Nota do Editor de Direto da Redação .
A propósito
da participação do cantor Amado Batista no programa de Marilia Gabriela,
quando afirmou "que mereceu ser torturado durante a ditadura
militar", objeto do artigo “Amado Batista e a Tortura”,
de Urariano Mota, publicado aqui em 27 de maio último (confira aqui),
recebemos do médico psicoterapeuta Meraldo Zisman, algumas considerações sobre
a chamada Síndrome de Estocolmo. Leia a seguir.
A
Síndrome de Estocolmo (Stockholmssyndromet, em sueco) é um distúrbio mental
apresentado por pessoas que foram vítimas de seqüestro ou de torturas.
Expressão foi cunhada pelo psiquiatra e criminologo Nils Bejerot, que ajudou a
polícia durante o assalto ao Banco Kreditbanken, ocorrido em 1973, em
Estocolmo, na Suécia.
Neste sentido,
pela primeira vez, conseguiu-se registrar como o “Eu” da pessoa vitimada
buscava se moldar a algumas características do sequestrador/torturador, como um
mecanismo de defesa, ou, segundo explica a Psicologia, como uma expiação de
culpas inconscientes.
A mídia
destacava o fato de que, após o resgate, as vítimas, em seus depoimentos,
pareciam simpatizar com os criminosos, destacando certas gentilezas recebidas
da parte dos seus captores, que os mantiveram em cárcere privado, no interior
de uma agência bancária cercada pela polícia, por mais de seis dias. Isto
permaneceu como um fator inexplicável. Soube-se que uma das vítimas se casou
com um dos assaltantes; e que, outro integrante do bando, durante a permanência
no cárcere, recebia cartas apaixonadas de uma refém.
Trabalhos
posteriores, sobre a relação de parceria/afinidade entre vítimas e agressores,
ou seja, torturados e torturadores, passaram a ser pesquisados em outras
condições, a exemplo de cenários de guerras, com sobreviventes de campos de
concentração, indivíduos que foram submetidos à prisão domiciliar por parte de
familiares, vítimas de abusos de diversas ordens, e mulheres e crianças
submetidas à violência doméstica.
Como pediatra,
muitas vezes, pude observar, na ocasião dos depoimentos, crianças e
adolescentes que foram barbaramente agredidas pela mãe, pelo pai, ou por um
adulto responsável por sua guarda, defenderem o/a agressor (a).
Com o tempo,
o(a) torturador(a) começa a parecer menos ameaçador(a), em outras palavras,
aparenta ser, menos que de danos, mais um instrumento de sobrevivência e de
proteção. A vítima passa a sofrer, então, uma ilusão auto imposta, em uma
tentativa de sobrevivência psicológica, além de física. E, a fim de reduzir o
inimaginável stress de sua situação, começa a acreditar que o(a) torturador(a),
agressor(a), carcereiro(a) é seu(ua) amigo(a), que não a matará, e que ambos
podem se ajudar mutuamente.
Desse modo, as
pessoas do lado de fora, que se esforçam para resgatar os reféns, parecem-lhes
mais ameaçadoras que os próprios criminosos.
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Dag Vulpi