pleito, Luciana Genro, comemora o resultado e o considera
"extraordinário". A candidata, que teve mais de 1,6 milhão de votos
(1,55% do eleitorado), avalia que conseguiu encantar a juventude e levar ao debate
eleitoral temas que nenhum dos candidatos levantou.
A avaliação de
que a candidatura do PSOL conseguiu sair da campanha melhor do que entrou, por
receber parte dos votos daqueles que participaram das manifestações do ano
passado, é compartilhada pelo cientista político e especialista em
comportamento eleitoral Leonardo Barreto. Para ele, o voto em Luciana não veio
só do “radical”, mas também de um setor da sociedade que é “muito mobilizado”.
O partido
conseguiu superar a quantidade de votos da eleição passada e aumentou a bancada
na Câmara de três para cinco deputados. Plínio Arruda Sampaio, candidato do
partido em 2010, teve 0,87% dos votos. Luciana Genro conseguiu somar quase
metade do total de votos obtidos pelas oito menores candidaturas (3,68
milhões).
“As manifestações de junho contribuíram para
que houvesse um processo de negação da política mais forte”, avalia Luciana
Genro. Em entrevista à Agência Brasil, ela disse que essa apatia é importante
em um primeiro momento, mas insuficiente. O desafio agora, para ela, é
organizar essa insatisfação com a “velha política”, a concentração de renda e
os serviços públicos precários, e assim passar para um processo de afirmação.
De acordo com
a fundadora do PSOL, além das defesas do partido do ponto de vista econômico,
como a tributação sobre grandes fortunas, as bandeiras defendidas por sua
candidatura conseguiram aplacar grande apoio social. Lembrando que as paradas
do orgulho LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e
transgêneros) têm reunido milhões de pessoas, Luciana Genro avalia que “nenhuma
candidatura tem a ousadia de colocar nas campanhas” posições tão claras como a
defesa do casamento civil igualitário para pessoas do mesmo sexo e a
criminalização da homofobia.
Segundo
Leonardo Barreto, a candidata mirou alguns nichos específicos e continuou
apostando em extremidades ideológicas, como a esquerda mais clássica. “Os partidos
que não estão disputando a vitória têm uma liberdade maior de discurso e de
posicionamentos do que os que estão atrás do eleitor mediano. Parece que isso
explica o desempenho dela.”
Ao avaliar que
as principais bandeiras apresentadas em seu programa “não serão resolvidas por
nenhum dos dois candidatos”, Luciana disse que a posição para o segundo turno
será definida nesta quarta-feira (8) em reunião da Executiva Nacional. “O que
temos de consenso é de que não daremos nenhum voto para o Aécio, que evidentemente
significa retrocesso. Isso não significa apoio a Dilma, têm muitos eleitores do
PSOL que vão declarar voto nulo, por exemplo.”
O cientista
político justifica que esse voto nulo se deve ao fato de o partido encampar
muito o discurso antissistema, inclusive contrário ao funcionamento eleitoral.
Na avaliação dele, porém, “por gravidade”, os eleitores da socialista tendem a
se aproximar de Dilma.
Luciana Genro,
que foi deputada federal entre 2003 e 2010, pretende continuar cumprindo seu
papel de figura pública e dirigente do partido. “Para fazer política você não
necessariamente precisa ocupar cargo público. Acho que a força que eu possa ter
está diretamente relacionada à força do PSOL”, avaliou, ao acrescentar que os
deputados eleitos do partido terão um papel importante de seguir defendendo as
bandeiras que levantou na campanha.
O cientista
político acredita que, apesar de não ter um mandato, Luciana Genro vai
continuar desempenhando um papel nesse cenário. Ele considera que esse eleitor
mais mobilizado das manifestações trouxe uma agenda persistente ao país, e que
o desempenho de Luciana foi importante para destacar seguimentos minoritários
que devem ser valorizados e são importantes para a democracia.
Da Agência Brasil
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