sábado, 3 de novembro de 2012

O esteio do último dos grandes banqueiros

Bradesco faz 70 anos, mesmo tempo de carreira do presidente do Conselho, Lázaro Brandão


Há um inevitável frisson sobre o quarto andar do “prédio vermelho” (uma alusão à cor dos detalhes do edifício) no complexo onde fica a sede do Bradesco, conhecido como Cidade de Deus, em Osasco, na Grande São Paulo. Naquela enorme sala, em torno de uma mesa gigante ovalada, despacham diariamente os 29 executivos — do Conselho de Administração e da Diretoria Executiva — que cuidam do segundo maior banco privado do Brasil em ativos e o primeiro em agências. Ninguém tem sala própria. Todo mundo chega às 7h e vai embora invariavelmente às 19h. Um pool de secretárias e técnicos reunidos em duas salas contíguas atende a todo mundo.

Apesar da quantidade de gente e da responsabilidade das decisões tomadas ali — que podem incluir milhões de reais numa simples canetada —, o ambiente é de calma, firmeza e austeridade. Quem trabalha naquela sala sabe que essas são também as maiores características de outra figura mítica dentro do Bradesco: o presidente do Conselho de Administração, Lázaro de Mello Brandão, de 86 anos. Carlos Alberto Rodrigues Guilherme, o Coca, um dos nove membros do Conselho, lembra de uma história que resume esses atributos. Após a decretação do Plano Collor, Brandão desceu pessoalmente até o Centro de Processamento de Dados (CPD) do Bradesco para convencer um diretor de informática a ir para casa dormir um pouco após 72 horas seguidas de trabalho.

— Estávamos todos histéricos com o plano. Em pleno sábado, ele foi calmamente até o CPD e convenceu o diretor a ir para casa. Ele é o esteio deste banco — diz.

Em março do ano que vem, o Bradesco completa 70 anos de fundação, e ninguém dentro da instituição, nem mesmo o presidente desde 2009, Luiz Carlos Trabuco Cappi, de 61 anos, personifica melhor a alma do Bradesco do que “Seu Brandão”, como ele é conhecido na Cidade de Deus.

Afinal, quando os donos da Casa Bancária Almeida & Companhia fundaram em 1943 o Banco Brasileiro de Descontos em Marília, a 443 quilômetros de São Paulo, Lázaro Brandão já trabalhava como contínuo. Subiu todas as posições na hierarquia e, em 1981, tornou-se presidente no lugar de outra figura mítica, Amador Aguiar. Os dois praticamente moldaram o Bradesco como o gigante do varejo bancário e do mercado financeiro que o país conhece hoje. As histórias, do executivo e do banco, se confundem.

— O princípio do negócio do banco, financiar os projetos das pessoas e das empresas, não teve alterações fundamentais ao longo do tempo — diz Brandão. — Claro que o ambiente é outro, a competição é outra, a economia está em outro estágio. O banco se moderniza com a automação. Mas a ideia de não ter agências e ser só um banco digital está fora de propósito. E essa estrutura se mostrou adequada para o cenário do país hoje. É indiscutível que a emergência da classe C impactou positivamente o banco. A ascensão social nos pegou preparados.

Mistério sobre o provável substituto
A prova disso está no balanço do terceiro trimestre do banco, divulgado na semana passada. Mesmo com toda a pressão da presidente Dilma Rousseff para os bancos privados baixarem juros, o Bradesco fechou os nove primeiros meses do ano com ativos de R$ 856,2 bilhões, ainda atrás do maior concorrente privado, o Itaú Unibanco (com R$ 960,2 bilhões em ativos). Mas a inadimplência caiu para 4,1% da carteira de crédito de R$ 371,6 bilhões. O lucro subiu 1,7%; para R$ 8,4 bilhões. E o valor em Bolsa de Valores chegou na quinta-feira a R$ 112 bilhões, uma valorização de RS$ 5,1 bilhões, a maior do setor bancário. São 55,5 mil pontos de atendimento, entre agências, postos e caixas eletrônicos e 104 mil funcionários para atender a 25,6 milhões de correntistas, o que equivale à população da Bélgica e da Holanda somadas. Ou seja, o Bradesco está na luta.

— Na área privada, durante décadas, nós tivemos a liderança, que foi assumida pelo Itaú Unibanco na fusão. Mas na comparação da rede, somos maiores tanto na área de seguro quanto em previdência e consórcios. Eles têm patrimônio e ativos, o que dá porte para colocá-los em primeiro lugar. Mas nós não estamos marginalizados.

Lázaro Brandão ajudou a criar no banco uma rigorosa cultura de metas trimestrais que não dá espaço para corpo mole. O esquema é rigorosíssimo.

— A cada trimestre, devemos apresentar desempenho de superação, mantendo uma linha de conduta ética e fiel aos princípios do Bradesco. Não é trivial, exige foco e dedicação em tempo integral, mas é absolutamente gratificante — diz Luiz Carlos Trabuco, o nome indicado dentro do Bradesco como provável substituto de Brandão.

Ele sorri quando lhe perguntam sobre isso. Mas dá pistas:
— A diretoria executiva compartilha todas as formulações e decisões. O futuro presidente do conselho vai ser alguém egresso dali — diz.

Via Globo Economia

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