Frida da
Silva, do Coletivo Vinhetando, compara a morte de Wellington Sabino ontem na
Mangueira com a de Amarildo de Souza, na Rocinha e afirma que todo "auto
de resistência" – quando a polícia mata um suspeito durante confronto –,
deveria ser investigado como qualquer outro homicídio. Na imagem da direita,
policiais revistam moradores na Mangueira
Por Frida
da Silva*, para o Coletivo Vinhetando
Wellington
Sabino, 20 anos, foi morto por policiais militares, na noite de sábado, na
Mangueira, favela onde se anuncia ter havido uma "pacificação"
armada. a PM alega que houve troca de tiros com bandidos armados, e
provavelmente vai repetir a versão padrão que sempre é dada quando o Estado
mata alguém: "Estavam em patrulhamento de rotina quando avistaram
elementos armados, que efetuaram disparos contra a guarnição. Ato contínuo,
revidaram a injusta agressão. Um elemento foi baleado e levado ao hospital,
onde veio a falecer". Essa narrativa é repetida infinitamente nas páginas
de inquéritos registrados como supostos "autos de resistência", e
provavelmente um versão atualizada dessa narrativa vai aparecer no registro da
morte de Wellington.
A família do
jovem e moradores da comunidade afirmam que ele não era bandido: "Ele era
trabalhador, nós o conhecíamos. Em vez de chegarem aqui e matarem pessoas trabalhadoras,
eles deveriam cuidar da luz, do esgoto e da água, que já estão em falta faz
alguns dias", afirmou um morador, à reportagem da Agência Brasil. A PM diz
que ele portava uma pistola – e essa versão predomina na imensa maioria de
matérias e notinhas em jornais esites.
Indignada, a população da Mangueira foi às ruas protestar na noite de domingo, ateando fogo a um ônibus. Mais uma vez, os moradores foram reprimidos com bombas e tiros. Hoje o comércio na favela ao lado do palco da final da copa amanheceu fechado, em luto pela morte de Wellington.
Que os familiares e moradores da comunidade sejam devidamente ouvidos pelas autoridades policiais, e que esse crime não entre para o hall de casos arquivados por suposta falta de provas. Que haja perícia imediata nas armas dos policiais, perícia de local, confronto de balística, e um auto de exame cadavérico orientado pela dinâmica da morte. Que esse caso seja tratado como um homicídio, e não como um "auto de resistência", no qual a desculpa da suposta legítima defesa corrobora a não-investigação dos fatos.
Fontes:
Agência Brasil de notícias
MISSE, Michel et all: Quando a polícia mata: Homicídios por "autos de resistência" no Rio de Janeiro (2001-2011). Rio de Janeiro: Booklink, 2013.
*Frida da
Silva é jornalista e tem mestrado em antropologia pela UFRJ. É midiativista do
coletivo Vinhetando e pesquisa temas relacionados à violência no Rio de
Janeiro.
Fotos: Fernando
Frazão/ABr / Coletivo Vinhetando
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