Por Carlos Chagas
Marx afirmou, Lênin repetiu: a História só se
repete como farsa. Em 1966, Castelo Branco cassou o mandato de mais três
deputados, às vésperas da instalação de uma Assembléia Constituinte fajuta,
convocada pelo Ato Institucional número 4. O primeiro marechal-presidente havia
prometido ao presidente da Câmara, Adauto Lúcio Cardoso, que não cassaria mais
parlamentares, em homenagem à nova Constituição a ser feita. Terá sido
pressionado pela linha-dura, cedeu e viu eclodir a crise.
Adauto Lúcio Cardoso, um político de verdade. |
Adauto não aceitou o gesto truculento e
continuou dando a palavra aos três deputados. Por uma questão de cautela, pediu
que se transferissem para a enfermaria da casa, onde passaram a dormir e a
fazer as refeições. Seguiu-se a invasão do Congresso por tropa armada, liderada
pelo coronel Meira Matos.
Merece ser reproduzido o diálogo entre o
militar e o presidente da Câmara, cercados por soldados de fuzis embalados:
- Alto! Quem vem lá?
- O senhor, quem é?
- Sou o poder civil, e o senhor?
- Sou o poder militar!
- Curvo-me diante da força e cumprimento os
fuzis!
As palavras de Adauto, pronunciadas em meio a
uma reverência maliciosa, eram as mesmas ditas por Antônio Carlos Ribeiro de
Andrada, em 1823, quando por ordem de D. Pedro I os militares fecharam a
primeira Assembléia Nacional Constituinte de nossa História.
O episódio engrandeceu o Congresso, apesar do
triste resultado. Os três deputados foram presos e perderam os mandatos.
Agora vem a farsa. O atual presidente da
Câmara, diante da cassação de três deputados por sentença do Supremo Tribunal
Federal, arvora-se em repetir o episódio anterior. Quinta-feira, quando se
duvidava da prisão imediata dos deputados condenados por corrupção, o deputado
Marco Maia ofereceu-se para abrigá-los nas dependências da Câmara,
insurgindo-se contra a possível aplicação da lei pelo ministro Joaquim Barbosa.
Em nenhum momento a situação foi a mesma, a ditadura saiu pelo ralo, mas o
representante gaúcho embaralhou as cartas e procurou confundir-se com o ilustre
antecessor de 46 anos atrás. Não conseguiu. Apenas encenou uma pantomima…
FELIZMENTE, O BOM
SENSO
Em outro episódio felizmente prevaleceu o bom
senso, nessa semana tumultuada. O presidente do Congresso, José Sarney, chegou
a concordar com o monumental absurdo que seria a votação de 3056 vetos
presidenciais, de uma só vez, apenas para deputados e senadores poderem
derrubar o recente veto da presidente Dilma à lei dos royalties. Caso
perpetrada essa barbaridade haveria dinheiro a dar com o pé para estados e
municípios não produtores de petróleo. Pela Constituição, cada veto deve ser
apreciado de per si, mas como se acumulavam tantos, sem votação, e o interesse
da maioria era beneficiar suas bases e suas origens, a trama chegou a ser
ensaiada.
Até urnas do tamanho de caixões de defunto
foram preparadas. Na hora do horror, porém, a vice-presidente do Congresso,
Rose de Freitas, proibiu a lambança. Ainda bem. Quanto ao senador José Sarney,
mandou-se para uma reunião da Academia Brasileira de Letras…
NÃO ACABOU MAS PODE
ACABAR
Frustraram-se quantos imaginaram que o mundo
iria mesmo acabar, ontem, conforme profecias dos Maias e de Nostradamus. O sol
nasceu como faz há bilhões de anos, não tocou fogo na atmosfera. Nenhum meteoro
caiu sobre a Terra, nem vulcões monstruosos entraram em erupção. Sequer
tsunamis invadiram as praias. Melhor assim, ainda que os adeptos do fim do
mundo já se dediquem à análise de novas profecias, porque da próxima vez,
garantem, será de verdade.
Via Tribuna da Internet
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