Selic
não deve mais sofrer cortes bruscos e pode se manter ou se elevar ao longo de
2013;
veja
os investimentos que se tornam atrativos e os que perdem atratividade
Prefixados perdem atratividade por ora, mas títulos atrelados à inflação continuam interessantes |
O corte sem fôlego e sem consenso da taxa Selic nesta
quarta-feira pode ter tido um significado diferente para as aplicações
de renda
fixa. Será que os títulos
públicos prefixados
vão continuar a se valorizar? Ainda é vantajoso comprar papéis atrelados à inflação?
Vale a pena investir em pós-fixados para caso os juros comecem a subir?
Essas perguntas fazem mais sentido hoje do que se tivessem sido
feitas há alguns meses. Isso porque há alguns indícios de que o ciclo de queda
nos juros está desacelerando e pode mesmo ver uma reversão. O corte de 0,25
ponto percentual desta quarta-feira foi menor do que os cortes anteriores, e
nem mesmo houve consenso da equipe do Copom. Boa parte do mercado esperava, na
verdade, manutenção da Selic em 7,5% ao ano, conforme o último Boletim Focus.
Além disso, a inflação, embora ainda controlada, pressiona.
Segundo o último Boletim Focus, o
mercado espera que 2012 termine com uma inflação de 5,42%, acima dos 5,20%
previstos pelo governo. A previsão do mercado é que 2013 termine com uma
inflação um pouco mais alta, de 5,44%. Para o final de 2013 é esperado que a
Selic esteja em 8,0% ao ano, levemente acima do patamar atual. “Não está mais
tão claro que o caminho dos juros é apenas de queda. O risco ficou muito maior,
então não há uma posição tão clara de investimento”, diz Renato Roizenblit,
gestor de wealth management da corretora SLW, que oferece produtos de renda
fixa.
“Achamos que a Selic só deve subir lá
para metade do ano que vem”, diz Nastassia Romanó, economista da corretora Omar
Camargo, que elabora carteiras recomendadas de renda fixa. O mercado de juros
futuros, na BM&F, negocia o DI de um dia prevendo uma queda muito modesta
até o meio do ano que vem, a partir de quando os juros negociados entram em
elevação. Este também é o
entendimento de outras instituições financeiras.
Com este cenário, veja quais
investimentos se tornaram atrativos e quais estão perdendo a atratividade:
Títulos
prefixados (LTN e NTN-F): perdem a atratividade
Os títulos públicos prefixados – que
acordam uma taxa de juro no ato da negociação – perdem a atratividade neste
cenário de incerteza, em que o mercado espera manutenção com posterior elevação
de juro. Esses papéis se valorizam quando a Selic cai – quem comprou a LTN que
vence em janeiro de 2013 no início de julho de 2011, antes do início do ciclo
de queda de juros, viu seus títulos valorizarem 18% desde então. Mas como não
são mais esperadas grandes reduções para a taxa de juros, o grande momento de
ganho desses títulos já passou.
Quem
pretende investir a partir de agora: “A partir de agora, prefixados não seriam os mais indicados, pois
a curva de juros já fechou e as perspectivas não estão mais positivas”, diz
Nastassia Romanó.
Quem já
tem prefixados na carteira: Há duas opções: não fazer nada, esperar
o vencimento do título e embolsar o juro pré-acordado; ou realizar o ganho com
a valorização do papel. Vai de caso a caso, sendo necessário avaliar qual a
alternativa mais rentável. A primeira opção é a mais conservadora e menos
arriscada. Se a taxa prefixada era de 8,0% ao ano, esta será a rentabilidade do
investidor no vencimento, não importando se seu título ganhou ou perdeu valor.
A segunda opção é mais arriscada, pois é especulativa. Se os juros de fato
continuarem a cair, quem vendeu seus títulos ficará de fora da valorização
posterior. “Nosso fundo de renda fixa saiu de alguns prefixados para aproveitar
esse momento. Às vezes você perde uma boa oportunidade se espera até o
vencimento”, observa a economista da Omar Camargo.
