A Holanda
começa a provar o amargo da austeridade que o seu
ministro das
Finanças quer aplicar em toda a Europa.
Foto By Rijksoverheid.nl [CC0], via Wikimedia Commons
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A bolha
imobiliária estourou, o país está em recessão, o desemprego sobe e a dívida dos
consumidores é 250% do rendimento disponível. O grande aliado da Alemanha na
imposição da austeridade por todo o continente começa a provar o amargo da sua
própria receita. Por Matthew Lynn, El Economista
Que país da
zona euro está mais endividado? Os gregos esbanjadores, com as suas generosas
pensões estatais? Os cipriotas e os seus bancos repletos de dinheiro sujo
russo? Os espanhóis tocados pela recessão ou os irlandeses em falência? Pois
curiosamente são os holandeses sóbrios e responsáveis. A dívida dos
consumidores nos Países Baixos atingiu 250% do rendimento disponível e é uma
das mais altas do mundo. Em comparação, a Espanha nunca superou os 125%.
A Holanda é um
dos países mais endividados do mundo. Está mergulhada na recessão e demonstra
poucos sinais de estar a sair dela. A crise do euro arrasta-se há três anos e
até agora só tinha infetado os países periféricos da moeda única. A Holanda, no
entanto, é um membro central tanto da UE quanto do euro. Se não puder
sobreviver na zona euro, estará tudo acabado.
O país sempre
foi um dos mais prósperos e estáveis de Europa, além de um dos maiores
defensores da UE. Foi membro fundador da união e um dos partidários mais entusiastas
do lançamento da moeda única. Com uma economia rica, orientada para as
exportações e um grande número de multinacionais de sucesso, supunha-se que
tinha tudo a ganhar com a criação da economia única que nasceria com a
introdução satisfatória do euro. Em vez disso, começou a interpretar um guião
tristemente conhecido. Está a estourar do mesmo modo que a Irlanda, a Grécia e
Portugal, salvo que o rastilho é um pouco mais longo.
Bolha
imobiliária
Os juros
baixos, que antes do mais respondem aos interesses da economia alemã, e a
existência de muito capital barato criaram uma bolha imobiliária e a explosão
da dívida. Desde o lançamento da moeda única até o pico do mercado, o preço da
habitação na Holanda duplicou, convertendo-se num dos mercados mais sobreaquecidos
do mundo. Agora explodiu estrondosamente. Os preços da habitação caem com a
mesma velocidade que os da Flórida quando murchou o auge imobiliário americano.
Atualmente, os
preços estão 16,6% mais baixos do que estavam no ponto mais alto da bolha de
2008, e a associação nacional de agentes imobiliários prevê outra queda de 7%
este ano. A não ser que tenha comprado a sua casa no século passado, agora
valerá menos do que pagou e inclusive menos ainda do que pediu emprestado por
ela.
Por tudo isso,
os holandeses afundam-se num mar de dívidas. A dívida dos lares está acima dos
250%, é maior ainda que a da Irlanda, e 2,5 vezes o nível da da Grécia. O
governo já teve de resgatar um banco e, com preços da moradia em queda
contínua, o mais provável é que o sigam muitos mais. Os bancos holandeses têm
650 mil milhões de euros pendentes num sector imobiliário que perde valor a
toda a velocidade. Se há um facto demonstrado sobre os mercados financeiros é
que quando os mercados imobiliários se afundam, o sistema financeiro não se faz
esperar.
Profunda
recessão
As agências de
rating (que não costumam ser as primeiras a estar a par dos últimos
acontecimentos) já se começam a dar conta. Em fevereiro, a Fitch rebaixou a
qualificação estável da dívida holandesa, que continua com o seu triplo A,
ainda que só por um fio. A agência culpou a queda dos preços da moradia, o
aumento da dívida estatal e a estabilidade do sistema bancário (a mesma mistura
tóxica de outros países da eurozona afetados pela crise).
A economia
afundou-se na recessão. O desemprego aumenta e atinge máximos de há duas
décadas. O total de desempregados duplicou em apenas dois anos, e em março a
taxa de desemprego passou de 7,7% para 8,1% (uma taxa de aumento ainda mais
rápida que a do Chipre). O FMI prevê que a economia vai encolher 0,5% em 2013,
mas os prognósticos têm o mau costume de ser otimistas. O governo não cumpre os
seus défices orçamentais, apesar de ter imposto medidas severas de austeridade
em outubro. Como outros países da eurozona, a Holanda parece encerrada num
círculo vicioso de desemprego em aumento e rendimentos fiscais em queda, o que
conduz a ainda mais austeridade e a mais cortes e perda de emprego. Quando um
país entra nesse comboio, custa muito a sair dele (sobretudo dentro das fronteiras
do euro).
Até agora, a
Holanda tinha sido o grande aliado da Alemanha na imposição da austeridade por
todo o continente, como resposta aos problemas da moeda. Agora que a recessão
se agrava, o apoio holandês a uma receita sem fim de cortes e recessão (e
inclusive ao euro) começará a esfumar-se.
Os colapsos da
zona euro ocorreram sempre na periferia da divisa. Eram países marginais e os
seus problemas eram apresentados como acidentes, não como prova das falhas
sistémicas da forma como a moeda foi estruturada. Os gregos gastavam
demasiado. Os irlandeses deixaram que o seu mercado imobiliário se
descontrolasse. Os italianos sempre tiveram demasiada dívida. Para os
holandeses não há nenhuma desculpa: eles obedeceram a todas as regras.
Desde o início
ficou claro que a crise do euro chegaria à sua fase terminal quando atingisse o
centro. Muitos analistas supunham que seria a França e, ainda que França não
esteja exatamente isenta de problemas (o desemprego cresce e o governo faz o
que pode, retirando competitividade à economia), não deixa de continuar a ser
um país rico. As suas dívidas serão altas mas não estão fora de controlo nem
começaram a ameaçar a estabilidade do sistema bancário. A Holanda está a chegar
a esse ponto.
Talvez se
tenha de esperar um ano mais, talvez dois, mas a queda ganha ritmo e o sistema
financeiro perde estabilidade a cada dia. A Holanda será o primeiro país
central a estourar e isso significará demasiada crise para o euro.
Matthew Lynn é
diretor executivo da consultora londrina Strategy Economics.
Publicado
originalmente em El Economista
Via Facebook...
ResponderExcluirO alarmismo do artigo não condiz com os dados que ele mesmo apresenta. Fala em explosão da bolha imobiliária e cita que os preços estão 16% abaixo do seu ponto mais alto, em 2008. Não me parece ser tão crítico assim. As agências podem rebaixar a sua nota de AAA para AA+ (igualzinho a dos americanos) o que também não seria uma grande tragédia. Ele faz uma predição arriscada, a Holanda irá estourar e arrastará o euro junto.
Como o autor é diretor de uma consultora e até agora parece ser o único que enxergou a catástrofe, seria bom perguntar se a sua clientela está vendendo posições em euro para comprar posições em dólares. Seria o famoso jabá. Eu coloco muitas reservas em relação ao conteúdo do artigo.
Marco Lisboa
Via Facebook...
ResponderExcluirNota: No Brasil o FHC acaba de formar uma empresa com os seus antigos ministros para "investir" no mercado imobiliário. Isso, segundo ele, porque não há mais lucro nas aplicações em renda fixa. Agora imagine essa tchurma se não é capaz de fazer crescer uma bolha imobiliária e estoura-la de propósito, tal o rancor que têm deste governo.
Marcos Rebello