A bronca dos
tucanos paranaenses acerca da Medida Provisória 595, a MP dos Portos, não é contra
a privatização ou concessão de área portuária à iniciativa privada ou contra a
precarização da mão de obra dos trabalhadores. Muito pelo contrário. A briga é
pelo butim. A disputa é por quem privatiza primeiro e “melhor”.
O líder do
governo Beto Richa (PSDB) na Assembleia Legislativa do Paraná, deputado Ademar
Traiano, conhecido pitbull do Palácio Iguaçu, em novo artigo de opinião
provocativo, diz que os portos brasileiros estão à deriva e — como não poderia
ser diferente — culpa o governo Dilma Rousseff com o intuito de atingir a
ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, virtual adversária de seu chefe
em 2014.
A retórica do
tucanato paranaense com essa conversa de “cerca-lourenço” tem apenas um
objetivo: tirar do governo federal o poder de realizar as licitações de
concessão dos portos; o governo do PSDB, no Paraná, quer a atribuição de
privatizar, a exemplo do que já fizeram com as rodovias impondo caríssimos
pedágios e que tentaram com a privatização bilionária de 171 serviços públicos
(esta última barrada graças à pressão da sociedade).
Postagem feita originalmente no blog do Esmael
A seguir, a íntegra do artigo de Ademar Traiano:
Portos
à deriva
Ninguém tem
dúvida de que o sistema portuário brasileiro precisa de ajustes. Se faltasse um
argumento de peso, para fundamentar essa certeza, ele veio com a decisão de
importadores chineses de cancelar encomendas de 2 milhões de toneladas sob a
alegação que os portos brasileiros produzem atrasos na entrega das mercadorias.
O problema é
decidir sobre qual o caminho para desatar esse nó. O governo Dilma Rousseff,
com autoritarismo característico, lançou a Medida Provisória 595, que trata do
sistema portuário. Entre outras novidades nefastas essa MP provoca a perda de
autonomia dos Estados.
Na prática a
MP é mais um elemento de centralismo, o contrário da democracia federativa. O
governo federal dá as costas para a sociedade, ignora lideranças políticas, dos
trabalhadores e dos empresários, agindo por conta própria e em nome do
interesse de poucos.
Só a ameaça de
greve sensibilizou o governo. Depois de proclamar que, nem uma vírgula da MP
seria mexida o governo recuou, temendo um confronto com os portuários, que
teriam seus direitos agredidos. Para apaziguá-los, até uma bolsa-estiva saiu da
cartola do governo.
Um sistema de
outorga centralizado causaria, entre outras consequências, atrasos na conclusão
do planejamento; distanciamento da realidade local; falta de critério no
estabelecimento de prioridades; falta de agilidade na preparação de licitações;
influência política ou concorrência na prioridade dos procedimentos entre
portos e, por fim, falta de agilidade nas licitações.
A falta de
autonomia, por sua vez, colocará todos os portos em condição padrão (em tese,
todos ruins ou todos bons). Mas como os portos têm peculiaridades regionais,
podemos planejar algo que é bom para um e pode não ser bom para outro, que tem
perfil vocacional diferente.
Também acabará
com a concorrência entre administrações portuárias (existe em função do empenho
político de cada gestão); o administrador local servirá somente de balcão de
reclamações, existindo apenas para dirimir entraves operacionais.
Iremos
retroagir ao tempo da Portobras- Empresa Brasileira de Portos S.A., que foi
extinta pela inépcia e em meios a diversos escândalos de corrupção; a
centralização obrigará a criação de uma nova estrutura organizacional que
inicialmente ficará centralizada e em segundo momento serão criadas filiais e
escritórios no país todo se sobrepondo a estrutura existente.
A MP 595 dá
mais poder a Antaq, que ganhou notoriedade pela incompetência e pelos
escândalos. O último deles é o envolvimento no Rosegate, em que apadrinhados da
amiga íntima de Lula, Rosemery Noronha, faziam escandaloso tráfico de
influência.
O sistema
brasileiro nos últimos 20 anos estabeleceu que os portos tivessem autonomia e
com isso precisam ter capacidade financeira própria. Este é o caso de Paranaguá
que, exceto investimentos pesados de longo prazo, é autosuficiente. Com a
centralização, teremos o retrocesso desta grande conquista, a sociedade pagará
a conta.
Com eficiência
e competência, o Porto de Paranaguá bateu recorde na movimentação, com 44
milhões de toneladas em 2012. As exportações somaram 28,5 milhões de toneladas,
12% maior que em 2011. Em receita cambial, foram gerados quase US$ 18,6 bilhões
– US$ 1 bilhão a mais que em 2011. O volume importado foi 15,6 milhões de
toneladas, 4% maior que o registrado em 2011.
Paranaguá
pode, sim, continuar a atender a demanda da produção paranaense e de estados e
países vizinhos, com bons serviços e com preços competitivos inclusive no
mercado internacional. Novos ajustes logísticos nos permitem atingir 47 milhões
de toneladas. O que sempre faltou foi Brasília fazer sua parte na
infraestrutura.
O Paraná tem
dezenas de projetos de investimentos no setor, que agora dependem da boa
vontade e da conhecida eficiência de Brasília, que, todos sabemos, não primam
pela agilidade. Será um entrave ao maior desenvolvimento econômico e social de
todo o país. A MP 595, da forma como foi imposta, introduz novo e grave
elemento de insegurança jurídica na economia brasileira.
Só um
incurável otimista pode acreditar que a centralização em Brasília da questão
portuária vai resolver os dramáticos gargalos logísticos que vem estrangulando
o setor. Levar a conhecida inépcia administrativa do governo federal para um
setor já problemático como o dos portos é um convite para o desastre. Uma crônica
de um desastre anunciado.
Ademar Traiano*
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