Blog Dag Vulpi - As primeiras
lojas do mundo para a venda de maconha com fins recreativos sob
licença do Estado contabilizaram “um movimento razoável”, segundo o diretor de
um dos clubes da maconha que começaram a funcionar na quarta-feira no
Colorado, com usuários formando filas para abrir um novo capítulo na cultura
das drogas nos Estados Unidos. Cerca de 35 estabelecimentos que vendiam maconha
para fins medicinais foram agora autorizados pelas autoridades estaduais a
venderem a droga para consumidores interessados apenas na experiência mental.
Algumas dessas lojas começaram a receber a clientela às 8h no primeiro dia do
ano, (13h em Brasília). Alguns clientes vinham de Estados distantes, e muitos passaram
horas enfrentando a neve e o frio para estarem entre os primeiros compradores
da maconha legalizada.
– Este é um
momento histórico – disse Jacob Elliott, 31 anos, funcionário de uma empresa de
defesa na localidade de Leesburg, perto de Washington.
Na fila em
frente ao 3D Cannabis Center, em Denver, ele refletia: “Nunca achei que isso
fosse acontecer”. As autoridades estimam que o comércio de maconha no Colorado
movimentará US$ 578 milhões por ano, sendo US$ 67 milhões em arrecadação para o
Estado. A posse, cultivo e consumo pessoal privado da maconha por adultos para
fins meramente recreativos já é legal há mais de um ano no Colorado, depois de
uma emenda à Constituição eleitoral aprovada em referendo.
A diferença
agora é que, a partir de quarta-feira, a maconha passou a ser legalmente
produzida, vendida e taxada conforme um sistema já adotado em muitos Estados
para a venda de álcool -mas que não existe em nenhum outro lugar no caso da
maconha. Mesmo na Holanda, cujos “coffee shops” são mundialmente famosos por
venderem maconha com o consentimento informal das autoridades, a distribuição
da droga para esses negócios continua sendo ilegal. O Estado
de Washington (noroeste dos EUA) aprovou a legalização da maconha
junto com o Colorado, em novembro de 2012, mas lá as lojas só devem abrir
dentro de alguns meses.
A lei federal
continua enquadrando a maconha como um narcótico ilegal, mas o governo Obama
promete dar mais liberdade aos Estados para adotarem regras quanto ao uso
recreativo. Quase 20 Estados, incluindo o Colorado e Washington, já contrariam
a lei federal ao aprovarem o uso da maconha para fins medicinais. A moderação
certamente era a palavra de ordem neste Réveillon no Colorado, onde cartazes
das autoridades no Aeroporto de Denver e outros lugares alertavam que as lojas
de maconha só podem funcionar em horários regulamentados, e que o consumo
ostensivo e público da droga continua sendo ilegal.
Prestígio
mundial
No Uruguai, único
país da América Latina onde o plantio, a distribuição e o consumo da maconha é
legalizado, foi bem recebido o artigo publicado recentemente no diário
conservador espanhol El Paíspor Mario Vargas Llosa, vencedor peruano do
Nobel de Literatura. Llosa elogiou as duas reformas liberais adotadas pelo
Uruguai em 2013 – a legalização do casamento gay e da maconha -, estimulando
outros países a “seguirem este exemplo”.
“A revista The
Economist fez bem ao escolher o Uruguai como o país do ano, e ao classificar
como admiráveis as duas reformas liberais mais radicais tomadas em 2013 pelo
governo do presidente José Mujica”, argumentou Vargas Llosa, no texto.
O escritor
ressalta ainda que Mujica, um guerrilheiro na juventude, “respeitou as
instituições democráticas” e deu ao Uruguai “uma imagem de país estável,
moderno, livre e seguro, o que permitiu o crescimento econômico e a promoção da
justiça social.”
O famoso autor
de “A Cidade e os Cachorros” observa que, graças a esse “perfil democrático e
liberal”, o Uruguai tornou-se “o primeiro país do mundo a mudar radicalmente
sua política de combate ao problema das drogas”. Além disso, o escritor defende
que a experiência uruguaia “de legalizar a produção e o consumo da maconha”
será mais bem sucedida “se não for limitada a um único país, mas gerar um
acordo internacional que envolva tanto os países produtores como os
consumidores.”
“O importante
é que a legalização seja acompanhada por campanhas educativas – como as que
combatem o tabaco ou demonstram os efeitos nocivos do álcool – e de
reabilitação. A liberdade tem seus riscos. O governo uruguaio entendeu isso e
deve ser aplaudido. Oxalá outros governos aprendessem a lição e seguissem esse
exemplo”, acrescenta.
Em relação ao
casamento entre pessoas do mesmo sexo, Vargas Llosa crê que a medida “combate
um preconceito estúpido e repara uma injustiça que milhões de pessoas sofreram
(e ainda sofrem)”.
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