Papéis atrelados à inflação (NTN-B e CDB-IPCA):
continuam atrativos
Os papéis atrelados à inflação contam com uma parte da remuneração
prefixada e a outra parte corrigida de acordo com a inflação pelo IPCA. Há
títulos públicos com esse perfil, as NTN-B, e também CDBs, vendidos por bancos,
especialmente os médios. Embora os títulos públicos atrelados à inflação se
valorizem quando as taxas de juros estão em queda, em função da porção
prefixada da remuneração, o atual momento econômico continua favorecendo
investimentos ligados à inflação em geral, uma vez que os índices se mantêm em
patamares altos.
“Vai chegar um momento em que a
inflação vai pesar. Por isso, esses títulos têm perspectiva positiva”, observa
a economista da Omar Camargo. Ela lembra que uma retomada econômica, os
gargalos de infraestrutura, o baixo nível de desemprego e os salários em alta
são fatores que pressionam a inflação brasileira.
Quem
pretende investir a partir de agora: Para Nastassia Romanó, a perspectiva é positiva em função da
inflação alta. Isso favorece quem deseja investir para carregar o papel até o
vencimento, uma vez que o investidor garante uma remuneração, ainda que baixa,
acima da inflação. E preservar o poder de compra em tempos de inflação alta
vale ouro. Para quem quer especular, as NTN-B já se tornaram arriscadas, uma
vez que sua valorização provavelmente já não será tão grande daqui para frente.
Quem já
tem papéis atrelados à inflação na carteira: Para a economista, devem ser mantidos. Considerando a NTN-B com
vencimento em 2015 (uma vez que esses títulos são mais indicados para
aplicações de prazo mais longo), quem comprou um título desses em julho do ano
passado acumulou uma rentabilidade de quase 21% desde então, em valorização do
papel. Assim como no caso dos prefixados, o investidor até pode sair do papel
agora para embolsar o lucro da valorização. Mas essa operação envolve o risco
de perder a oportunidade de garantir um ganho real alto, uma vez que as NTN-B
vendidas hoje oferecem taxas prefixadas bem menores do que no meio do ano
passado, por exemplo. Enquanto quem comprou o título lá atrás garantiu juro
real de mais de 6% ao ano, quem comprar uma NTN-B longa hoje ganhará em torno
de 4% de juro real. Por isso, é preciso avaliar caso a caso qual foi a
valorização e qual é o objetivo do resgate.
Investimentos
isentos de IR: ganham atratividade
O atual momento favorece os
investimentos em renda fixa isentos de IR. Eles costumam oferecer uma
rentabilidade um pouco superior à da caderneta da poupança e dos demais
investimentos pós-fixados por serem isentos de taxas e de imposto de renda
sobre os rendimentos. Trata-se de títulos de crédito privado pré ou pós-fixados
oferecidos por instituições financeiras, como Letras de Crédito Imobiliário
(LCI), Letras de Crédito Agrícola (LCA) e Certificados de Recebíveis
Imobiliários (CRI). Normalmente, porém, esses papéis não têm liquidez diária: a
carência varia de poucos meses a mais de um ano.
As LCI são as mais indicadas para
pequenos investidores, pois seu valor unitário costuma ser mais acessível, e
elas contam com a proteção do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) para quantias
de até 70.000 reais por CPF por instituição. Emitidos por bancos grandes e
médios, esses títulos são lastreados nos recebíveis imobiliários da instituição
emissora, isto é, nos financiamentos de imóveis concedidos por ela. Podem ser
pré ou pós-fixados ao CDI.
Em razão disso, o maior risco desses papéis é a
quebra do banco emissor. Mas se o investimento for feito dentro do limite de
70.000 reais – sempre deixando uma folga para que a rentabilidade também seja
garantida – esse risco fica bastante reduzido. Assim, o investidor conta com
uma aplicação de baixo risco, boa rentabilidade e isenta de impostos ou taxas
que possam comer o rendimento.
Renato Roizenblit, gestor de wealth management da SLW e entusiasta
desses produtos, lembra que bancos médios podem oferecer uma rentabilidade
maior, mas que o risco de crédito também é mais elevado que o dos bancos
grandes. Por isso é importante respeitar os limites do FGC, nem que seja para
montar uma carteira com papéis de diversas instituições, com valores inferiores
a 70.000 reais em cada uma. “Assim dilui-se o risco do emissor. É uma
estratégia interessante”, observa Roizenblit.
