segunda-feira, 15 de abril de 2013

O perigo do fundamentalismo religioso


Por Antonio Tozzi  
Muitos cristãos ficam horrorizados com os fanáticos religiosos muçulmanos que amarram bombas no corpo e se lançam contra um grupo de pessoas matando os alvos visados e levando junto vários inocentes, além do próprio suicida, que se sacrifica em nome de Alá e do profeta Maomé.

Realmente isto é algo sem nenhum sentido, mas os fanáticos cumprem a missão por terem sofrido lavagem cerebral nas madras islâmicas. Ou seja, a falta de instrução misturada com a baixa perspectiva profissional e com o fanatismo religioso produz uma receita azeda para a maioria das pessoas sensatas.

Entretanto, os cristãos também pecam por tomar atitudes extremas. Se recorrermos a outras épocas, veremos que na Idade Média os católicos ferrenhos foram responsáveis por atos ignominiosos praticados contra os judeus, torturando-os para que se convertessem ao cristianismo. Aqui nos Estados Unidos, no início do século passado, homens brancos, protestantes, formaram um dos mais abonimáveis grupos sectários, a Ku Klux Kan, que se dedicou a castigar os negros, considerando-os membros de uma sub-raça.

Os judeus que, segundo a Bíblia, formavam um povo perseguido e foram escravos no Antigo Egito agora punem severamente os palestinos que mal podem se locomover por uma terra que antes lhes pertencia.

Ou seja, todas as religiões têm mártires e vilões, portanto, não vale a pena condenar somente os muçulmanos, apesar de achar um absurdo esta teoria defendida por alguns deles da existência de um estado religioso.

Infelizmente, no mundo ocidental, há alguns fanáticos que defendem a imposição de ensino religioso nas escolas ou, pior ainda, a formação de um estado onde prevaleceria a lei divina.

Vamos por partes. Quem é a favor de ensino religioso deve matricular os filhos em escolas mantidas por religiosos, assim evitam que eles se misturem com os demais e podem manter a “pureza”. É uma opção pessoal dos pais e, como tal, deve ser respeitada.

Entretanto, querer impor a religião à força é um ato tão condenável quanto o daqueles que desdenham da religiosidade alheia. Um Estado não pode ser religioso porque isto feriria os princípios de isonomia dos cidadãos. Até hoje há muita gente nos EUA que não se conforma com a frase estampada no dólar americano: In God We Trust. Para os mais exaltados, isto é uma intromissão do Estado num assunto interno da nação, segundo a avaliação dos ateus.

Se analisarmos bem, faz sentido. Ao agir assim, os cristãos praticamente impõem seus princípios sobre os de outras religiões. Ficaria estranho se, em vez de In God We Trust, tivesse a frase In Alah We Trust, or In Messiah We Trust, or In Buda We Trust, etc.

Por causa disso, é mesmo inadmissível a imposição da bancada evangélica no Congresso Nacional do Brasil em condenar atitudes das quais discordam. Ora, eles têm todo o direito de execrar o homossexualismo, a libertinagem e o ateísmo, mas não têm direito de considerar estas posições como algo que deve ser passível de punição.

Essa dicotomia da sociedade brasileira aflorou com tudo após a nomeação do deputado Marco Feliciano, do PSC de São Paulo, para presidir a Comissão dos Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Ele colocou fogo na discussão com suas frases polêmicas que atiçaram ainda mais a ira sobre ele e seus pares, os evangélicos mais radicais, que, de certa forma, são tão criticáveis quando os fanáticos muçulmanos, por querer impor a vontade deles à sociedade brasileira.

Evidentemente, os evangélicos têm a prerrogativa de defender seus conceitos, porque o Brasil é uma democracia. Além do mais, os deputados, inclusive Marco Feliciano, foram eleitos e podem ocupar os mesmos cargos de seus pares. A questão é entender que não se pode querer transformar a sociedade laica em um Estado religioso porque isto seria extrapolar suas atribuições.

Por outro lado, também é condenável a pressão para que ele deixe o cargo de presidente da Comissão dos Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, pois ele foi democraticamente eleito e colocado no cargo após um conchavo feito entre os partidos – algo muito comum no Legislativo. Querer impor a vontade dos gays e dos ateus também é um desrespeito contra os eleitores de Marco Feliciano. Interessante notar que toda esta exposição na mídia deve render uma reeleição para o deputado do PSC, que integrava o baixo clero da Câmara Baixa, jargão para designar os deputados com pouca influência nas decisões da Câmara Federal, e passou aos holofotes.

Uma coisa é certa: misturar religião com governo nunca dá certo. Basta ver no que se transformou o Irã. De uma sociedade mais aberta virou uma teocracia com guardiães dos preceitos muçulmanos punindo aqueles que desobedeçam o dogma islâmico. Com isto, jogou-se o país num mundo de trevas, e seus habitantes vivem aterrorizados e censurados.

Com certeza, não é isto que queremos para o Brasil, não é?
Direto da Redação

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