Bradesco faz 70 anos, mesmo tempo de
carreira do presidente do Conselho, Lázaro Brandão
Há um inevitável frisson sobre o quarto andar do “prédio vermelho” (uma alusão
à cor dos detalhes do edifício) no complexo onde fica a sede do Bradesco,
conhecido como Cidade de Deus, em Osasco, na Grande São Paulo. Naquela enorme
sala, em torno de uma mesa gigante ovalada, despacham diariamente os 29
executivos — do Conselho de Administração e da Diretoria Executiva — que cuidam
do segundo maior banco privado do Brasil em ativos e o primeiro em agências.
Ninguém tem sala própria. Todo mundo chega às 7h e vai embora invariavelmente
às 19h. Um pool de secretárias e técnicos reunidos em duas salas
contíguas atende a todo mundo.
Apesar da quantidade de gente e da
responsabilidade das decisões tomadas ali — que podem incluir milhões de reais
numa simples canetada —, o ambiente é de calma, firmeza e austeridade. Quem
trabalha naquela sala sabe que essas são também as maiores características de
outra figura mítica dentro do Bradesco: o presidente do Conselho de
Administração, Lázaro de Mello Brandão, de 86 anos. Carlos Alberto Rodrigues
Guilherme, o Coca, um dos nove membros do Conselho, lembra de uma história que
resume esses atributos. Após a decretação do Plano Collor, Brandão desceu
pessoalmente até o Centro de Processamento de Dados (CPD) do Bradesco para
convencer um diretor de informática a ir para casa dormir um pouco após 72
horas seguidas de trabalho.
— Estávamos todos histéricos com o
plano. Em pleno sábado, ele foi calmamente até o CPD e convenceu o diretor a ir
para casa. Ele é o esteio deste banco — diz.
Em março do ano que vem, o Bradesco
completa 70 anos de fundação, e ninguém dentro da instituição, nem mesmo o
presidente desde 2009, Luiz Carlos Trabuco Cappi, de 61 anos, personifica
melhor a alma do Bradesco do que “Seu Brandão”, como ele é conhecido na Cidade
de Deus.
Afinal, quando os donos da Casa
Bancária Almeida & Companhia fundaram em 1943 o Banco Brasileiro de
Descontos em Marília, a 443 quilômetros de São Paulo, Lázaro Brandão já
trabalhava como contínuo. Subiu todas as posições na hierarquia e, em 1981,
tornou-se presidente no lugar de outra figura mítica, Amador Aguiar. Os dois
praticamente moldaram o Bradesco como o gigante do varejo bancário e do mercado
financeiro que o país conhece hoje. As histórias, do executivo e do banco, se
confundem.
— O princípio do negócio do banco,
financiar os projetos das pessoas e das empresas, não teve alterações
fundamentais ao longo do tempo — diz Brandão. — Claro que o ambiente é outro, a
competição é outra, a economia está em outro estágio. O banco se moderniza com
a automação. Mas a ideia de não ter agências e ser só um banco digital está
fora de propósito. E essa estrutura se mostrou adequada para o cenário do país
hoje. É indiscutível que a emergência da classe C impactou positivamente o
banco. A ascensão social nos pegou preparados.
Mistério
sobre o provável substituto
A prova disso está no balanço do
terceiro trimestre do banco, divulgado na semana passada. Mesmo com toda a
pressão da presidente Dilma Rousseff para os bancos privados baixarem juros, o
Bradesco fechou os nove primeiros meses do ano com ativos de R$ 856,2 bilhões,
ainda atrás do maior concorrente privado, o Itaú Unibanco (com R$ 960,2 bilhões
em ativos). Mas a inadimplência caiu para 4,1% da carteira de crédito de R$
371,6 bilhões. O lucro subiu 1,7%; para R$ 8,4 bilhões. E o valor em Bolsa de
Valores chegou na quinta-feira a R$ 112 bilhões, uma valorização de RS$ 5,1
bilhões, a maior do setor bancário. São 55,5 mil pontos de atendimento, entre
agências, postos e caixas eletrônicos e 104 mil funcionários para atender a
25,6 milhões de correntistas, o que equivale à população da Bélgica e da
Holanda somadas. Ou seja, o Bradesco está na luta.
— Na área privada, durante décadas,
nós tivemos a liderança, que foi assumida pelo Itaú Unibanco na fusão. Mas na
comparação da rede, somos maiores tanto na área de seguro quanto em previdência
e consórcios. Eles têm patrimônio e ativos, o que dá porte para colocá-los em
primeiro lugar. Mas nós não estamos marginalizados.
Lázaro Brandão ajudou a criar no
banco uma rigorosa cultura de metas trimestrais que não dá espaço para corpo
mole. O esquema é rigorosíssimo.
— A cada trimestre, devemos
apresentar desempenho de superação, mantendo uma linha de conduta ética e fiel
aos princípios do Bradesco. Não é trivial, exige foco e dedicação em tempo
integral, mas é absolutamente gratificante — diz Luiz Carlos Trabuco, o nome
indicado dentro do Bradesco como provável substituto de Brandão.
Ele sorri quando lhe perguntam sobre
isso. Mas dá pistas:
— A diretoria executiva compartilha
todas as formulações e decisões. O futuro presidente do conselho vai ser alguém
egresso dali — diz.
Via Globo Economia
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