Ex-editor da revista do PT, ex-presidente da
Radiobras e hoje colunista do Estadão e da revista Época, o acadêmico Eugênio
Bucci, professor de Jornalismo na ECA-USP, enxerga um mundo ideal em que os
veículos de imprensa cumprem apenas com sua função social, sem abraçar
correntes políticas. Neste domingo, ele denuncia também um "furibundo
fanatismo anti-imprensa", movido por mentes "autoritárias,
intolerantes e mal-intencionadas"
Eugênio Bucci, professor de Jornalismo da
ECA-USP, já foi um quadro relevante do PT. Filiado ao partido desde o início
dos anos 80, ele foi o primeiro editor da revista Teoria e Debate, editada pela
Fundação Perseu Abramo. Depois disso, conciliou atividades acadêmicas com
imersões em alguns veículos da chamada grande imprensa, tendo trabalhado, por
exemplo, em Playboy, Superinteressante e Quatro Rodas – revistas do grupo
Abril.
Quando Lula chegou ao poder, foi convidado
para presidir a Radiobrás, braço de informação do governo federal que deu
origem à Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), e lá ficou de 2003 a 2007.
Desde que saiu, no entanto, Bucci tem sido um dos principais porta-vozes das
principais famílias que tentam controlar a informação no Brasil. Além de
consultor de Roberto Civita, da Abril, ele escreve colunas na revista Época,
dos Marinho, e no jornal Estado de S. Paulo, dos Mesquita.
A cada artigo, salvo raras exceções, ele se
posiciona contra qualquer discussão sobre eventual regulação dos meios de
comunicação. Neste domingo, em Época, ele defende a tese de que os veículos de
imprensa cumprem apenas com sua função social, sem abraçar correntes políticas.
Ele denuncia também um "furibundo fanatismo anti-imprensa", movido
por mentes "autoritárias, intolerantes e mal-intencionadas".
Bucci ignora que, nos Estados Unidos e na
Inglaterra, o império de Rupert Murdoch é cada vez mais questionado por agir
como um partido político – numa definição colocada pelo próprio Barack Obama.
No Brasil, nesta semana, os três principais jornais do País – Folha, Estadão e
Globo – protagonizaram grandes erros porque permitiram que as intenções
políticas se sobrepusessem à objetividade jornalística (leia mais aqui).
No entanto, segundo Bucci, quem discute a
agenda política dos meios de comunicação, que são uma estrutura de poder (o
quarto poder, afinal), age de maneira obscurantista. O que mudou tanto no Bucci
dos anos 80 e no de agora?
Abaixo,
trecho de seu artigo em Época:
Esses
jornais de oposição...
A Folha de S.Paulo é “a vanguarda
entre os veículos da imprensa empenhados em isolar o governo da opinião
pública”. Num país em que a oposição não tem peito nem engenho para fazer
oposição, as redações jornalísticas se encarregam de jogar as autoridades no
descrédito. É assim, ao menos, que pensam os entusiastas do governo federal.
Para eles, os jornais cumprem o papel que deveria ser dos partidos de oposição.
Inconformados, os representantes do Palácio do Planalto contra-atacam, como fez
o líder do partido do governo na Câmara dos Deputados, diante de mais uma
reportagem crítica lida em plenário por algum adversário mal-agradecido.
“Sinceramente, não encontramos aqui um pensamento inédito”, disse o parlamentar
governista. Segundo ele, a imprensa apenas requenta fatos velhos para agredir
quem trabalha sem descanso para melhorar a vida dos brasileiros. Os
governantes, segundo essa visão, não passam de vítimas da maledicência, padecem
sob o bombardeio de uma campanha articulada para desacreditá-los. O líder do
partido do governo, no mesmo pronunciamento em que reclamou das notícias
requentadas, foi severo e categórico em seu diagnóstico: os órgãos de imprensa
“são o grande veículo dessa campanha articulada”.
Antes de qualquer interpretação apressada,
vamos esclarecer. As declarações transcritas no parágrafo acima não reproduzem
falas de integrantes do governo Dilma Rousseff. São anteriores. Também não
trazem recortes dos inflamados discursos de entusiastas do primeiro ou do
segundo governos de Luiz Inácio Lula da Silva. Nem de beneficiários das duas
gestões de Fernando Henrique Cardoso, ou do breve mandato de Itamar Franco, ou
de Collor, ou mesmo de José Sarney. Elas vêm de um período ainda mais antigo,
vêm dos tempos da ditadura militar.
Via - 247
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