Em tom
cuidadoso, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto
Carvalho, alertou hoje (18) que os representantes do Poder Público precisam
estar atentos às novas formas de manifestação popular que tem tomado conta do
país nos últimos dias no país. Segundo ele, a adesão ampla e massiva da
população em diversas capitais na tarde e noite de ontem comprova um
“descontentamento geral”.
“Seria
pretensão achar que a gente compreende o que está acontecendo. Temos que
entender a complexidade do que está ocorrendo”, disse Carvalho ao destacar a
existência de motivações variadas e de múltiplas lideranças no movimento
que tomou as ruas de diversas cidades. Durante uma audiência pública na Comissão
do Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle do Senado
Federal, Gilberto Carvalho explicou que o governo está acostumado a lidar com
manifestações organizadas em torno de carros de som, que têm uma liderança com
quem negociar. Por isso, o atual processo é complexo e o governo precisa
estabelecer uma nova forma de diálogo.
Ainda assim,
Gilberto Carvalho reconheceu problemas, como o de mobilidade urbana, nas
grandes cidades. O ministro citou, por exemplo, o caso da capital paulista
onde, segundo ele, a frota de transporte coletivo é a mesma de dez anos, apesar
de o número de usuários ser muito maior. Carvalho disse que o transporte é uma
questão de responsabilidade dos estados e municípios e que o governo federal
está dialogando com as administrações locais para tentar chegar a uma solução.
Segundo ele, o
Executivo também está procurando identificar as críticas que devem ser
solucionadas pela União que, a princípio, esbarram em questões éticas. O
ministro disse que o Palácio do Planalto tem estimulado o fortalecimento de
instituições de controle e investigação, como a Polícia Federal e a
Controladoria-Geral da União. "Fazemos autocrítica sempre. A cada
manifestação o governo abre o diálogo. O governo segue apoiado por uma ampla
maioria e cumpre o plano de governo que foi vitorioso."
Carvalho
acrescentou que, nas conversas com grupos de jovens, os manifestantes
declararam que querem mais conquistas e inclusão.
“Os jovens
diziam que o [Estádio Nacional] Mané Garrincha fica a poucos quilômetros do
Hran [Hospital Regional da Asa Norte, unidade pública de Brasília] que está
cheio de problemas. Se não formos sensíveis, vamos ficar na contramão da
história”, alertou. “Estamos na emergência de vontade clara de participação
variada. Nem nos nossos tempos colocamos 100 mil pessoas nas ruas como vimos
ontem.”
O ministro
lembrou que, no sábado, em Brasília, deixou de ver o jogo para tentar conversar
com manifestantes e entender a pauta de manifestações. Ontem, ele se reuniu com
grupos menores de jovens para dar continuidade aos diálogos. “São novas formas
de organização e mobilização que nós, da geração de 1970 e 1980, não
conhecíamos. As redes sociais, a vontade de participação que sai do Facebook
para a prática, traz um novo repertório”, disse.
Na avaliação
de Carvalho, a multiplicidade de grupos se expressou claramente no
comportamento dos manifestantes. Segundo ele, ficou evidente que a grande
maioria se expressou pacificamente, mas que um grupo menor de manifestantes
extrapolou em São Paulo, Brasília e no Rio de Janeiro. “Nós, em contato com
governadores, falamos que aquele era o limite. Não se permite a entrada no
Congresso Nacional ou no Palácio dos Bandeirantes”, explicou, destacando que
assim como é lícita a manifestação da população nas ruas, é lícita a atuação da
polícia na proteção de prédios públicos.
Para Gilberto
Carvalho, desde as primeiras manifestações, a polícia teve comportamentos
diferenciados. “Primeiro foi tolerante. Num segundo momento, houve excesso e
ontem, foi tolerante. Em São Paulo, a polícia foi exemplar ontem, assim como em
Brasília, onde, no sábado, detectamos o uso de balas de borracha, mas teve
intervenção do governador e ontem o processo foi conduzido de maneira
adequada”, avaliou.
Agencia Brasil
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