A Constituição é aquela tentativa de
um povo de definir alguns pontos, básicos e fundamentais, que serão aceitos por
todo cidadão. A encrenca começou de cara, bem no comecinho da Carta: Nós,
representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte
para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos
direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o
desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade
fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e
comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das
controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.
Sob a proteção de Deus, me garantem
os juristas de plantão, não acresce nem retira nenhum direito nosso e nem
concede a Deus poder jurisdicional sobre o cidadão brasileiro: Assim espero!
Mas vem daí, desta pequena e
negociada inserção, uma outra interpretação das bancadas cristã e evangélicas.
Não bastando nos colocar sob a proteção pretendem nos colocar sob
jurisdição. Fica a pergunta: É, ou não, inconstitucional a atuação de uma
bancada religiosa na casa que cria as nossas leis?
Pelo artigo 19 da Constituição ,
abaixo na íntegra (É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios: I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los,
embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes
relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração
de interesse público;), considero que sim.
Não bastasse o flagrante delito
perpretado contra as religiões afro-brasileiras (VI - é inviolável a liberdade
de consciência e de crença), que nunca foi suficientemente apurado e nem
resultou em sanção a quem quer que fosse. Nos vemos nas mãos de pessoas que
gostariam de transformar nosso país em um estado teocrático...
Convém reparar que se os evangélicos aumentaram
em 233% em 20 anos (1980/2000), os sem religião aumentaram
456% no mesmo período. Vamos deixar a minoria se impor no grito?
Abaixo alguns textos e uma
reportagem que serviram de subsídio para a proposta desta discussão.
A
religião na Constituição:
VI - é inviolável a liberdade de
consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos
religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a
suas liturgias;
VII - é assegurada, nos termos da
lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de
internação coletiva;
VIII - ninguém será privado de
direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política,
salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e
recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;
Art. 19. É vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I - estabelecer cultos religiosos ou
igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou
seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da
lei, a colaboração de interesse público;
II - recusar fé aos documentos
públicos;
III - criar distinções entre
brasileiros ou preferências entre si.
Textos abaixo retirados deste link:
http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/civitas/article/v...
Tabela 1
Religiões declaradas nos censos do Brasil
em 1980, 1991 e 2000 (população residente)
Religião
|
1980
|
1991
|
2000
|
Católicos
|
89,2
|
83,3
|
73,7
|
Evangélicos
|
6,6
|
9,0
|
15,4
|
Espíritas
|
0,7
|
1,1
|
1,4
|
Afro-brasileiros
|
0,6
|
0,4
|
0,3
|
Outras religiões
|
1,3
|
1,4
|
1,8
|
Sem religião
|
1,6
|
4,8
|
7,3
|
TOTAL (*)
|
100,0%
|
100,0%
|
100,0%
|
(*) Não inclui religião não declarada e não determinada.
Fontes: IBGE, Censos demográficos.
Tabela 2
Religiões declaradas nos censos do Brasil
em 1980, 1991 e 2000 (população residente)
Religião
|
1980
|
1991
|
2000
|
Católicos
|
89,2
|
83,3
|
73,7
|
Evangélicos
|
6,6
|
9,0
|
15,4
|
Espíritas
|
0,7
|
1,1
|
1,4
|
Afro-brasileiros
|
0,6
|
0,4
|
0,3
|
Outras religiões
|
1,3
|
1,4
|
1,8
|
Sem religião
|
1,6
|
4,8
|
7,3
|
TOTAL (*)
|
100,0%
|
100,0%
|
100,0%
|
(*) Não inclui religião não declarada e não determinada.
Fontes: IBGE, Censos demográficos.
Antes de tudo é preciso observar
que, no caso das religiões afro-brasileiras, o censo oferece sempre cifras
subestimadas de seus seguidores.
Isso se deve às circunstâncias
históricas nas quais essas religiões se constituíram no Brasil e ao seu caráter
sincrético daí decorrente.
Para o candomblé, que está mais
perto do pensamento africano que a umbanda, o bem e o mal não se separam, não
são campos distintos. A umbanda, porém, quando se formou, se imaginou também
como religião ética, capaz de fazer a distinção entre o bem e o mal, à moda
ocidental, cristã.
Mas acabou criando para si uma
armadilha. Separou o campo do bem do campo do mal. Povoou o primeiro com seus
guias de caridade, os caboclos, pretos-velhos e outros espíritos bons, à moda
kardecista. Para controlar o segundo, arregimentou um panteão de exus-espíritos
e pombagiras, entidades que não se acanham em trabalhar para o mal quando o mal
é considerado necessário. Ficou dividida entre dois campos opostos, “entre a cruz
e a encruzilhada”, na feliz expressão de Lísias Nogueira Negrão (1996).
