2014 ainda não
trouxe uma boa notícia sequer para o governador de São Paulo; carnificina em
Campinas, segunda maior cidade do Estado, envolve Geraldo Alckmin em mais uma
crise no setor de segurança; quadro político sofre reviravolta com inclinação
do PSB a romper aliança com tucanos paulistas; PMDB demonstra que pretende
dividir bases conservadoras do governador; PT pode ganhar tempo na tevê com
aliança com PSD; fantasma de José Serra assusta Alckmin, que não consegue se
definir sobre reforma de secretariado; pode restar a ele ter um vice do PSDB e
fazer da eleição uma espécie de todos contra um.
Como se
tivesse de enfrentar um jacaré a cada dia, o governador Geraldo Alckmin já
percebeu que seu campo de manobra está se reduzindo rapidamente. Ele é o líder
disparado em todas as pesquisas de opinião para se reeleger em outubro, mas a
margem de crescimento de sua candidatura pode ter se esticado ao máximo.
Alckmin, simplesmente, ainda não encontrou uma boa notícia sequer para comemorar
em 2014.
No momento,
ele enfrenta estarrecido, sem ter se pronunciado oficialmente, a crise no setor
de segurança aberta pela sequência de 12 assassinatos em Campinas, durante o
final de semana, uma carnificina que pode ter sido cometida por homens da
Polícia Militar. Em rota de colisão, o Ouvidor das Polícias, Fernando Neves,
disse que vê fortes indícios de participação de policiais nos crimes. Irritado,
o secretário de Segurança, Fernando Grella, chamou a avaliação de precipitada e
defendeu "os serviços prestados" pela corporação. A cúpula da
segurança está dividida.
Em Campinas,
segunda maior cidade o Estado, o toque de recolher nos bairros da periferia
ressalta a crescente onda de insegurança que acrescenta ao rico interior
paulista a característica de cada vez mais violento.
Na capital,
onde a queima de ônibus nos bairros também vai se sucedendo aleatoriamente,
Alckmin parece desnorteado pelo fenômeno do rolezinho. Ele tentou adotar uma
posição conciliatória diante das reuniões pacíficas porém numerosas de jovens
em shopping centers, mas, na primeira ação concreta, a PM baixou seus cassetes
e gás lacrimogêneo na turma reunida no shopping Itaquera, no sábado 11. A
repressão considerada desmedida despertou solidariedade, via internet, em
outras cidades, como o Rio de Janeiro.
Agora, o
governador conta as horas até a chegada do próximo final de semana para saber a
dimensão do novo tipo de concentração popular.
Sentado no
barril de pólvora da segurança pública num ano de Copa do Mundo e eleições, Alckmin
igualmente não projeta tranquilidade no campo político. Até o final do ano
passado, as coisas pareciam ir bem para ele. A aliança com o PSB não era
colocada em dúvida, o PMDB dava sinais de que não iria incomodar com um
candidato próprio e o PT sangrava no julgamento da AP 470, com suas bases
paralisadas.
Favorito nas
pesquisas, o governador chegou a achar que poderia ditar o ritmo das alianças
partidárias. Alckmin declarou que iria tratar do assunto apenas em junho, mas
foi atropelado pelos fatos bem antes da data marcada.
Nas vésperas
da virada de ano, a ex-ministra Marina Silva vetou, dentro do PSB, uma
coligação do partido com o PSDB em São Paulo. Para contar com Marina como vice,
o governador Eduardo Campos acatou a determinação, iniciando um afastamento de
Alckmin que não constava dos planos do governador. Num gesto que revelou toda a
sua preocuopação com a perda do aliado, Alckmin ofereceu ao PSB a candidatura a
vice-governador em sua chapa, mas Campos, que enfeixa o poder no partido, não
deu sinal de ter se sensibilizado.
Projetando não
ter o PSB e seu tempo de televisão no horário eleitoral, Alckmin recohece que o
PT tem mais condições do que ele de atrair pequenos partidos para ampliar sua
coligação. Estas alianças deverão aumentar o espaço do pré-candidato Alexandre
Padilha na tevê, além de dar a ele palanques em municípios do interior.
Mais que os
pequenos partidos, Padilha poderá atrair o PSD de Gilberto Kassab. O
ex-prefeito ainda não decidiu se será candidato, mas, em nome da aliança
nacional com o PT, já deixa claro que a opção, em São Paulo, será repetir o
palanque nacional.
O surgimento
do pré-candidato do PMDB, Paulo Skaf, com 15% de intenções de voto na pesquisa
Datafolha, também não foi uma boa notícia para o governador tucano. De perfil
conservador, e pilotando a máquina do sistema S com grande capilaridade no
interior do Estado, Skaf tem tudo para ciscar nas bases do próprio Alckmin,
caso ultrapasse a legislação eleitoral que pune a realização de pré-campanha e
abuso de poder econômico.
Dentro do
PSDB, Alckmin tem de monitorar permanentemente um fantasma chamado José Serra.
Com a situação indefinida no plano nacional, onde espera um tropeço de Aécio
Neves para pleitear o lugar de candidato a presidente, Serra não tem ajudado
Alckmin na convivência com o senador mineiro. Ao contrário, procura boicotar e
esvaziar quaisquer movimentos de apoio efetivo, não comparecendo a reuniões e
disparando farpas em artigos públicos e conversas de bastidores.
O governador
anunciou que fará uma reforma de secretariado, mas na primeira chance anunciou
que não irá mexer nos titulares envolvidos no escândalo Alstom-Siemens, de
formação de cartel e pagamento de propinas, que serão julgados no STF. Mostrou
que a eles está amarrado, por solidariedade, percepção de inocência ou outro
motivo.
Com
dificuldades até mesmo para mexer na própria equipe, Alckmin pode disputar a
eleição com um vice do PTB ou, mais provavelmente, do próprio PSDB.
Do Brasil 247
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