Por Rodrigo
Haidar*
“Algum colega
que tenha o telefone celular do Min. Joaquim Barbosa pode compartilhar, para
que possamos ligar ou mandar um SMS desejando-lhe bom dia assim que cada um de
nós acordar?”. A sugestão foi feita pelo advogado Isley Dutra, de Brasília,
diante da notícia da piada feita
pelo presidente do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça,
Joaquim Barbosa, em sessão do CNJ da terça-feira (14/5).
“O problema é
que Douto colega pode acabar acordando Vossa Excelência, pois ele só acorda
depois das 12 horas...”, respondeu Rogério Fedrigo. O debate foi feito em
comunidade de advogados de Brasília, batizada de OAB-DF, no Facebook. Alguns em
tom de galhofa, outros visivelmente ofendidos, advogados fizeram da piada do
ministro Barbosa o assunto dos dois últimos dias nas redes sociais.
Na página da
OAB Jovem da seccional fluminense da OAB, os advogados publicaram uma foto o
ministro em que parece estar cochilando no plenário do Supremo. Com a frase:
“Acordo cedo, mas durmo no plenário”.
O advogado
João Marcelo Peixoto lembrou que, por ser profissional liberal, tem autonomia
sobre seu horário de trabalho: “Eu acordo a hora que quiser. Sou autônomo. Não
tenho uma sinecura estatal, para fazer dela palanque contra quem honestamente
empreende neste País... Não tenho 13º, 14º, 15º salários, não possuo prebenda
federal. Agora o “Estado”, na figura de certos agentes, ainda quer tirar onda
das minhas horas de sono. Ah, vá...”.
No Twitter, as
reações não foram diferentes. Diante da notícia, o vice-presidente do Conselho
Federal da OAB, Claudio Lamachia, protestou: “Até parece que somos nós que
temos dois meses de férias! Para nós, que temos prazos a cumprir, não sobra
tempo para piadas”. Helena Costa Franco, advogada gaúcha, emendou: “E que não
marcamos audiências nem segunda, nem sexta”. O advogado mineiro Silvio Tarabal
fez coro: “Daqui a pouco vai dizer que os advogados têm 60 dias de férias,
motorista, carga horária de 6 horas/dia, 13º, 14º e 15º...”.
Na
quarta-feira (15/5) e nesta quinta (16/5), o assunto ainda repercutia no
Facebook. No grupo da OAB-DF, o advogado Délio Lins e Silva Júnior pediu
desculpas ao presidente do Supremo por ter acordado e não lhe dar bom dia.
“Desculpe Ministro Joaquim por não ter dado bom dia mais cedo. Que falta de
educação a minha. É que hoje acordei às 6:30 (juro que é verdade) para dar uma
corridinha; depois tomei banho e tive que chegar às 8 na faculdade que dou
aula. Com isso, é verdade, só chegarei após 11 horas no escritório. É a vida,
né. Aliás, agora que percebi mais uma possível falta de educação minha: está
muito cedo para me dirigir a Vossa Excelência? Se estiver fica registrado mais
esse pedido de desculpas. Pode responder mais tarde”, escreveu. Até às 14h30 desta
quinta, 106 advogados tinham curtido o comentário de Délio.
Daniela
Teixeira, secretária-geral da OAB-DF, também deixou seus registros. “Bom dia,
Joaquim! Os advogados daqui de casa já começaram com seus afazeres, às 5:50 da
manhã. E o senhor?”, perguntou. E diante de outro comentário publicado por um
colega durante a madrugada, Daniela escreveu: “Por ordem expressa de S. Exa. o
magnânimo Joaquim, volte para a cama! Agora! Advogado só trabalha depois das
11:00”.
O advogado
Celso Fioravante Rocca, de São Carlos, cidade do interior paulista, levou o
assunto a sério e disse ter saudades do tempo de um colega de Barbosa, o
ministro Gilmar Mendes: “A natureza ditatorial de JB não pode ser escondida,
mesmo sob o manto de brincadeiras fora de hora — saudades de Gilmar Mendes,
quem diria!”.
Ibaneis Rocha,
presidente da OAB-DF, também se mostrou contrariado com a piada de Joaquim
Barbosa. Classificou a frase como infeliz, disse que o ministro deveria acordar
mais cedo para julgar os processos que lhe cabem e emitiu uma nota de repúdio
no site da entidade.
“O ministro
Joaquim Barbosa, mais uma vez, utiliza o cargo que ocupa para atingir
gratuitamente aqueles que sempre estiveram ao lado da cidadania e da
democracia, sem lembrar que foram sempre os advogados brasileiros que acordaram
cedo para os destemperos antidemocráticos, como os que vemos reverberar da boca
e das ações pensadas de Sua Excelência. Demonstra o desconhecimento total da
atividade laboral, da responsabilidade técnica e profissional que recai sobre
os ombros firmes dos advogados. Deveria estar preocupado em levantar cedo e
julgar os inúmeros processos de seu gabinete, muitos parados há anos”, afirmou
Rocha.
Na sessão em
que a piada de Barbosa foi feita, o secretário-geral da entidade, Cláudio de
Souza Neto, riu amarelo, mas riu, da afirmação, segundo advogados presentes.
Depois, emendou uma defesa da categoria. Há reclamações de que deveria ter sido
mais incisivo.
Ainda nas
redes sociais, há até quem tente compreender o ministro Joaquim Barbosa. Para a
advogada Fernanda Lopes, de Brasília, o ministro deve andar aborrecido assim
porque ele prevê que “nessa republiqueta que é nosso país, que os homens que
ele tanto teve esforço para condenar continuam aí debochando e assim ficarão”
por muito tempo. Segundo a advogada, “ignorar os devaneios do ministro é a
melhor coisa a se fazer, deve ser difícil tanto esforço por nada. Ofender a
classe é o melhor que ele pode fazer para não cair no esquecimento”.
Nesta quinta,
Diogo Melim postou no Facebook o e-mail do gabinete de Barbosa, com a seguinte
sugestão: “Esse é o e-mail do gabinete de Joaquim Barbosa. Sugiro a todos que,
ao acordarem, enviem um BOM DIA ao Ministro; coisa rápida, por celular mesmo.
Cansei das agressões gratuitas. Agora eu quero incomodar. Começo amanhã e vou
me identificar pela OAB no e-mail. Abraços a todos”.
Mas nem só de
críticas ao ministro vivem os advogados. Alguns defendem as afirmações de
Barbosa. Diante da sugestão de Melim, Alessandra de La Veja agradeceu: “Nossa,
vou enviar um AGRADECENDO pelos préstimos dele para com o Brasil! Grata, Diogo
Melim!”.
Rodrigo
Haidar* é editor da revista Consultor Jurídico em Brasília.
Revista Consultor
Jurídico
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