O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, considerou hoje (22) que o pedido de investigação contra ele feito pelo relator da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira, deputado federal Odair Cunha (PT-MG), é uma forma de retaliação por sua atuação no julgamento da Ação Penal 470, o processo do mensalão.
“Se isso [o pedido de investigação] vier a se materializar, eu acho que é sim uma retaliação”, disse Gurgel. O relatório final da CPMI do Cachoeira foi divulgado na madrugada de ontem (21). No documento, o petista Odair Cunha pede que o Conselho Nacional do Ministério Público investigue a atuação de Gurgel por não ter dado prosseguimento às investigações da Operação Vegas, da Polícia Federal.
Em 2009, o Ministério Público Federal (MPF) em Goiás encaminhou a Gurgel os autos da operação policial porque foi identificada a participação de pessoas com foro privilegiado, sendo uma delas o ex-senador Demóstenes Torres. Como o procurador-geral não autorizou a continuidade das investigações, em 2010, a Polícia Federal deflagrou a Operação Monte Carlo, que resultou na prisão do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cacheira.
Gurgel reafirmou que a medida tomada à época foi estratégica e possibilitou a deflagração da Operação Monte Carlo. “Tenho ressaltado que tivemos uma opção estratégica de investigação que se comprovou bem-sucedida”, frisou Gurgel.
“Hoje, percebemos que na operação subsequente [Monte Carlo], identificamos algo muito maior”, acrescentou o procurador-geral.
Após receber hoje um relatório paralelo elaborado por membros da CPMI insatisfeitos com o resultado das investigações, Gurgel disse que as retaliações são frequentes no cotidiano dos membros do Ministério Público.
“Tenho afirmado que é muito frequente na vida de quem é membro do Ministério Público as retaliações. Quando o Ministério Público atua, quando exerce a sua missão constitucional, com muito frequência, os inconformados com essa atuação promovem retaliações. É algo que todos nós do Ministério Público, procuradores, estamos habituados.”
O procurador-geral disse ainda que só irá se manifestar oficialmente sobre o pedido de investigação contra ele quando o relatório da CPMI for apresentado. A leitura do relatório final da comissão foi adiada para a próxima semana. “Ainda não tomei conhecimento, até porque a ultima notícia que tive foi que a leitura dele [do relatório], que formaliza a apresentação, ainda não tinha sido sequer iniciada. Continuo considerando que não há um documento oficial a comentar”, ponderou.
Ivan Richard - Agência Brasil
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