terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Mais um Amarildo


Frida da Silva, do Coletivo Vinhetando, compara a morte de Wellington Sabino ontem na Mangueira com a de Amarildo de Souza, na Rocinha e afirma que todo "auto de resistência" – quando a polícia mata um suspeito durante confronto –, deveria ser investigado como qualquer outro homicídio. Na imagem da direita, policiais revistam moradores na Mangueira

Por Frida da Silva*, para o Coletivo Vinhetando

Wellington Sabino, 20 anos, foi morto por policiais militares, na noite de sábado, na Mangueira, favela onde se anuncia ter havido uma "pacificação" armada. a PM alega que houve troca de tiros com bandidos armados, e provavelmente vai repetir a versão padrão que sempre é dada quando o Estado mata alguém: "Estavam em patrulhamento de rotina quando avistaram elementos armados, que efetuaram disparos contra a guarnição. Ato contínuo, revidaram a injusta agressão. Um elemento foi baleado e levado ao hospital, onde veio a falecer". Essa narrativa é repetida infinitamente nas páginas de inquéritos registrados como supostos "autos de resistência", e provavelmente um versão atualizada dessa narrativa vai aparecer no registro da morte de Wellington.

A família do jovem e moradores da comunidade afirmam que ele não era bandido: "Ele era trabalhador, nós o conhecíamos. Em vez de chegarem aqui e matarem pessoas trabalhadoras, eles deveriam cuidar da luz, do esgoto e da água, que já estão em falta faz alguns dias", afirmou um morador, à reportagem da Agência Brasil. A PM diz que ele portava uma pistola – e essa versão predomina na imensa maioria de matérias e notinhas em jornais esites. 

Indignada, a população da Mangueira foi às ruas protestar na noite de domingo, ateando fogo a um ônibus. Mais uma vez, os moradores foram reprimidos com bombas e tiros. Hoje o comércio na favela ao lado do palco da final da copa amanheceu fechado, em luto pela morte de Wellington.

Que os familiares e moradores da comunidade sejam devidamente ouvidos pelas autoridades policiais, e que esse crime não entre para o hall de casos arquivados por suposta falta de provas. Que haja perícia imediata nas armas dos policiais, perícia de local, confronto de balística, e um auto de exame cadavérico orientado pela dinâmica da morte. Que esse caso seja tratado como um homicídio, e não como um "auto de resistência", no qual a desculpa da suposta legítima defesa corrobora a não-investigação dos fatos.
Fontes:

Agência Brasil de notícias

MISSE, Michel et all: Quando a polícia mata: Homicídios por "autos de resistência" no Rio de Janeiro (2001-2011). Rio de Janeiro: Booklink, 2013. 
*Frida da Silva é jornalista e tem mestrado em antropologia pela UFRJ. É midiativista do coletivo Vinhetando e pesquisa temas relacionados à violência no Rio de Janeiro.

Fotos: Fernando Frazão/ABr / Coletivo Vinhetando

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