Eletrobras:
a ação mais odiada bolsa
Analistas
quase desistem dos papéis e banco diz que ação vale 1 real
O Barclays reduziu o preço-alvo às ações da Eletrobras em 97%, para 1 real |
Do chão não passa. Essa é a única
certeza que parecem ter os acionistas e analistas sobre o futuro da Eletrobras.
Os investidores estão perplexos com o desempenho recente da estatal de energia
elétrica na Bovespa. Só em novembro os papéis preferenciais de classe B (ELET6)
já acumulam uma queda de 35%. Na mínima de hoje, os ativos eram negociados a
10,37 reais. Esse é o valor mais baixo desde maio de 2003.
Poucas vezes se soube tão bem o
número de uma Medida Provisória, como a 579. O texto trata das novas regras
para as concessões no setor. Segundo o documento, cada empresa precisa
manifestar a intenção de adotar as novas regras com preços mais baixos para
garantir a renovação e receber uma indenização. A outra saída é indicar a
manutenção das condições atuais até o final da concessão. Aí, porém, não terá a
renovação garantida.
Com o controle estatal, a Eletrobras
já manifestou a sua intenção em prosseguir com as concessões nos novos termos
para não melar de vez o plano do governo Dilma Rousseff em reduzir as tarifas,
na média, em 20%. Outras companhias, como a Cemig, peitaram o governo e já
falam em entrar na Justiça caso não haja uma negociação dos termos. O
Senado Federal tem até 18 de dezembro para votar a MP.
O problema é que a indenização
proposta pelo governo federal ficou aquém das expectativas. Enquanto o mercado aguardava algo
em torno de 30 bilhões de reais, o valor a ser pago será de 13,9
bilhões de reais. A companhia divulgou na sexta-feira um estudo sobre os
impactos da nova realidade. As perdas esperadas em receitas chegam a 8,7
bilhões de reais, além de uma baixa contábil de ativos de aproximadamente 17
bilhões de reais.
“O fato é que os termos propostos
não são satisfatórios para garantir a saúde financeira e capacidade de
investimentos da empresa, ou mesmo a continuidade na remuneração aos
acionistas”, afirma a analista Karina Freitas, da Concórdia Corretora.
A Eletrobras já admite corte de
custos para se adequar à queda brusca na geração de caixa, o que também irá
resultar na renegociação dos termos dos títulos de dívida em circulação no
mercado.
Ações
Não há um analista otimista com o
futuro da empresa na bolsa, mas o mais pessimista provavelmente está no
Barclays.
Em um relatório enviado para
clientes nesta segunda-feira, os analistas Francisco Navarrete, Tatiane Shibata
e Giovanna Siracusa reduziram o preço-alvo aos papéis ordinários e
preferenciais de 29 reais e 20 reais para apenas 1 real para 12 meses. Os
cortes representam uma baixa de 97% e 95%, respectivamente.
“Devido à queda das receitas, o
nosso alvo depende muito dos esforços de cortes nos custos. A Eletrobras mira
20% de redução até 2018, mas projetamos apenas 15% devido ao fraco histórico em
conter os gastos”, ressaltam na análise.
Com o caixa apertado, o mercado
espera ainda a realização de uma oferta de ações para arrecadar entre 8 a 10
bilhões de reais para capitalizar a companhia. O resultado será a diluição de
36% de participação para os atuais acionistas.
E com o corte de custos no item 1 do
plano da empresa não há mais como esperar o pagamento de dividendos. Para
Marcos Severine, do Itaú BBA, está claro que “não haverá dividendos no curto e
no médio-prazo”. Em um relatório, Severine reduziu o preço-alvo às ações
ordinárias e preferenciais para 8 reais, de 13 e 17,50, respectivamente.
Gabriel Salas, do JPMorgan, resumiu
a visão do mercado em relação ao que está acontecendo com a empresa: “A
Eletrobras enfrenta uma bifurcação na estrada, na qual deve decidir se vai ser
uma empresa que maximize o lucro ou se será um ministério com ações”, disse
em uma entrevista à Bloomberg.
A empresa convocou os acionistas
para deliberar sobre o assunto no próximo dia 3 de dezembro, um dia antes da
data final de apresentação das propostas para o governo. Não há expectativa de
um resultado diferente. O representante dos minoritários no Conselho de
Administração renunciou ao cargo na semana passada.
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