Por José
Roberto Bonifácio*
A primeira
visita oficial de Dilma Rousseff, enquanto presidente da República, permitiu
que, aos poucos se descortinasse o cenário da crise climática do ES e seus
contornos geopolíticos, na relação do setor público estadual com a União e com
as municipalidades, ambas hoje severamente questionadas ou precarizadas.
O que chefe de
Estado viu foi praticamente uma paisagem desolada, típica dum país carente como
Bangladesh, a qual os habitantes do próprio lugar outrora reputavam como
demonstrativa duma visão idílica, quase que européia (mais especificamente
italiana ou alemã) de sua mesma realidade.
Num momento em
que mais de 40 cidades se a cham sob estado de emergência e quase 50 mil pessoas
(quase 2% da população capixaba) se acham desabrigados e tantos outros
deslocados de suas casas e comunidades, a infraestrutura rodoviária (BRs 101, 262 e 259, ES 010 e 040 e outras semi interrompidas nas microrregiões norte e
serrana) praticamente toda comprometida, todo o efetivo dos bombeiros deslocado
para o interior do ES (base eleitoral mais fiel do atual governador),
descobrimos que não há nada tão ruim que não possa ser piorado de algum modo.
O emblemático
caso da ausência do prefeito Rodney Miranda (DEM) de seu município trata-se tão
somente de um entre inúmeros de prefeitos da Grande Vitória e do interior, ausência esta não apenas no sentido físico do termo para a quase maioria dos
administradores municipais...
É licito e
necessário crer que o prefeito de Vila Velha realmente se equivocou ao
interpretar a ameaça e assumiu riscos que não devia. O que é ou vem a ser quase
um crime de responsabilidade civil objetiva do administrador público. É bem
verdade que os gestores da Grande Vitoria tem agido relativamente bem e
eficazmente - exceto VV.
Em função
disto tornou-se alvo da imprensa regional e nacional e assim um veículo
tradicionalmente oligarquico como A Gazeta ataca Rodney mesmo sabendo que isto
mancha a reputação do hartunguismo e olvidando sua própria colaboração na
produção de sua imagem de liderança emergente
Sujeitar VV a
mais um ciclo de instabilidade política, decorrente duma campanha
pró-impeachment, pode ser outro risco artificial, tal qual ocorreu nos anos
1980 e 1990 deixando seqüelas duráveis na gestão urbana e na cultura política.
Mesmo sabendo que ele pode ter incorrido em crime de responsabilidade e numa
infração da Lei Orgânica Municipal não se autoriza a crença de que o interesse
coletivo da municipalidade será melhor servido desta maneira, pois uma operação
politica deste tipo (quase um 3º turno para alguns) termina sem resolver a
questão estrutural presente no cotidiano da sociedade.
De
absolutamente líquida (excessivamente por sinal) e certa temos somente a
constatação de que os riscos políticos aqui no ES, além de artificiais como
diria um célebre sociólogo britânico, são quase que sazonais: se os estados do
Nordeste tem aquilo que o escritor Antonio Callado denominava a "industria
da seca"¹, pode-se dizer que os do Sudeste (particularmente RJ e ES)² tem
a "industria da chuva". Em outras palavras, as elites politicas
destas unidades da federação tem a chance e os meios de transformar a crise
climática na oportunidade de melhorar sua posição na distribuição de recursos
públicos federais alocados em base discricionária ou legalmente determinada
pela União.
Como reportam
inúmeros internautas, e se tornou algo assim muito significativo pela ótica da
desnaturalização do fenômeno, há defeitos surgindo em série por quase todas as
rodovias federais e estaduais. A catástrofe climática se transformou também numa catástrofe logística e de infraestrutura, para não dizer urbana ou habitacional.
Por estas
e outras é que há sempre recorrentemente uma disputa em cima do
ônus e do bônus politico desta crise climática, envolvendo o governador, a
Assembléia Legislativa, os principais partidos políticos da coalizão governante
(notadamente o PT, o PSB e o PDT)³, os prefeitos e a União 4.
Ano apos ano e
ninguém, dentre eleitores e formadores de opinião, aprende a real e complexa
natureza do desastre climático. As elites sabem muito bem o jogo que estão
jogando sabem quando conflitar e quando cooperar. Neste instante o contraste
não poderia ser maior, entre as comoventes imagens natalinas de pessoas de
variadas etnias e classes sociais cooperando e se solidarizando para ajudar os
desabrigados, enquanto as lideranças se digladiam.
O pior mesmo é
perceber que os capixabas (não o povo of course) continuam os raciocinando
feito caranguejos em meio à crise, dado que está aberta a temporada de batalhas
politicas. Escolhas trágicas deverão ser feitas e estão sendo feitas.
Notas:
*Sociólogo
(UFES) e Especialista em Ciência Política (IUPERJ). Professor da da UVERSITA -
Universidade Aberta (SP) e do curso de Pós- Graduação Lato Sensu Gestão de
Instituições sem Fins Econômicos com ênfase em Medidas Sócioeducativas da Faculdade Unidas (ES).
