Por Selma
Quaresma no GGN
Mesmo com um
déficit previdenciário correspondendo a 17,5% da dívida pública do governo (até
agosto), os recursos beneficiários têm ajudado a tirar um grande contingente de
idosos da pobreza. Entretanto, se não houver uma mudança no sistema
previdenciário nos próximos anos a Previdência se tornará um problema no longo
prazo principalmente pelo impacto fiscal.
Este alerta
vem inclusive de um interessante estudo “Melhores Aposentadorias, Melhores
Trabalhos”, divulgado por economistas do Banco Interamericano de
Desenvolvimento na semana passada. No estudo traçam uma radiografia detalhada
do sistema previdenciário dos países da América Latina e Caribe e seu impacto
na redução da pobreza de idosos.
Para se
entender o cenário, basta saber que o crônico déficit da previdência social
atingiu R$ 11,763 bilhões em setembro, que é o resultado da diferença entre R$
36,788 bilhões de despesas com benefícios e uma arrecadação de R$ 25, 025
bilhões. Acumulado em 2013, o déficit atinge R$ 48,042 bilhões, resultado das
despesas de R$ 264,337 bilhões e receitas de R$ 216,295 bilhões. Os números são
do Regime Geral de Previdência Social (RGPS).
Em relação ao
PIB o déficit acumulado em 2013 até setembro está em 1,4% e as despesas com
seguridade social representam 7,5% do PIB.
Apesar de na
média os valores dos benefícios serem baixos – na faixa de R$ 961,37 em
setembro, o sistema pagou neste mês 30,821 milhões de benefícios sendo que
destes, 17,4 milhões são de aposentadorias. Houve um aumento de 3,5% de
benefícios em setembro em relação ao mesmo mês do ano passado.
No estudo em
questão, evidencia-se que o Brasil é tido como o regime de previdência mais
generoso e com grande cobertura (incluindo aposentadorias e benefícios
não-contributivos – aqueles financiados por impostos em geral) entre os países
abrangidos no estudo e foi o que o mais reduziu a pobreza entre os idosos.
Conforme tabela acima, comparando o Brasil com países da região de mesmo nível
de renda, por exemplo, a Venezuela, ele tem apenas 3,5% de pobres entre a
população de mais de 65 anos de vida enquanto a Venezuela tem 19,4%. Isso
porque 84,7% dos brasileiros desta faixa etária estão cobertos pela Previdência
e na Venezuela são apenas 41,5%.
O estudo
aponta que um bom sistema previdenciário com ampla cobertura permite que a
pobreza diminua de forma notável. Pela tabela, avaliando todos os dados da
região observa-se que os idosos não são os mais pobres dentro de um país.
Experiências
da Argentina, Bolívia, Brasil e Chile mostram, segundo o trabalho do BID, que é
possível eliminar a pobreza na velhice através de uma cobertura universal. No
entanto, isto demanda grandes mobilizações de recursos e como não há fontes
adicionais de financiamentos os Estados transferem para a previdência recursos
importantes que poderiam ser investidos em infraestrutura, saúde e educação;
como aponta a tabela abaixo
Por isso,
segundo o estudo, “do ponto de vista do desenvolvimento econômico do país,
destinar grandes recursos do orçamento para gasto com previdência pode não ser
o mais eficiente.” Para os economistas do BID é “provável que investimentos em
saúde, educação e infraestrutura, setores em que a região está atrasada, tenham
alcance muito maior no sentido de promover o crescimento da economia de longo
prazo e beneficiar as gerações futuras”.
A Previdência
pode se tornar um problema no futuro primeiro porque houve um aumento na
expectativa de vida do brasileiro. Segundo a última Tábua de Mortalidade do
IBGE, esta expectativa subiu 11 anos num período de 30 anos. Entre 1980 a 2010
foi de 62,5 anos para 73,8 anos.
Com
expectativa de vida maior e com o brasileiro se aposentando cada vez mais cedo,
nem o fator previdenciário – que em sua fórmula considera a idade, o tempo de
contribuição e a expectativa de vida, onerando as pessoas que se aposentam mais
cedo –, conseguirá compensar a pressão fiscal que trará nos próximos
anos.
Logo, é
fundamental um sistema de aposentadorias sustentável. A pessoa vai viver
até os 75 anos ou mais, para de trabalhar aos 45 anos e esperar receber o
salário integral. Isto não se sustenta.
Nesse sentido
o trabalho do BID também aponta um problema fiscal. Nas próximas décadas os
idosos (acima de 65 anos) constituirão entre 20% e 30% do eleitorado da região
(América Latina e Caribe) em 2050. Suas demandas para expansão do regime
previdenciário criarão pressões política e serão determinantes para a eleição
de um governante.
O Estado tem
vários desafios pela frente: criar um sistema de adequado para transferir
poupança presente para poupança futura através do mercado trabalho; administrar
o conflito existente entre expandir os benefícios mais reduzir a pobreza
versus o peso fiscal que isto causa e promover o crescimento econômico
investindo grandes recursos em educação, saúde e infraestrutura e não –somente
benefícios sociais.
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