O Brasil chegou ao fim do
ano com um desempenho na área do comércio exterior, que “não foi tão ruim como
poderia (ter sido)”. A avaliação é do vice-presidente executivo da Associação
de Comércio Exterior do Brasil (AEB), Fábio Martins Faria.
Em entrevista à Agência Brasil, ele
disse que o desempenho do país pode ser considerado favorável diante do cenário
mundial de crise, com o acirramento da concorrência internacional agressiva,
além da queda de preços de algumas commodities (produtos agrícolas e
minerais comercializados no mercado internacional) que o Brasil exporta.
Embora com a perspectiva inicial de que as
exportações em 2012 fossem alcançar um resultado parecido ao de 2011, quando
somaram US$ 256,039 bilhões, os números da balança comercial divulgados na quarta-feira (2) mostraram
que houve um recuo de 34,7%, o pior desempenho dos últimos dez anos. As
exportações no ano passado fecharam em US$ 242,58 bilhões. Para Faria, diante
do cenário de crise internacional, "o desempenho brasileiro até que é
razoável como um todo."
Contribuíram para as vendas externas de
2012 algumas ações empreendidas pelo governo e consideradas bem-vindas pelo
setor exportador. Faria destacou a redução dos juros e a recuperação da
defasagem cambial. “As políticas do governo foram positivas nesses aspectos”.
Ele ressaltou ainda a instituição do Regime
Especial de Reintegração de Valores Tributários para as Empresas Exportadoras
(Reintegra), que prevê a devolução de 3% do valor de produtos industrializados
exportados. Outro fato que trouxe novo alento foi a desoneração da folha de
pagamento em alguns setores.
Para Faria, o maior desafio continua sendo
a área de infraestrutura. Ele lembra que o Brasil hoje perde muita
competitividade internacional por ter infraestrutura ainda insuficiente para
dar conta do crescimento do comércio exterior.
O vice-presidente executivo da AEB espera
que as medidas anunciadas recentemente pelo governo nas áreas de portos,
rodovias e ferrovias sejam implementadas de fato, tendo em vista o grande atraso
dos investimentos nesse campo. “A gente espera que o governo consiga recuperar
o atraso em infraestrutura, porque vários anúncios já foram feitos e a coisa
não andou."
A área tributária constitui outro desafio,
na opinião de Faria. Ele lembrou que a carga tributária vem aumentando ano a
ano no país, “sem que haja uma contrapartida em termos de benefícios”, como
seria de se esperar: “Melhores portos e aeroportos, por exemplo”. Para ele,
essa situação tornou o custo Brasil ainda mais pesado para quem produz. “Isso
acabou tirando, sobretudo, competitividade dos produtos industriais
brasileiros."
Outro grande desafio, diz Faria, seria o
governo tornar as desonerações promovidas em alguns setores uma política de
longo prazo, que fosse horizontal, isto é, que pegasse todos os setores e não
somente alguns setores específicos.
Para Faria, no que diz respeito a acesso a
mercados, o Brasil tem um desafio a vencer na parte negociadora. Ele acredita
que o Brasil fica muito atrelado ao Mercosul e tem sido “tímido” nas
negociações com outros países. “A gente espera que haja uma ação mais
afirmativa nesse campo das negociações, sobretudo na América Latina, que é um
mercado muito importante para a indústria brasileira. E nós estamos sendo muito
acossados pela concorrência chinesa”.
Para recuperar esses mercados ameaçados
pela China, Faria acredita que seria importante o Brasil negociar preferências
tarifárias, para que os produtos industriais nacionais possam retomar o espaço
perdido.
Segundo Faria, alguns produtos agrícolas
devem continuar apresentando um desempenho favorável em 2013, especialmente a
soja. “O Brasil tem possibilidade de expandir muito as suas vendas na área do
agronegócio, porque somos de fato competitivos”. Para ampliar ainda mais essa
competitividade no setor, o grande problema a ser superado é o custo da
logística, insistiu o executivo.
Faria acredita que as perspectivas na área
industrial não são animadoras. Ele lembrou que as empresas estão tendo muitas
dificuldades para manter sua presença no mercado internacional. Como exemplo,
ele cita o minério de ferro, em que há incertezas em relação à produção da
China, que vem caindo. “Então, é mais no agronegócio que está a nossa
aposta."
Agência Brasil
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