Por Eliakim Araujo
De uns dois anos para cá, os líderes
nacionais evangélicos, tradicionais adversários de qualquer projeto que
considerasse uma anistia ampla, geral e irrestrita para os estimados 11 milhões
de imigrantes em situação irregular nos EUA, começaram a ver a questão com
outros olhos. Já admitem hoje que os indocumentados são tão humanos e tão
filhos de Deus quanto eles.
Isso é muito bom, sobretudo porque os
evangélicos conservadores têm muita força junto aos políticos republicanos que
resistem em aceitar uma reforma migratória que beneficie aqueles que entraram
no país de maneira clandestina.
A verdade é que, com o tempo, mesmo vivendo à
sombra, esses clandestinos foram ganhando espaço na sociedade estadunidense.
São eles que cortam a grama, que limpam as piscinas, que lavam telhados, que
fazem faxina nas casas e ninguém lhes pegunta sobre seu status migratório.
São trabalhadores honestos e, como tal, ganharam o respeito de seus
patrões.
E essa gente humilde começou a frequentar as
igrejas evangélicas, sentados lado a lado com os tradicionais e exigentes
evangélicos. Dos encontros dominicais para ler a Biblia e ouvir a pregação do
pastor surgiram amizades sem rótulos, ou seja, cidadãos ou indocumentados
passaram a ter o mesmo valor humano. Todos unidos em nome de uma fé criada por
um homem que não fazia distinção de classes sociais.
O NY Times, em reportagem sobre o
assunto na edição deste domingo, foi saber porque esses cristãos conservadores,
que até pouco tempo viam os imigrantes indocumentados como infratores da lei,
estão mudando de opinião e assimilando nos ensinamentos bíblicos e na visão dos
pastores evangélicos uma nova lição de amor ao próximo.
Jay Crenshaw, um advogado de 36 anos, filho
de tradicional família evangélica, criado em uma igreja batista em Orlando,
Flórida, e que se auto-define como “um republicano conservador", é
dos que mudaram de opinião:
“Comecei a repensar meu ponto de vista depois
de conhecer os imigrantes na igreja e ver o sofrimento que enfrentavan tentando
navegar pelo labirinto de leis de imigração do país, como um amigo colombiano
que entrou no país ilegalmente. Parece que algo está quebrado no
sistema”.
Stewart Hall, 70 anos, membro da Primeira
Igreja Batista de Orlando há mais de três décadas, que confessou ter pensado
algum dia em pedir a expulsão dos imigrantes da igreja, disse que seu ponto de
vista foi mudando gradualmente, quando ele passou a sentar nos bancos no fundo
da igreja, onde os novos imigrantes da congregação timida e
desconfiadamente se sentavam para orar:
"Ocorreu-me que, se Jesus estivesse
sentado aqui , ele não se importaria se eles eram ilegais ou legais".
Com esse pensamento é que, na quarta-feira,
pastores evangélicos de vinte diferentes denominações estarão em Washington num
esforço concentrado para convencer os legisladores a votarem finalmente um
projeto favorável aos imigrantes indocumentados.
A presença dos imigrantes no meio evangélico
é tão forte que a mega Primeira Igreja Batista de Orlando atende a imigrantes
que falam pelo menos 32 línguas diferentes, informou o pastor David Uth, um dos
que estarão em Washinton na quarta-feira. A igreja de Uth oferece
serviços em sete línguas estrangeiras, com tradução simultânea em Espanhol e
Português, e nas noites de domingo há um culto exclusivo em língua portuguesa.
Ninguém mais duvida da força dos imigrantes
indocumentados na sociedade estadunidense, inclusive em sua economia. Está mais
do que na hora dos parlamentares esquecerem suas divergências partidárias e se
unirem para corrigir essa distorção.
Direto da Redação
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