Tratado durante muito tempo com
discrição e segredo, o culto dos exus e pombagiras, identificados erroneamente
como figuras diabólicas, veio recentemente a ocupar na umbanda lugar aberto e
de realce (Prandi, 1996, cap. 4; 2001). Era tudo de que precisava um certo
pentecostalismo: agora o diabo estava ali bem à mão, nos terreiros adversários,
visível e palpável, pronto para ser humilhado e vencido. O neopentecostalismo
leva ao pé da letra a idéia de que o diabo está entre nós, incitando seus
seguidores a divisá-lo nos transes rituais dos terreiros. Pastores da Igreja
Universal do Reino de Deus, em cerimônias fartamente veiculadas pela
televisão, submetem desertores da umbanda e do candomblé, em estado de transe,
a rituais de exorcismo, que têm por fim humilhar e escorraçar as entidades
espirituais afro-brasileiras incorporadas, que eles consideram manifestações do
demônio (Almeida, 1995; Mariano, 1999).
Por fim foram deixados em paz pela
polícia (quase sempre), mas ganharam inimigos muito mais decididos e dispostos
a expulsá-los do cenário religioso, contendores que fazem da perseguição às
crenças afro-brasileiras um ato de fé, no recinto fechado dos templos como no
ilimitado e público espaço da televisão e do rádio. Não foi um ato isolado e
gratuito o discurso do pastor fluminense Samuel Gonçalves, da Assembléia
de Deus, um dos apoiadores do candidato evangélico Anthony Garotinho à
presidência da república, em que afirmou que uma das “três maldições” do Brasil
é a religião africana (Folha de S. Paulo, 30/07/2002, p. A6). Pouco antes do
primeiro turno das eleições presidenciais, o Painel da Folha de S. Paulo deu a
seguinte notícia, com o intertítulo de Guerra santa: “Panfletos distribuídos
por evangélicos reclamam que Brasília ‘está se transformando em um terreiro de
candomblé’, pois estátuas de orixás foram colocadas em um parque.
Para mudar isso, diz o documento, só
há uma solução: (eleger) Garotinho para presidente e Benedito Domingos (PPB-DF)
para governador” (Folha de S. Paulo, 24/09/2002, p. A4). Se se confirma esse
novo horizonte político-partidário, em que os evangélicos se fazem presentes
até mesmo numa candidatura como a de Lula à presidência da república, na
espantosa coligação entre o PT e o PL, em parte controlado pela IgrejaUniversal
do Reino de Deus, não há de ser muito alvissareiro o futuro das religiões
afro-brasileiras. Nos tempos atuais, a perseguição sofrida pelas religiões
afro-brasileiras passou de órgãos do Estado para instituições da sociedade
civil. Pode bem voltar ao Estado, se os governos caírem em mãos religiosas
intolerantes?
AE - Agência Estado
08 de outubro de 2010 | 12h 03
Com o ataque à descriminalização do
aborto e ao casamento gay como bandeiras, a bancada evangélica aumentou sua
participação no Congresso Nacional em quase 50%. A bancada de bispos, pastores
e integrantes das igrejas evangélicas saiu das eleições de domingo com mesmo
número de parlamentares do PSDB. Só perde agora para as bancadas do PT e do
PMDB, partidos com o maior número de representantes no Congresso.
Levantamento feito pelo Departamento
Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) registra a reeleição de 32 dos
45 parlamentares da bancada e a eleição de mais 34 integrantes de igrejas
evangélicas. Com Assembléia de Deus à frente na contabilidade, a bancada tem
agora 63 deputados e 3 senadores.
Os números mostram que a bancada
evangélica reverteu o desfalque sofrido nas eleições de quatro anos atrás - e
que interrompeu um crescimento iniciado nos anos 80. A bancada minguou na
eleição de 2006 em decorrência do envolvimento de parte de seus integrantes nos
escândalos do mensalão e da máfia dos sanguessugas. Esse último flagrou
parlamentares no esquema da compra de ambulâncias por preços superfaturados.
A lista de novatos no Congresso
inclui o ex-governador Anthony Garotinho (PR-RJ) - que disputou a eleição
graças a uma liminar obtida na Justiça - e a cantora gospel Lauriete Rodrigues
(PSC-ES).
Outro novato na Câmara, o diácono da
Assembleia de Deus Erivelton Santana (PSC-BA), disse ontem que a prioridade no
mandato será se opor aos projetos que "não se identificam com princípios
bíblicos", como a descriminalização do aborto. Santana afirmou que
também foi eleito para defender interesses institucionais das igrejas
evangélicas, como evitar a cobrança de impostos sobre contribuições e dízimos
dos fiéis.
O presidente da Frente Parlamentar
Evangélica, deputado João Campos (PSDB-GO), um dos reeleitos, já apostava no
crescimento da bancada. Segundo ele, o aumento foi movido pelo combate a
propostas de lei "consideradas nocivas à sociedade". As informações
são do jornal O Estado de S. Paulo.
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