Por luisnassif no GGN
Blog Dag Vulpi -
Mídia e Ministério Público: duas coisas que não têm se misturado bem como água
e óleo: um precisa do outro, mas nenhuma instituição tem sabido dialogar bem
com a outra. A opinião é de Aurélio Rio, Procurador Federal dos Direitos dos
Cidadãos durante o Seminário “A democracia digital e a Justiça”, promovido pelo Jornal
GGN em parceria com a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) nacional.
Grande parte
da mídia e dos jornalistas não entendeu bem o papel do MP depois da
Constituição, diz Rios. “O que tem aparecido com frequência irritante é o
promotor acusador, pedindo a execução da pena de imediato. E a parte criminal
não é a única nem a mais importante função do Ministério Público”, diz ele.
O MP atua
junto à Justiça Eleitoral, em favor das eleições limpas, de candidatos limpos,
de um processo democrático.
Na
Constituinte, houve duas propostas em discussão em relação ao MP.
"Vamos
criar a figura do ombudsman, defensor do povo. Ou aproveitaríamos uma
instituição recém-emponderada, com as mesmas garantias da magistratura, e
emponderava com ação de defesa da sociedade. O Congresso decidiu contra si
mesmo, transferindo para MP a defesa dos direitos da sociedade", conta
Rios.
Os trabalhos
poucos divulgados
Segundo Rios,
hoje em dia há enorme trabalho de cidadania em andamento. Recentemente, o MPF
evitou o despejo de 10 mil pessoas em Uberlândia. “Mas não houve interesse da
mídia em cobrir”. Um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) sobre inclusão
digital permitiu que pessoas com deficiência passassem a utilizar terminais
bancários.
Para Rios, o
problema maior é que os casos criminais sempre atraem mais leitura do que os
demais. Foi assim com o julgamento do mensalão e com o caso Lindbergh nos
Estados Unidos (o sequestro e assassinato do filho de Lindbergh, primeiro
aviador a atravessar o Atlântico). “Desde então, a mídia reproduz esses shows,
como foi o caso Nardoni”, exemplifica ele.
Direito não é
ciência exata, lembra Rios. O risco é quando a cobertura expõe apenas uma
visão, quando mistura juízes e promotores midiáticos sem controle, com o “on”
permanente ligado. Ai é o promotor que virou justiceiro, o juiz que virou
super-herói”, diz ele.
Rios é
incisivo: “O STF não é lugar para super-heróis, mas para juízes com maturidade,
com capacidade de pensar e refletir sobre as consequências de seus atos. O STF
é o último tribunal com direito de errar”.
E aí se chega
aos inconvenientes da divulgação instantânea pela TV Justiça. “É muito ruim,
porque suscita um conflito de vaidades. Causas desimportantes passam a ser
divulgadas com votos longos, quando seria muito mais interessante ouvir-se
apenas o voto do relator, e os demais apresentarem o voto por escrito”.
Os prejuízos
para a imagem do Judiciário não se revelam apenas nos bate-bocas, na
deselegância, “mas na ideia das pessoas de que a justiça é feita de acordo com
a ocasião, com o que a opinião pública indica”. O juiz tem que ter o
afastamento necessário inclusive para julgar contra a corrente, diz Dias. “A
face mais legitima do STF é quando investe contra a maioria para defender
direitos das minorias”, diz ele.
No entanto, em
uma situação de crise, de exposição aguda de imagem, diz ele, é muito difícil
que se julgue com isenção. “Nenhum juiz ou procurador está livre de sua
dimensão humana”, diz Dias.
Hoje em dia se
vê por todos os lados a falta de respeito com relação à pessoa do acusado, à
pessoa detida em poder do Estado. “Quando há réus desimportantes, é pior ainda,
nos programas jornalísticos nos quais os próprios repórteres submetem presos a
vexames’, diz ele.
Há muitos
desafios pela frente. “Como proteger o promotor que vai atuar na área penal,
com a avalanche de jornalistas em cima dele?”, indaga Rios. Isso cria problemas
sérios no campo disciplinar, menos pelo que promotores fazem, mais pelo que
anunciam que irão fazer.
A relação com
a parte vulnerável
Presidente da
Comissão de Direitos Fundamentais do CNMP (Conselho Nacional do Ministério
Público), o procurador Jarbas Soares concorda que a parte mais relevante do
Ministério Público é a de defesa da parte mais vulnerável da sociedade, “aquele
olhar para os lascados, como disse Gilberto Carvalho.
Embora não
seja órgão de atuação, de atividade-fim, o CNMP é o único com
institucionalidade e estrutura nacional para unir todas as unidades do MP – do
Federal aos estaduais.
Seu papel é o
de buscar a unidade e montar projetos nacionais.
Soares destaca
três pilares:
1. Bom
funcionamento dos controle internos: CNMP e corregedorias funcionarem. Com MP
solto e desamparado e cada colega se sentindo o próprio MP sem o mínimo de
unidade, as críticas vão aumentar, e com razão. Haverá novos projetos contra o
MP, como foi a PEC 37.
2. Dispondo de
recursos, e com capacidade de atuar nacionalmente, o CNMP montou um
planejamento estratégico para o próximo ano, contemplando as principais áreas
de atuação com direitos humanos.
3.
Apresentação de resultados.
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