São Paulo – Movimentos sociais,
liderados pelo Levante Popular da Juventude, fizeram hoje (20), na região da
Avenida Paulista, no centro de São Paulo, uma manifestação para expor
publicamente um ex-militar reformado acusado de ter comandado sessões de tortura
e homicídios durante a ditadura militar. O tipo de manifestação é inspirada em
ações similares feitas na Argentina e no Chile chamadas de Escracho.
Cerca de 60 pessoas, segundo a
Polícia Militar, fizeram uma pequena caminhada pela Avenida Paulista até a Rua
Manoel da Nóbrega, endereço onde vive atualmente o ex-militar Homero César
Machado, que chefiou equipes de interrogatório no antigo DOI-Codi (Destacamento
de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna) entre os
anos de 1969 e 1974.
“O que fazemos aqui é reivindicar a
memória das pessoas que lutaram contra a ditadura militar e também reivindicar
o presente, porque hoje vemos esses torturadores impunes. Este torturador
[Machado] vive tranquilo em sua casa, não foi julgado e nem condenado, vive com
aposentadoria paga com dinheiro público. O que ficou impune na ditadura dá
carta branca para que esses crimes continuem acontecendo”, disse Paula
Sacchetta, da Frente de Esculacho Popular.
Durante a caminhada, manifestantes
colaram, em postes e latas de lixo, cartazes com fotos de pessoas que teriam
sido torturadas por Machado na época da ditadura militar e distribuíram
folhetos para a população informando que “um torturador mora neste bairro”.
Na frente do prédio onde Machado
mora, parentes de Virgílio Gomes da Silva, que foi morto e torturado durante a
ditadura militar, seguraram um megafone para dizer aos vizinhos que ali “mora
um torturador”. Uma coroa de flores foi depositada em frente ao prédio e gritos
e faixas lembravam um dos lemas do movimento: “Se não há Justiça, há esculacho
popular”.
A viúva de Virgílio Gomes da Silva,
Ilda Martins da Silva, acompanhou a manifestação de hoje com seu filho,
Virgílio Gomes da Silva Filho e uma neta. “Ele [Virgílio Gomes da Silva] foi
morto e torturado [na ditadura militar] e está desaparecido há 42 anos”, disse
ela. Ilda foi presa no dia seguinte com três de seus quatro filhos.
“Quando eu fui presa, ele já estava
morto. E eu não sabia. Fiquei presa com meus três filhos. Levaram eles para o
Dops e, de lá, para um juizado. Ofereceram eles [meus filhos] para doação.
Fiquei presa por nove meses, quatro deles incomunicável, sem poder ver meus
filhos. Fui torturada tanto fisicamente quanto psicologicamente”, disse.
O filho de Virgílio tinha 6 anos na
época. “O que sabemos são relatos de companheiros que estavam presos na época.
Sabemos que no dia 29 de setembro de 1969, ele foi preso numa emboscada.
Levaram ele para o Dops [Departamento de Ordem Política e Social] e bastaram
seis horas de tortura para conseguirem matá-lo”, disse Silva Filho. Segundo
ele, Homero César Machado foi um dos torturadores de seu pai.
A família de Vírgilio Gomes da Silva
disse esperar pela condenação judicial dos torturadores da época. “Espero sim
[condenação]. Não importa o tempo que dure para a justiça chegar”, disse o
filho.
O ato chamou a atenção de vários
moradores da região. Vários deles apenas espreitavam a manifestação pela
janela, mas alguns desceram de seus apartamentos para saber o que estava
ocorrendo. “Cumprimento o cara [Machado] há anos e nunca imaginei. Fiquei com
nojo. Quando vi as fotos [dos torturados estampadas nos cartazes] e li as
histórias, fiquei mesmo revoltada”, disse Sandra Gaui, moradora de um prédio
próximo.
“Acho esses escrachos fundamentais
porque, não é coisa dos atingidos ou das famílias. É coisa da sociedade,
principalmente de jovens que abraçaram essa causa. É um pessoal que diz que a
violência policial de hoje é fruto do passado e que os desaparecidos precisam
ser localizados para se acabar com a impunidade”, disse Ivan Seixas, da
Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos.
Segundo Seixas, o capitão Homero
“era um dos militares mais furiosos nas torturas”. Para ele, movimentos como
esse contribuem para se fazer uma condenação moral dos torturadores, enquanto a
condenação judicial ainda não ocorreu.
A Agência Brasil não
conseguiu falar com Machado. Um dos funcionários do prédio informou que Machado
não estava no local no momento do ato. Uma vizinha de apartamento disse que há
15 dias ele não se está no prédio. “Ele sempre foi muito gentil e educado. Até
tomei um susto agora com essas informações. Ele não está aí. As
correspondências dele estão na mesinha do lado do nosso corredor”, disse
Fernanda Teixeira de Carvalho Souza.
Elaine Patricia Cruz Edição: Fábio Massalli (Agência Brasil)
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