Carolina
Sarres
O
Ministério da Fazenda estuda mudar até o final do ano as regras para
investimentos feitos por entidades de previdência complementar aberta, que
reúnem cerca de 42 milhões de participantes, segundo a Superintendência de
Seguros Privados (Susep), órgão vinculado à pasta, responsável pelo
controle e pela fiscalização dessas atividades.
Os
planos de previdência aberta são disponíveis à adesão de qualquer interessado,
sem restrições quanto a vínculos a instituições patrocinadoras, e somam
aproximadamente R$ 302 bilhões em ativos, segundo dados da Federação Nacional
de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi), valor equivalente a pouco mais da
metade de tudo que a cidade de São Paulo produziu até setembro deste ano, de
acordo com a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do estado
(Fecomercio-SP). Só o faturamento das 49 entidades do ramo, no primeiro
semestre de 2012, foi cerca de R$ 1,9 bilhão.
As
entidades previdenciárias fazem investimentos com os depósitos dos
participantes para garantir o retorno do benefício quando o contribuinte se
aposentar, movimentando o montante arrecadado e evitando desvalorização. Os
tipos de aplicação disponíveis variam entre fundos de investimento, títulos
públicos e ações, entre outros.
O
guarda municipal de Curitiba, José Eduardo Recco, 44 anos, prevê sua
aposentadoria para daqui a dez anos. Segundo ele, depois de fazer uma
comparação entre diversos tipos de investimento, decidiu fazer um plano de
previdência complementar. Optou pelo sistema aberto, pois, como funcionário
público, receberá a aposentadoria pelo regime estatutário e não tinha a opção
de participar de uma Entidade Fechada de Previdência Complementar (EFPC), os
fundos de pensão restritos aos funcionários de empresas patrocinadoras.
“Como
servidor, não tenho Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e pensei que
poderia fazer um fundo próprio para quando parar de trabalhar. Quero ter
dinheiro extra para viajar. Quando pus no papel o que lucraria com uma poupança
ou com outros tipos de investimento, a previdência me pareceu o melhor
negócio”, disse Recco.
O
guarda paga mensalmente um valor fixo e o montante a ser recebido quando se
aposentar dependerá dos rendimentos obtidos pelos investimentos feitos pela
entidade da qual é participante.
No
caso das mudanças estudadas pela Fazenda, existe a possibilidade de essas
entidades abertas não poderem investir mais de 20% dos seus ativos em títulos
públicos, cujos rendimentos são atrelados à taxa Selic, que vem sendo
progressivamente reduzida pelo Banco Central nos últimos meses. O Ministério da
Fazenda confirmou à Agência Brasil que o objetivo é desindexar os
investimentos da Selic, a taxa básica de juros, já que essa indexação
comprometeria os efeitos da política econômica.
Para
o advogado especialista em previdência do Instituto Millenium, Sebastião
Ventura, a previdência complementar vem ganhando estímulo do governo, que tem
percebido que a solução para o envelhecimento da população e a crescente
demanda por previdência é o repasse de parte da responsabilidade para os
sistemas privado e complementar.
“Estamos
em um momento de mudança do paradigma previdenciário, em que o Estado
estabelece um teto para a sua ação. Ele [Estado] vai arcar com os custos, mas
limitadamente. Quem quiser mais, terá de ir para a previdência complementar. É
uma forma de contornar o fato de que o sistema público não tem como atender de
forma digna a todo o universo de trabalhadores”, explicou Ventura.
Segundo
ele, da forma que o sistema previdenciário complementar é administrado, deve
haver a consciência por parte dos beneficiários de que se trata de um risco
compartilhado. O participante contribui com a expectativa de receber
determinado montante, que pode variar de acordo com os investimentos e com a
atividade econômica.
“Títulos
públicos são uma forma segura de investimento que trazem rendimentos
constantes, de uma forma geral. Assim, essas mudanças da Fazenda podem gerar
mudanças substanciais nos rendimentos desse tipo de previdência [aberta], que é
o que atinge o maior número de pessoas. Essa questão deveria ser mais debatida
entre as partes interessadas, como as empresas que provêem o serviço, os
beneficiários e as patrocinadoras, para que as alterações não resultem em
futuras ações judiciais por prejuízo ao beneficiário devido a rendimentos
abaixo do esperado”, informou Ventura.
De
acordo com a Susep, não há informações quanto ao percentual do total de ativos
dos participantes de previdência aberta que é investido em títulos públicos. No
caso dos planos de previdência fechada, 15,64% dos ativos dos fundos são
investidos em títulos – o que chega a cerca de R$ 93 bilhões. Apesar de ter
menos participantes, aproximadamente 3,2 milhões de pessoas, as entidades
fechadas somam mais do dobro de ativos do que as abertas, cerca de R$ 626,3 bilhões,
de acordo com o relatório do segundo trimestre de 2012 da Superintendência
Nacional de Previdência Complementar (Previc), vinculada ao Ministério da
Previdência Social (MPS). Ainda de acordo com o relatório, a principal forma de
aplicação das EFPCs são fundos de investimento (59,8%).
Há no
Brasil 332 entidades de previdência fechada, das quais 229 são privadas, 84
públicas e 19 por patrocínio de instituidor (como sindicatos, entidades
classistas ou setoriais). O sistema de previdência fechada atende a cerca de
3,6 milhões de pessoas.
No
mercado, há mais de mil tipos de planos previdenciários no sistema fechado, que
podem render benefícios segundo contribuição definida (em que as contribuições
têm sempre o mesmo valor), benefício definido (em que o total a ser recebido no
futuro é pré-fixado) ou contribuição variável (valor das contribuições e do
benefício variam de acordo com a rentabilidade do fundo).
O
Previ, do Banco do Brasil, é responsável por 24,5% do contingente de ativos,
cerca de R$153,5 bilhões. Em seguida, os maiores fundos são o Petros, da
Petrobras, e a Fundação dos Economiários Federais (Funcef), da Caixa Econômica
Federal – todos formados por empregados públicos. No caso dos planos de
previdência aberta, os maiores são os dos bancos privado Bradesco e Itaú.
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