quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Enquanto o governo se organiza, nossa comunidade morre, diz líder indígena




Líderes indígenas relataram a situação da aldeia guarani caiová a parlamentares em audiência pública da Comissão de Direitos Humanos do Senado, nesta quinta-feira, 1º. Em meio a disputa judicial com fazendeiros por terras no Mato Grosso do Sul, índios criticaram a lentidão dos governos federal e estadual para resolver a situação.

Enquanto o governo está se organizando, nossa comunidade está morrendo”, afirmou líder indígena Eliseu Lopes Kaiowá. A disputa de terras entre a aldeia e fazendeiros ganhou repercussão após a divulgação de uma carta do grupo alertando autoridades sobre a intenção de resistirem “até a morte” à decisão judicial que os obriga a deixar uma área de 2 hectares. Ao todo, 170 índios que vivem na terra, localizada numa mata ilhada entre um charco e o leito do Rio Hovy, na divisa da Reserva Sassoró com a Fazenda Cambará, propriedade de 700 hectares, no sul de Mato Grosso do Sul.

Em um depoimento emocionado, o antropólogo Tonico Benites, da etnia caiová, explicou a reação da aldeia. “Eu vou morrer pelo meu povo. Eu vou morrer, pode me matar. Mas para que meu povo continue vivendo. Isso não é suicídio. Para nós, não. A própria liderança tem que morrer para salvar a próxima geração.”

A presença da aldeia na área foi decretada ilegal em setembro e o grupo foi condenado a deixar o local. Nessa semana, a Justiça garantiu a permanência numa área de 10 mil metros quadrados até que seja concluído o trabalho de demarcação das terras em disputa. Para o líder indígena, no entanto, a decisão não garante a solução. “Já ouvimos muitos discursos bonitos, muita promessa. Queremos a demarcação de nosso território. Isso pelo menos minimiza a violência que estamos sofrendo”, disse Eliseu Lopes Kaiowá.

Os representantes da aldeia relataram crimes cometidos contra os índios e a presença de “pistoleiros” na região. “Não queremos prejudicar o agronegócio. Reivindicamos uma parte (da terra). Nós estamos prontos para conversar. Não somos violentos. Não temos armas”, disse o antropólogo.

Para o procurador da República no município de Dourados (MS), Marco Antonio Delfino, a solução é dar a titularidade das terras e indenizar os fazendeiros. Também presente na audiência, a presidente da Funai, Marta Maria do Amaral Azevedo, cobrou mais recursos para os processos de demarcação de terras e o envolvimento efetivo do governo.

Em resposta às declarações dos índios, senadores e deputados propuseram a criação de uma comissão mista para acompanhar as negociações no Estado e visitar a região foco do conflito. Segundo o senador Delcídio do Amaral (PT-MS), o grupo deve envolver integrantes do Congresso e do Palácio do Planalto. “Nós aguardamos a visita de vocês”, respondeu um integrante da aldeia aos parlamentares.

Por Lilian Venturini, de O Estado de S.Paulo – atualizado às 14h07

Com informações da Agência Senado

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