Email: bonifacio78@gmail.com.
Email: bonifacio78@gmail.com.
²Para breves
estimativas, diagnosticos e avaliações iniciais do volume de recursos públicos
envolvidos ver:
³O PT ES
tratou de, imediatamente, reivindicar crédito, pelo restabelecimento da conexão
com Brasília. Senão vejamos a Nota oficial divulgada pela presidencia estadual
da legenda: "A confirmação da vinda da presidenta Dilma é fruto de um
trabalho coletivo de autoridades capixabas, reforçado pela Executiva Estadual
do PT, pela senadora Ana Rita Esgario , pela deputada federal Iriny Lopes, pelo
vice-governador Givaldo Vieira e pela bancada petista estadual. Nós, do PT-ES,
temos a convicção de que a vinda da nossa presidenta irá contribuir ainda mais
para agilizar a liberação de recursos federais para o Espírito Santo neste
grave momento de nossa história."
Da parte do
vereador Eliézer similar manifestação: "Também reconheço e agradeço o
empenho que o nosso vice-governador Givaldo Vieira, que a senadora Ana Rita
Esgário, a deputada federal Iriny Lopes, nossa bancada estadual, da nossa
Executiva Estadual, e nosso presidente João Coser / Presidente do Banco Mundial
surpreende com ideia de padrão-ouro Eleito do PT-ES, em ligar para quase todos
os ministros para que eles fizessem chegar até a presidenta, o momento e a
necessidade da visita ao Espírito Santo."
4 “Só
para termos uma ideia da lentidão e inoperância da Secretaria do Sr. Iranildo
Casado com relação ao convênio n° 668646 para “Desassoreamento e ampliação da
calha do Rio Formate associado a canalização e reservatório de amortecimento de
cheias” publicado em outubro de 2011 no valor de 10,8milhões de reais
(exatamente R$ 10.832.670,94) a Secretaria do Sr. Iranildo Casado utilizou até
o dia 2 de outubro de 2013 a quantia irrisória de 71mil reais (exatos R$
71.496,47).
Mas não só,
dos recursos liberados pelo PAC 2 em 2011 para o Governo do estado do ES
relacionados à “Prevenir novos deslizamentos, contenção de encostas em áreas de
risco, controle de enchente e inundações com obras de drenagem, além da redução
de áreas vulneráveis a deslizamentos” TODOS estão no estágio de “Ação
Preparatória”, ou seja, NENHUM foi iniciado.” (Cf. Font, Emilio)<http://www.aecapixaba.org.br/2013/12/enchentes-em-vila-velha-incompetencia.html#more>.
Na verdade o ataque parte do gabinete da senadora Ana Rita, que ironicamente
chegou ao parlamento como suplente do então atual governador. Evidentemente que
há uma disputa por recursos, funções e cargos mas o problema em tela deriva
mais de falhas gerenciais na elaboração de projetos basicos para obras e
serviços de engenharia - o que é um problema nacional - do que de incapacidade
singular deste ou daquele governo estadual. É bem verdade que o grupo de
interesses das empreiteiras e construtoras que se faz representar pelo
vidigalismo (e em parte pelo coserismo) está sendo fortemente questionado não
somente pelo controle duma área relevante e sensível de planejamento e "fazejamento" mas também pelos equipamentos de logistica e
infraestrutura existente (veja o estado das rodovias e das pontes).Em verdade,
o PT (neste caso a Articulação de Esquerda) mira um secretario do PDT mas acerta
diretamente o governador e sua equipe gerencial. EM cheio ! Este mesmo PT (na
pessoa de Coser e da bancada federal e suas conexões ministeriais) que
reivindica credito por atrair Dilma ao ES pela primeira vez apos eleita. Aos
que assistiram a entrevista da Dilma na TV Tribuna - quase simultanea ao
pronunciamento oficial de Casagrande na TV Gazeta - ficou claro que ela
empurrou as responsabilidades mais onerosas para a conta do governador:
"nos mandamos tudo que eles pediram!" Em menos de 24 hs foram três
golpes certeiros na administração estadual - e consequentemente no partido de
Eduardo Campos -, de modo que a coalizão PT/PSB está praticamente em guerra
fratricida a pártir deste momento. Contudo esta batalha ainda trará inúmeros rounds e idas e vindas.
5 Da parte da
mídia estadual, a visita permitiu suplantar o foco de atenção sobre o
delegado-prefeito e investir numa nova (velha) temática que acentua a baixa
votação da presidente no estado e o que se atribui como reação a isto : ES é um
dos estados que menos recebeu verba de prevenção de desastres em 2013. Estado
recebeu R$ 13,6 milhões, contra R$ 400 milhões de Pernambuco
http://bit.ly/1gURVqz
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