Com a divulgação de estudo em que o Brasil aparece em segundo lugar em número de usuários de crack e cocaína do mundo, ficando atrás apenas dos Estados
Unidos, especialistas na área de saúde apontam para reflexão sobre as políticas
antidrogas adotadas no país.
Especialista
em dependência química e integrante da Associação Brasileira de Estudos do
Álcool e outras Drogas (Abead), o psiquiatra Carlos Salgado ressalta a ênfase
dada ao modelo ambulatorial por parte das políticas públicas, deixando, em
segundo plano, o tratamento com internação. A demanda por mais vagas para
internação acentuou-se com o consumo do crack, já que a droga deixa os usuários
em situações de extrema gravidade, avalia o psiquiatra.
Salgado
acredita que os cuidados ambulatoriais são úteis para parte dos usuários, porém
a ênfase nesse tipo de tratamento é uma “política
ingênua”. “Pensam que a dependência
química é uma questão de escolha de vida e que não precisa de grandes
investimentos. O que temos tido é uma visão que aplica uma ideologização da
liberdade. O sujeito é livre pra usar drogas e quando precisar vai para o
ambulatório,” disse o médico.
Em
dezembro do ano passado, o governo federal lançou programa de combate ao crack,
que prevê, entre outras ações, criação de enfermarias especializadas nos
hospitais da rede pública e leitos exclusivos para internação de curta duração,
crises de abstinência e casos de intoxicações graves de usuários de drogas.
Estão previstos investimentos de R$ 4 bilhões até 2014. O psiquiatra destaca o
início dos investimentos do governo na abertura de vagas para internação, porém
argumenta que o orçamento voltado para a saúde é insuficiente para preencher
todas as lacunas.
Perguntado
sobre tratamentos adotados em outros países que poderiam ser implantados no
Brasil, Salgado assegura que o país tem condições de criar modelos adequados
para todos os níveis de dependência química e que não precisa seguir nenhum
outro adotado no exterior. “Na rede
privada, o Brasil oferece tratamentos, em todos os níveis de dependência, iguaiszinhos
ou até melhores dos que ocorrem nos países mais ricos do mundo. O Brasil sabe
muito sobre dependência química, mas o Poder Público resolveu ouvir pessoas que
pensam de forma ingênua.”
O
levantamento do Instituto Nacional de Pesquisa de Políticas Públicas do Álcool
e Outras Drogas (Inpad), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), aponta
baixo de índice, menos de 10%, de busca dos usuários de cocaína e crack por
tratamento.“O acesso é muito difícil no
Brasil e a qualidade do tratamento é muito precária. Então, é isso que a gente
tem que mudar, nós temos que criar um sistema que realmente funcione”,
disse o psiquiatra e organizador do estudo, Ronaldo Laranjeira, durante a
divulgação dos dados.
Procurada
pela Agência Brasil, a assessoria do Ministério da Saúde informou que não irá
se pronunciar sobre a pesquisa, por se tratar de tema relacionado ao Ministério
da Justiça, que também não comentou os resultados do levantamento.
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