quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

A internet onde cabe tudo


A nova era da rede possibilita a cobrança automática de pedágios, o monitoramento remoto das crianças na escola e dos eletrodomésticos na casa tornará a vida mais inteligente


Mulheres dirigem melhor que homens. Homens mais velhos dirigem melhor que jovens. Quem tem muito tempo de carta de motorista dirige melhor do que quem acabou de tirar o documento. Tais “verdades universais” – na verdade, ideias preconcebidas – determinam quanto alguém gasta ao fazer seguro de carro. Essa situação está mudando na Europa e nos Estados Unidos, graças à tecnologia. Quando alguém vai fazer seguro, um aparelho é instalado dentro do carro. Ele analisa hábitos de direção. A cada seis meses, os dados são enviados para a seguradora. O mau condutor passa a pagar mais. “Em vez de presumir como ...
alguém vai dirigir, cobramos de acordo com a realidade”, diz Grant Mitchell, diretor da The Co-operative Insurance. 

Esse é apenas um dos milhares de exemplos de uma transformação que até há pouco tempo era tratada como coisa do futuro. Há diversos nomes para ela. Internet industrial. Internet dos objetos. Internet das coisas. Todos denominam uma nova forma de usar a rede. Nesta nova era, as informações que circulam pela internet não são colocadas na rede por pessoas, mas por sensores e objetos que trocam dados entre si. Hoje em dia, mais da metade das conexões é feita assim, por aparelhos que são comandados à distância ou programados para realizar tarefas. Redes de energia e água informam o consumo em tempo real. Sensores acoplados ao uniforme escolar avisam os pais do horário em que os filhos entram e saem da escola. Chips ligados a carros atuam na cobrança de pedágio (leia na ilustração abaixo mais exemplos). E, assim, a vida se torna mais inteligente.

A “internet de tudo” nasceu como conceito há uma década, dentro do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, e hoje é considerada a quinta fase da história da internet. Na primeira, entre a década de 1960 e o início dos anos 1990, a rede ligava grandes computadores de universidades e governos para fins de pesquisa. A segunda etapa foi inaugurada em 1991, quando o físico britânico s Tim Berners-Lee criou páginas e hiperlinks para organizar a informação digital disponível e facilitar seu acesso. Nascia a “internet das pessoas”, a rede mundial de computadores. No fim da mesma década, na terceira fase, a internet deixou de ser só um depósito de dados. Passou-se a vender e comprar serviços por ela. Surgiram empresas como eBay e Amazon. A quarta etapa a tornou social. Internautas começaram a interagir em sites como Facebook e Twitter e a publicar fotos, imagens e vídeos. Agora, na quinta fase, ela vai além das pessoas e conecta objetos.

O sucesso dos smartphones foi fundamental para popularizar a “internet de tudo”. Ao ultrapassar os computadores em vendas em 2011, eles viraram o eletrônico mais popular do planeta. Os tablets seguem pelo mesmo caminho. No fim do próximo ano, haverá mais tablets e smartphones em uso do que PCs. Esses aparelhos têm peças sofisticadas, como antenas e sensores de direção e presença – justamente os artefatos que viabilizam a “internet de tudo”. Os tablets e smartphones são também mais potentes que os computadores do início dos anos 2000, e mais baratos, dado que são vendidos em bilhões de unidades. “O smartphone serve também como meio de comunicação entre nós e as coisas”, diz Maurizio Pilu, do Conselho de Estratégia em Tecnologia do governo britânico. “Antes não sabíamos onde iria acontecer essa interação. Num laptop? Ou cada objeto teria sua tela? O celular cumpre esse papel.”

Além de seu uso na vida doméstica, a “internet de tudo” é um auxiliar na prevenção e controle de catástrofes. Um exemplo. Alguns cidadãos japoneses ficaram insatisfeitos com as medições de radiação oficiais depois do desastre nuclear de Fukushima, em 2011. Eles viviam fora das áreas de evacuação e achavam que o governo não dava a devida atenção a seus locais de moradia. Criaram, então, um sistema próprio para medir o risco que corriam, com medidores ligados a uma placa de computador de R$ 70. Essa placa funciona como um cérebro, que programa os medidores para interpretar informações e realizar tarefas. No caso, medir radiação e publicá-las num mapa on-line.


A evolução da infraestrutura da rede também foi fundamental para que a “internet de tudo” prosperasse. Aumentou a capacidade da rede de hospedar objetos. Hoje, há 15 bilhões deles. Até o fim da década, esse número triplicará, chegando a 50 bilhões. A capacidade de transmitir informações também cresceu com a banda larga. Redes 3G e 4G levam a internet a todas as partes. Por ela, podemos terceirizar parte da inteligência das coisas para computadores de grande porte, os servidores, que fazem os milhões de cálculos necessários para cada objeto realizar uma tarefa. “Antes seria preciso ter um servidor em cada casa, loja ou edifício. Seria inviável”, diz José Roberto Amazonas, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.

A nova internet vem recebendo investimentos de grandes empresas e governos desde meados de 2007. A General Electric estuda como incorporar essas tecnologias em seus produtos, de geladeiras a turbinas de avião. A companhia estima que a rede de objetos adicione R$ 30 trilhões à economia global nos próximos 20 anos. O governo chinês colocará R$ 2 bilhões na pesquisa de tecnologias de comunicação entre objetos até 2015. Nova York e Londres estão tornando suas malhas urbanas inteligentes.

A internet de tudo tem alguns desafios. Ainda é preciso criar padrões de comunicação entre as máquinas para que uma entenda a conversa da outra. Hoje, uma foto pode ser feita na Índia e vista nos Estados Unidos porque existe um formato único para esse tipo de arquivo no mundo. Mais complexo será proteger essa nova internet de vírus e hackers para que o controle dos objetos conectados não caia em mãos erradas. “Se tudo já estivesse conectado hoje, seria uma grande oportunidade para crimes virtuais”, diz Hung LeHong, analista da consultoria Gartner. Um relatório em tempo real do consumo de energia de uma casa indica quando seu morador está presente e o que faz a cada momento do dia. “Terá de haver um equilíbrio entre a divulgação de informações e os benefícios disso”, diz o futurólogo-chefe da Cisco, Dave Evans. As novas tecnologias ocupam silenciosamente espaços em nosso cotidiano. Quando nos damos conta, não conseguimos mais viver sem elas. Foi assim com a imprensa, a energia elétrica, o celular. Será preciso aprender como viver neste mundo hiperconectado.
ÉPOCA



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