quinta-feira, 11 de abril de 2013

O LOBO E O CORDEIRO, de Esopo, recontada por Monteiro Lobato

Estava o cordeiro a beber água num córrego, quando apareceu um lobo esfaimado, de horrendo aspecto.

─ Que desaforo é esse de turvar a água a que venho beber?
Disse o monstro, arreganhando os dentes. 
─ Espere que vou castigar tamanha má-criação!...

O cordeirinho, trêmulo de medo, respondeu com inocência:

─ Como posso turvar a água que o senhor vai beber se ela corre do senhor para mim?

Era verdade aquilo e o lobo atrapalhou-se com a resposta, mas não deu o rabo a torcer.

─ Além disso ─ inventou ele ─ sei que você andou falando mal de mim no ano passado.

─ Como poderia falar mal do senhor o ano passado, se nasci este ano?

Novamente confundido pela voz da inocência, o lobo insistiu:
─ Se não foi você foi seu irmão mais velho, o que dá no mesmo.

─ Como poderia ser meu irmão mais velho, se sou filho único?

O lobo, furioso, vendo que com razões claras não venceria o pobrezinho, veio com razão de lobo faminto:

─ Pois se não foi seu irmão, foi seu pai ou seu avô!
E ─ nhoque ─ sangrou-o no pescoço.

Contra a força não há argumentos.

A fábula mostra que, ante a decisão dos que são maus, nem uma justa defesa tem força.

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Dag Vulpi

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