A eleição de políticos do PMDB para
as presidências da Câmara e do Senado sela a continuidade do pacto político
negociado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para sustentar o governo
federal, segundo analistas ouvidos pela BBC Brasil.
Nesta segunda-feira, o deputado
Henrique Alves (PMDB-RN) venceu a eleição para a Presidência da Câmara, cargo
que na primeira metade do governo Dilma Rousseff fora ocupado pelo PT. O pleito
ocorreu três dias após Renan Calheiros (PMDB-AL) se sagrar presidente do
Senado.
Em votação secreta, Alves obteve 271
votos, ante 165 de Júlio Delgado (PSB-MG), 47 de Rose de Freitas (PMDB-ES) e 11
de Chico Alencar (Psol-RJ). Ele presidirá a Câmara no biênio 2013-2014.
Ao assumir o comando das duas Casas
do Congresso com o apoio do PT, segundo analistas, o PMDB se fortalece como
principal aliado do governo federal e dissipa rumores de que poderia perder
espaço na coalizão para o PSB (Partido Socialista Brasileiro).
Francisco Teixeira, professor de
História Contemporânea da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), lembra
que as vitórias dão ao PMDB os três postos da linha sucessória da Presidência
(além do comando do Congresso, o partido também ocupa a vice-presidência da
República, com Michel Temer).
PSB
Segundo o professor, o apoio do PT às candidaturas de Calheiros e Alves - previsto em negociação após a eleição de 2010 - não só fortalece a aliança costurada por Lula como resguarda a coalizão governista de uma possível defecção do PSB.
Segundo o professor, o apoio do PT às candidaturas de Calheiros e Alves - previsto em negociação após a eleição de 2010 - não só fortalece a aliança costurada por Lula como resguarda a coalizão governista de uma possível defecção do PSB.
Um dos maiores vitoriosos nas
últimas eleições municipais, o partido do governador pernambucano, Eduardo
Campos, tem dado sinais ambíguos sobre sua permanência na coalizão.
Alguns analistas chegaram a avaliar
que, para manter o partido em sua base e tirar Campos da próxima disputa
presidencial, o PT poderia oferecer ao PSB a vice-presidência na eleição de
2014.
Teixeira diz que a nova composição
do Congresso, porém, sugere que o PMDB continuará na vice-presidência da chapa
governista para 2014.
Segundo ele, trata-se de um arranjo
natural, dado o tamanho da bancada peemedebista no Congresso, que a torna
essencial para a aprovação de projetos de interesse do Executivo. "Não
vejo outra forma de viabilizar um governo no Brasil".
Nova
coalizão?
Para o professor, o rompimento dessa
aliança só seria possível se PT e PSDB encabeçassem a coalizão, hipótese
atualmente fora de cogitação.
Para o sociólogo Antônio Flávio
Testa, professor da Universidade de Brasília (UnB), as vitórias do PMDB nas
eleições do Congresso dão ao partido maior poder de barganha em indicações
políticas para ministérios e estatais.
A ampliação do poder do partido, diz
ele, poderá exigir que Dilma participe mais de negociações políticas com o
Congresso, para evitar derrotas em temas de interesse do governo.
Testa avalia que, diante do novo
cenário, o ministério de Relações Institucionais poderá sofrer mudanças.
Responsável pelas negociações entre
o Planalto e o Congresso, a pasta chefiada por Ideli Salvatti tem sido
criticada por não ter evitado impasses como os que atrasaram a votação do
Orçamento pelo Legislativo.
"Ela (Dilma) está afastada
demais dessas negociações, e a articulação política tem falhado", diz
Testa.
Acusações
A eleição de Alves - parlamentar com 11 mandatos consecutivos na Câmara, um recorde na Casa - ocorre após reportagens apontarem que ele beneficiou a empresa de um ex-assessor por meio de emendas parlamentares.
A eleição de Alves - parlamentar com 11 mandatos consecutivos na Câmara, um recorde na Casa - ocorre após reportagens apontarem que ele beneficiou a empresa de um ex-assessor por meio de emendas parlamentares.
O assessor pediu demissão após a
denúncia, mas Alves negou irregularidades.
Na última semana, o deputado se
tornou alvo de investigação do Ministério Público Federal que apura o repasse
de dinheiro público a empresas de aluguel. Alves diz desconhecer o teor da
denúncia.
Eleito na sexta-feira para o comando
do Senado, Renan Calheiros também enfrenta uma série de acusações. No dia de sua
eleição, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, disse que o senador é
acusado de ter praticado três crimes: peculato, falsidade ideológica e
utilização de documento falso.
O documento com as denúncias foi
apresentado ao Supremo Tribunal Federal (STF) na semana passada. O senador se
diz inocente.
Em 2007, quando ocupava a
presidência do Senado, Calheiros fora acusado de ter suas despesas pagas pelo
lobista de uma empreiteira. Ele deixou a presidência da Casa, mas foi
absolvido.
Terra
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