As investigações relativas ao
‘mensalão tucano’, aquele esquema de desvio de recursos públicos para a
campanha do então candidato ao governo do Estado de Minas Gerais, o hoje
senador Eduardo Azeredo (PSDB), tendem a ser aceleradas a partir deste ano.
Quem afirma é o procurador-geral da República, Roberto Gurgel.
Em entrevista publicada na última
edição do diário conservador paulistano Folha de S. Paulo, nesta
quinta-feira, ele afirma que o término do julgamento da Ação Penal (AP) 470 no
Supremo Tribunal Federal (STF) terá “um efeito de acelerar a tramitação” da AP
536. O processo reúne acusações contra políticos do PSDB, entre eles o
senador Aécio Neves, o senador Clésio Andrade (PMDB-MG) e o ex-vice-governador
Walfrido dos Mares Guia. Com a juntada ao processo do inquérito que investiga
uma lista de beneficiários de propina desviada da estatal mineira Furnas
Centrais Elétricas, conhecida como a ‘Lista de Furnas‘, passam a figurar
no processo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o candidato tucano
derrotado em 2010 à Presidência da República e em 2012 à prefeitura de São
Paulo, José Serra.
A AP 536 reunirá, novamente, nomes
que ficaram gravados na memória popular desde que o escândalo do ‘mensalão’
eclodiu, em 2005, entre eles o do ex-secretário de Administração de Minas
Gerais Cláudio Mourão; do ex-secretário de Comunicação Eduardo Guedes; do
ex-presidente do Bemge José Afonso Bicalho; dos ex-diretores da Companhia de Desenvolvimento
Econômico de Minas Gerais (Comig, atual Codemig) Lauro de Lima Filho e Renato
Cordeiro; do ex-diretor da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa)
Fernando Soares e dos sócios do publicitário Marcos Valério na empresa
SMP&B, Cristiano Paz e Ramon Hollerbach; além do próprio Valério.
– Se reunir a prova necessária, não
há nenhum motivo para que não haja condenações – afirmouGurgel aos
jornalistas que o entrevistaram.
Se são necessárias provas para
condenar os suspeitos no ‘mensalão tucano’, para os petistas bastou o “domínio
do fato”, tese levantada por Gurgel e aceita pela maioria do STF.
– O que constou da denúncia (contra
os réus do PT) foi o que foi possível provar, com elementos razoáveis para dar
a base (às acusações) – disse Gurgel.
Na entrevista, Gurgel concorda que
não há uma só prova direta contra o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu.
– O grande desafio desse processo
era provar a responsabilidade do chamado núcleo político. Porque essa prova é
diferenciada. Pessoas do topo da quadrilha têm sempre uma participação
cuidadosa e provas diretas são praticamente impossíveis. Fazia-se um
determinado acerto com algum partido e dizia-se: quem tem que bater o martelo é
o José Dirceu. Aí, ou ele dava uma entrada rápida na sala ou alguém dava um
telefonema e ele dizia: ‘Está ok, pode fechar o acordo’ – supõe o
procurador-geral.
O que há, contra Dirceu, segundo o
procurador-geral, não são provas, mas “uma série de de elementos de prova” que
indicariam a participação do militante petista em algum ato ilícito.
– Não é prova direta. Em nenhum
momento nós apresentamos ele passando recibo sobre uma determinada quantia ou
uma ordem escrita dele para que tal pagamento fosse feito ao partido ‘X’ com a
finalidade de angariar apoio do governo. Nós apresentamos uma prova que
evidenciava que ele estava, sim, no topo dessa organização criminosa – reiterou
Gurgel.
Para embasar sua denúncia, ele usa
a tese do “domínio do fato’, segundo a qual o autor não é só quem executa o
crime, mas quem tem o poder de decidir sua realização”, diz o texto.
– A teoria do domínio do fato vem
para dizer que essas provas indicam que ele se encontrava numa posição de
liderança nesse sistema criminoso. Então, é possível, sim, responsabilizá-lo a
despeito da inexistência da prova direta. Prova havia bastante do envolvimento
dele – afirma, em aparente contradição.
Nos
calcanhares de Lula
A despeito da nota que emitiu na
véspera, na qual negou uma notícia do diário conservador paulistanoO Estado de
S. Paulo em que ele afirma que as acusações de Valério contra o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva serão investigadas por procuradores na
Primeira Instância da Justiça, Gurgel admitiu que pretende seguir no encalço do
principal líder petista no país. Embora ele afirme não ter encontrado elementos
mínimos que apontem a participação de Lula no ‘mensalão’, ele diz que pretende
mandar o caso “para análise na primeira instância”.
– O que se quis foi oferecer uma
denúncia fundamentada em provas. (Era) uma das primeiras vezes que se
responsabilizava todo um grupo que dominava o partido do governo. Em relação ao
presidente, precisaria ter a prova mais que robusta porque seria uma
irresponsabilidade denunciar um presidente. É muito mais difícil – diz ele.
Gurgel concorda que Valério queria
obter benefícios ao prestar depoimento à Justiça e acusar o ex-presidente. Um
deles é a redução das penas, ao acusar Lula de ter recebido, pessoalmente,
recursos ilícitos.
– Percebi claramente que, se
fôssemos admitir qualquer tipo de elemento de prova adicional, teríamos que
anular o início do julgamento e reabrir a instrução criminal. Aquilo
significava em português claríssimo ‘melar’ o julgamento. Eles queriam ‘melar’
o julgamento. Eu vi essa tentativa não como dele, mas como uma tentativa que
favoreceria todo mundo. A primeira coisa que disse a ele (Marcos Valério): nada
nesse novo depoimento seria utilizado e nenhum benefício ele teria na ação 470.
Na verdade, acho que ele pensava mais em embolar o julgamento – presume.
Ataque
ao Legislativo
Gurgel, na entrevista, não poupou
sequer o Poder Legislativo, que garantiu a posse do deputado José Genoino,
embora este tenha sido condenado na AP 470. Na opinião do procurador-geral, é
“inconcebível” a possibilidade de a Câmara não cumprir a decisão do Supremo
Tribunal Federal que mandou cassar automaticamente os mandatos dos quatro
deputados condenados no julgamento do mensalão.
– E a questão de uma espécie de
asilo, abrigo, é mais absurda ainda. A Casa legislativa não pode se transformar
em esconderijo de condenados. Em tese, caracteriza crime – desafiou.
O STF determinou que os deputados
condenados – João Paulo Cunha (PT-SP), Valdemar Costa Neto (PR-SP), Pedro Henry
(PP-MT) e José Genoino (PT-SP) – devem perder os mandatos imediatamente depois
do fim do julgamento, o que ocorrerá após a análise dos recursos, dentro de
mais alguns meses. Mas o atual presidente da Casa, deputado Marco Maia
(PT-RS) já avisou ao presidente do Supremo, ministro Joaquim Barbosa, que a
decisão de cassar parlamentares é exclusiva do Legislativo. Maia também
qualificou de “absurda” a possibilidade de abertura de investigação contra o
ex-presidente Lula, como sugeriu o procurador-geral.
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