CRI e LCA não contam com a garantia do
FGC e costumam ter valor de face alto, sendo indicadas apenas para investidores
qualificados, ou seja, que têm ao menos 300.000 reais em aplicações
financeiras. As CRI são emitidas por securitizadoras responsáveis por
estruturar os créditos imobiliários. O risco aqui é de calote dos próprios
tomadores do empréstimo, mas pode haver a garantia da alienação fiduciária do
imóvel ou outras garantias da própria securitizadora. Já a LCA é um título
pós-fixado ao CDI, emitido por bancos e vinculado a direitos creditórios
originários de negócios na área rural, como financiamentos e empréstimos para a
produção agropecuária.
Fundos
imobiliários: ganham atratividade
Os fundos
imobiliários não
são investimentos de renda fixa, mas ganham atratividade justamente por causa
de seu "componente de renda fixa": os aluguéis pagos, que ainda por
cima são isentos de IR. Só se paga imposto sobre a eventual valorização das
cotas que, estas sim, estão sujeitas às oscilações do mercado de renda
variável. Além disso, esse investimento conta com uma proteção contra a
inflação: “Os contratos de aluguel costumam ser reajustados pelo IGP-M, que
continua alto”, lembra Nastassia Romanó, da Omar Camargo.
Pós-fixados:
perdem atratividade, mas continuam importantes
A nova queda nas taxas de juros
sacrificou ainda mais a rentabilidade da poupança,
dos fundos DI, dos CDB-DI e das LFT, os títulos públicos atrelados à Selic.
Esses investimentos são indexados à taxa básica de juros e perdem em
rentabilidade sempre que a perspectiva de juros é de queda.
Com a rentabilidade atual, essas
aplicações nem conseguem, em alguns casos, repor a inflação. Se a previsão do
BC para a inflação se concretizar, por exemplo, e o IPCA fechar o ano em 5,20%,
poupança e fundos DI com taxas de administração de 1,0% ao ano perdem para a
inflação. CDBs que paguem 90% do CDI empatam e as LFT superam o índice por
pouquíssimo. Veja como ficaram os rendimentos dessas aplicações após o último
corte de juros.
Manter investimentos de alta liquidez e
baixíssimo risco, porém, é importante para os objetivos de curto prazo do
investidor. Até seis meses, a poupança ainda é a aplicação mais vantajosa.
Acima desse prazo, já é melhor buscar outros tipos de aplicações pós-fixadas.
Seja como for, o desafio agora é buscar fundos DI que cobrem taxas de
administração inferiores a 1,0% ao ano, corretoras que cobrem taxa de
administração inferior a 0,7% ao ano para investimentos no Tesouro Direto e CDBs que paguem mais de 90% do CDI.
No caso dos CDBs, existem as
alternativas dos bancos médios, que oferecem 100% ou mais do CDI para
diferentes prazos. Atualmente, o Sofisa Direto e o CDB Direto, do banco Ficsa,
oferecem essa modalidade. O mais importante, porém, é investir menos de 70.000
reais em uma única instituição, para contar com a cobertura do FGC até mesmo
para a rentabilidade.
Fundos
As estratégias descritas nesta
reportagem podem ser encontradas também em fundos de renda fixa que invistam em
títulos públicos e crédito privado, além de fundos multimercados da modalidade
juros e moedas. A vantagem dos fundos, lembra Renato Roizenblit, é que eles
podem surfar as tendências de mercado sem que as vendas de ativos se configurem
em fatos geradores de IR para o cotista. Assim, os fundos conseguem vender um
título prefixado e comprar uma NTN-B sem que o cotista precise pagar IR, que só
é cobrado semestralmente na forma do come-cotas.
“É claro que é preciso escolher um bom
gestor, esse é o ponto mais sensível”, lembra o gestor da SLW. Afinal, fundos
de investimento cobram taxas de administração para remunerar os seus gestores,
e elas também não podem ser tão altas que os ganhos não as compensem.
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Dag Vulpi