terça-feira, 11 de junho de 2013

Amado Batista e a síndrome de Estocolmo

Nota do Editor  de Direto da Redação .

A propósito da participação do cantor Amado Batista no programa de Marilia Gabriela, quando afirmou  "que mereceu ser torturado durante a ditadura militar",  objeto do artigo  “Amado Batista e a Tortura”, de Urariano Mota, publicado aqui em 27 de maio último (confira aqui), recebemos do médico psicoterapeuta Meraldo Zisman, algumas considerações sobre a chamada Síndrome de Estocolmo. Leia a seguir.

 A Síndrome de Estocolmo (Stockholmssyndromet, em sueco) é um distúrbio mental apresentado por pessoas que foram vítimas de seqüestro ou de torturas. Expressão foi cunhada pelo psiquiatra e criminologo Nils Bejerot, que ajudou a polícia durante o assalto ao Banco Kreditbanken, ocorrido em 1973, em Estocolmo, na Suécia.

Neste sentido, pela primeira vez, conseguiu-se registrar como o “Eu” da pessoa vitimada buscava se moldar a algumas características do sequestrador/torturador, como um mecanismo de defesa, ou, segundo explica a Psicologia, como uma expiação de culpas inconscientes.


A mídia destacava o fato de que, após o resgate, as vítimas, em seus depoimentos, pareciam simpatizar com os criminosos, destacando certas gentilezas recebidas da parte dos seus captores, que os mantiveram em cárcere privado, no interior de uma agência bancária cercada pela polícia, por mais de seis dias. Isto permaneceu como um fator inexplicável. Soube-se que uma das vítimas se casou com um dos assaltantes; e que, outro integrante do bando, durante a permanência no cárcere, recebia cartas apaixonadas de uma refém.

Trabalhos posteriores, sobre a relação de parceria/afinidade entre vítimas e agressores, ou seja, torturados e torturadores, passaram a ser pesquisados em outras condições, a exemplo de cenários de guerras, com sobreviventes de campos de concentração, indivíduos que foram submetidos à prisão domiciliar por parte de familiares, vítimas de abusos de diversas ordens, e mulheres e crianças submetidas à violência doméstica.

Como pediatra, muitas vezes, pude observar, na ocasião dos depoimentos, crianças e adolescentes que foram barbaramente agredidas pela mãe, pelo pai, ou por um adulto responsável por sua guarda, defenderem o/a agressor (a).

Com o tempo, o(a) torturador(a) começa a parecer menos ameaçador(a), em outras palavras, aparenta ser, menos que de danos, mais um instrumento de sobrevivência e de proteção. A vítima passa a sofrer, então, uma ilusão auto imposta, em uma tentativa de sobrevivência psicológica, além de física. E, a fim de reduzir o inimaginável stress de sua situação, começa a acreditar que o(a) torturador(a), agressor(a), carcereiro(a) é seu(ua) amigo(a), que não a matará, e que ambos podem se ajudar mutuamente.

Desse modo, as pessoas do lado de fora, que se esforçam para resgatar os reféns, parecem-lhes mais ameaçadoras que os próprios criminosos.


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