Primeiro, a Folha noticiou uma reunião de
emergência sobre o setor elétrico, que era rotineira. O Estadão, em letras
garrafais, anunciou que o Ministério Público investigaria o ex-presidente Lula.
E o Globo avisou que empresários já estariam fazendo seu próprio racionamento.
Três exemplos "wishful thinking", em que a vontade política dos
editores se impõe à objetividade dos fatos. Se isso não bastasse, Veja também
derrapou feio ao anunciar uma megafusão bancária que não houve
247 - Wishful thinking. A
expressão inglesa é a melhor tradução para o comportamento dos grandes jornais
brasileiros na semana que passou e expressa um dos principais erros do
pensamento, que é o de transformar desejos em realidade. Em vez de narrar os
fatos como eles são, a história é contada como gostaríamos (ou gostariam) que
fosse.
Entre pessoas comuns, o erro é
perdoado. Mas quando se trata de grandes jornais, que têm o dever da
objetividade, a questão se complica. A semana que passou, para a grande
imprensa, foi também a semana dos grandes erros. Não pequenos deslizes, mas
erros colossais, que, em alguns casos, foram escritos em letras garrafais –
fugindo até ao padrão gráfico das publicações.
O jogo dos erros começou com a
Folha de S. Paulo, dos Frias, que, na segunda-feira, anunciou: "Escassez
de luz faz Dilma convocar o setor elétrico". No subtítulo, a mensagem de
que, na "reunião de emergência", seriam discutidas medidas contra o
racionamento, sob a imagem de uma vela acesa na escuridão. Este era o desejo –
o wishful thinking. A realidade, no entanto, é que a reunião não era emergencial
nem haverá racionamento.
No dia seguinte, foi a vez do
Estadão, principal concorrente da Folha, que não ficou atrás. O sonho da
família Mesquita, que controla o jornal, talvez seja ver o ex-presidente Lula
atrás das grades. E a manchete "MPF vai investigar Lula" veio em
negrito e letras gigantes como se anunciasse que a Alemanha nazista foi
derrotada pelos aliados. Mais um exemplo de wishful thinking. No mesmo
dia, a "informação" foi negada pelo procurador-geral Roberto Gurgel.
O Globo, dos Marinho, naturalmente,
não poderia ficar de fora da festa e anunciou que grandes grupos empresariais
já planejam racionar energia. Outra demonstração de um desejo – na
quinta-feira, após uma reunião com a presidente Dilma, os principais
empresários do País deram demonstrações públicas de que não estão trabalhando
com a hipótese de apagão.
Se tudo isso não bastasse, houve
também a barriga de Veja Online, que, também nesta semana, anunciou a fusão
entre Bradesco e Santander. Neste caso, não era wishful thinking. Apenas um
erro de informação e os jornalistas responsáveis foram demitidos.
De todo modo, a semana foi exemplar
ao escancarar os riscos que se corre quando a vontade política dos editores se
sobrepõe à objetividade dos fatos.
PS: até agora, apenas a Folha admitiu
o erro, ainda que em letras miúdas.
As informações são do site 247
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