Crise no PSB de Vila Velha e estadual deixa Casagrande ainda mais isolado

Jorge Aragão

Uma crise está instalada no PSB de Vila Velha, e ameaça atingir a Executiva Estadual da sigla. Inconformados com a falta de diálogo e as tomadas de decisão sem consenso dentro do partido, militantes socialistas se reuniram em um bloco, espécie de “excluídos”, bloco aliás, que só cresce a cada dia, e após reuniões fora da sede municipal, já que não são, segundo eles, convidados a estarem lá, foi redigida uma Carta de Intenções, que teve como destino as mãos das presidências das Executivas Estadual e Nacional.

Em uma entrevista exclusiva concedida a coluna De Olho no Poder, Jorge Aragão, representante da comissão de militantes insatisfeitos, falou sobre a entrada de Luiz Ciciliotti no comando da sigla no Espírito Santo, além da falta de traquejo do presidente do diretório de Vila Velha, Fabio D’Ávila.

Aragão citou também a confusão causada pela neutralidade do governador Renato Casagrande quanto às eleições presidenciais deste ano. “Ninguém nos perguntou, como filiados, se queremos ficar em cima do muro com ele. Esta não é a visão do partido. Queremos intervenção da Executiva Nacional”, disse Jorge Aragão. A entrevista completa você confere aqui.

De Olho no Poder – Por que foi instalado o clima de insatisfação entre filiados do PSB Vila Velha?

Jorge Aragão – O último congresso onde foi eleito o diretório, escolhidos membros da Executiva Municipal foi em 2007, de lá pra cá nunca mais houve uma reunião. A Executiva anterior foi exonerada e a Estadual, por força de lei, nomeou um diretório municipal à revelia total dos filiados de Vila Velha.

De Olho no Poder – O senhor está falando do presidente Fabio D’Ávila?

Jorge Aragão – Sim. Foi nomeado um presidente que nesses anos todos, nunca ninguém viu, que é o senhor Fabio D’Ávila. A maioria dos filiados não o conhece. Nesses dois últimos anos como presidente, ele nunca fez uma reunião conosco, nunca nos convidou pra nada. Há cerca de um mês ele convocou uma reunião com apenas cinco membros da Executiva Municipal para falar sobre a ida de um vereador do nosso partido para dentro do governo do senhor Rodney Miranda (DEM), prefeito de Vila Velha. Mais uma vez fizeram uma reunião para deliberar sobre tomada de decisão importante sem convocar os demais filiados. Isso tem que ser colocado em votação. O partido precisa explicar qual a motivação de entrar no governo do DEM, pois nós não temos nenhuma ligação com essa sigla.

De Olho no Poder – O senhor quer dizer que a militância do PSB não concorda com a ida do vereador para a prefeitura?

Jorge Aragão – Nós apenas queremos discutir se é o momento e se queremos participar do governo de Vila Velha, e claro, se nós aprovamos o nome escolhido. As coisas vêm acontecendo dessa forma dentro do PSB. Decisões são tomadas de cima pra baixo e somos obrigados a engolir. Um partido que se diz socialista democrático e que não se reúne com seus filiados pra debater, é estranho.

De Olho no Poder – Qual foi a decisão dos filiados excluídos após essa reunião?

Jorge Aragão – Desde esta reunião para a qual não fomos convocados, resolvemos nos reunir em frente à sede do partido, e após outros encontros fora da base do diretório, redigimos a Carta de Intenções. Sete filiados foram indicados pra representar o grupo todo, para uma reunião com a Executiva Estadual. Ocorre que o prazo para este encontro venceu no último sábado (08) e ninguém da Executiva se manifestou, mas ficamos sabendo que o senhor Fabio D’Ávila convocou uma reunião com a Estadual, com participação de apenas quatro membros da Municipal e declarou que não conhece como legítima a reivindicação do nosso grupo. Isso porque ele não conhece o estatuto do PSB.

De Olho no Poder – Esse foi o motivo de a Carta ter sido direcionada à Nacional?

Jorge Aragão – Exatamente. Por causa desse descaso da Estadual, encaminhamos a Carta de Intenções à Executiva Nacional, que já se reuniu e fez contato com o PSB-ES. Mas, até o momento não tivemos nenhuma resposta oficial. No entanto, para minha surpresa, embora eu tenha, como membro do diretório municipal, um e-mail institucional, recebi uma mensagem no e-mail pessoal, convocação para uma reunião e já deliberamos que não compareceremos. Ele teve dois anos para se reunir conosco e não se reuniu. Já temos informações que o senhor Fabio D’Ávila está tentando desarticular o nosso movimento, mas ele não sabe que o movimento cresceu, já saiu de Vila Velha e alcançou Cariacica, Vitória e outros municípios.

De Olho no Poder – Qual a opinião desse grupo sobre a neutralidade do governador Renato Casagrande quanto às eleições 2014?

Jorge Aragão – Estamos convocando todos os filiados do PSB-ES para uma reunião, pois estamos à beira de uma eleição para a presidência da República e o que a gente ouve é que o governador do nosso partido vai ser neutro com relação aos candidatos à presidência. Nós que somos filiados queremos ser ouvidos. Ele não pode tomar uma decisão unilateral. Precisamos nos reunir urgentemente com a Estadual para saber que direção devemos tomar. Nós não aceitamos mais ser vaquinhas de presépio pra enchermos auditórios pra concordar com decisões que já vêm tomadas de cima pra baixo por três ou quatro membros.

De Olho no Poder – Por que os filiados estão insatisfeitos, também com a Executiva Estadual?

Jorge Aragão – Não estamos satisfeitos com as atitudes do presidente, Luiz Ciciliotti. Assim como o presidente do diretório de Vila Velha, a direção estadual não atende as pessoas, não marca reuniões. Sequer fomos consultados sobre um outro nome para assumir o cargo. Eu pergunto: Ciciliotti assumiu baseado em que premissa? Com voto de quem? Não houve reunião com a militância, nem estadual, nem municipais.

De Olho no Poder – Qual é o próximo passo dessa comissão?

Jorge Aragão – Pode ser que a qualquer momento nosso grupo vai a Brasília ou a Pernambuco para esclarecer esses assuntos. Nós, militantes do partido, queremos saber a quem vamos apoiar nessas eleições. O partido tem uma ideologia política, mas isso não está sendo respeitado.

De Olho no Poder – Caso não se posicione, há risco de o governador Renato Casagrande se prejudicar nas eleições?

Jorge Aragão – Há um risco de boa parte da militância não apoiá-lo, porque a bandeira do Renato Casagrande que eu ajudei a eleger para senador e governador é de diálogo. Não aceitamos que agora que ele é secretário da Executiva Nacional não interfira nesses assuntos. Ele não pode ficar calado. Muita gente está se desfiliando do PSB. Há risco de uma debandada do partido. Como o governador pretende se fortalecer para uma reeleição se há um conflito e ele não consegue apaziguar? Vamos convocar uma reunião na semana que vem em praça pública e convocar todos os filiados do PSB para discutirmos essas questões.

Do Folha Vitória