Postagem Dag Vulpi 17/04/2011 | Editado em 23/03/2013
Por Hélcio de Castro Padrão
Se aprofundarmos na principal razão
ou razões da existência humana, acreditamos que o aprendizado ocupa posição de
destaque.
Podemos dividir o aprendizado em
três partes:
• Auto - conhecimento;
• Desenvolvimento do relacionamento
social;
• Agir fraterno (contribuir para a
sociedade / comunidade).
Ao analisarmos o ideal trimembrado
que surgiu na Revolução Francesa, liberdade, igualdade e fraternidade, tanto a
liberdade no pensar quanto a igualdade nas relações haviam sido descritas na
Carta dos Direitos do Homem em 1789 (que posteriormente foi inserida na
Constituição Francesa por Napoleão Bonaparte):
“Artigo l. Os homens nascem e
permanecem livres e iguais em direitos. As distinções sociais não podem ser
fundamentadas senão sobre a utilidade comum”.
“Artigo 11. A livre comunicação dos
pensamentos e das opiniões é um dos mais preciosos direitos do homem; todo
cidadão pode, portanto, falar, escrever, imprimir livremente, respondendo pelo
abuso dessa liberdade nos casos determinados pela lei”.
“Artigo 12. A garantia dos direitos
do homem e do cidadão necessita de uma força pública; por conseguinte, esta
força fica instituída para o benefício de todos, e não
para a utilidade
particular daqueles a quem ela for confiada”.
Embora fizesse parte do ideal
francês, a palavra “fraternidade” não aparece nesta Carta e sequer fora
relacionada com o “querer” ou com a vida econômica. Por quê?
Bem, o homem precisou desenvolver o
seu eu, tomar consciência de seus direitos para poder reivindicá-los, e lutar
contra as formas de opressão.
Mas a fraternidade não é um direito.
É um dever. Por isso não poderia estar presente em uma carta de direitos. Outro
motivo é que a Revolução Francesa fora encabeçada pela burguesia mercantilista,
que queria a liberdade na economia uma vez que sofriam com a excessiva
intervenção do Estado neste setor.
Atualmente vivemos o momento de uma
nova tomada de consciência por parte da humanidade: a conscientização de que
também temos deveres. E este processo é mais doloroso porque significa abrir
mão de muitas coisas, compartilhar e, antes de tudo, requer aprendizado
contínuo. Em contrapartida é um caminho que traz muitas realizações.
E é este aspecto que gostaríamos de
enfatizar, o da Fraternidade no Querer ou da Economia Fraterna.
Embora o aprendizado tenha relevante
importância na vida humana e que o trabalho seja a melhor forma de contribuir
para a comunidade, o que motiva este trabalho ainda é o auto-sustento, a
realização pessoal e a satisfação dos desejos individuais. Uma pessoa que trabalha
com este impulso não contribui com o quanto é capaz, mas com o quanto ele quer
ganhar.
Como
disse R. Steiner:
“É que ser auto-sustentador
significa trabalhar para o ganha pão; já trabalhar para os outros significa
trabalhar a partir das necessidades sociais”.
Mudar de um sistema centrado no
individualismo (ego centrista) e ir em direção a um sistema voltado para o
social significa uma mudança radical em nossos conceitos. O jargão “temos que
atender às necessidades de nossos clientes”, embora maciçamente utilizado pelas
organizações, ainda não foi amplamente entendido e sequer utilizado de forma
pura. O que ainda motiva as ações da maioria das organizações e das pessoas é o
lucro e não atender as reais necessidades dos clientes. O que não entendemos é
que, a longo prazo, atender realmente às necessidades dos clientes e ter lucro
estão intimamente ligados.
O lucro e o acúmulo de capital
permitem o desenvolvimento humano, pois possibilitam o investimento em estudos
e pesquisas. O problema é quando o homem se apropria deste capital, se sente
dono dele. O capital surge na atuação do Espírito do homem no trabalho. E esta
atuação resulta no surgimento de novos produtos e do aumento de produtividade,
enriquecendo a comunidade. E é da comunidade o resultado deste trabalho. Ao
homem, cabe sua remuneração, de forma que atenda suas necessidades. Quando ele
se apropria deste capital e o acumula, pura e simplesmente, ele o
estanca, fazendo o efeito inverso, não permitindo o desenvolvimento da
sociedade, uma vez que este não movimenta a economia, e não facilita a atuação
de outras pessoas com capacidade empreendedora no sistema.
E esta mudança não virá de forma
imposta, pois cabe ao empreendedor o destino da aplicação do capital excedente.
Temos sim que nos conscientizar todos das conseqüências reais de nossos atos,
para que possamos agir de forma mais construtiva.
E o primeiro passo nesta direção,
voltando ao início deste texto, significa justamente:
• Auto - conhecimento;
• Desenvolvimento no relacionamento
social;
• Atuação fraterna.
Este é um dos paradigmas da economia
desta nova era. Precisamos investir no desenvolvimento humano como um todo. E
esta necessidade já se faz sentir em todas as organizações.
Quando conseguirmos quebrar este
sistema individualista e caminharmos para um sistema cooperativo, a humanidade
terá dado um importante passo para seu desenvolvimento. E construiremos uma
sociedade mais justa, menos desigual, onde todos tenham as mesmas oportunidades
e onde as diferenças sejam respeitadas, transformando a Terra em um lugar
melhor para todos vivermos. E se observarmos bem ‘a nossa volta, poderemos
perceber que esta mudança já está começando.
O
CÂMBIO E OS JUROS
Vivenciamos uma economia
globalizada.
O comércio entre os povos existe há
milênios. E não será diferente. E nem poderia ser, pois vivemos em um planeta
onde todos os seres humanos estão interligados, formando uma comunidade global.
A maioria dos países não é auto-suficiente e depende deste comércio para
sobreviver.
Como
disse R.Steiner no livro Economia Viva:
“Os diferentes Estados podem ser
comparados às células de um organismo e, somente toda a Terra, como corpo
econômico, pode ser comparada a um organismo....A Terra toda, tomada como um
organismo econômico, é um organismo social.”
Dentro desta estrutura global, um
fato econômico se torna perverso: as diferenças cambiais entre as moedas dos
diversos países.
O câmbio, da forma como é praticada
hoje é completamente absurda. Um verdadeiro jogo especulativo, sem nenhuma
regra lógica, completamente incoerente, onde o que vale, na verdade, é o ganho
fácil e o que é pior: sem produzir nada. Uma pessoa que vive da especulação
nada produz, mas se alimenta, se veste, se diverte, ou seja, consome como
qualquer outro. Todos têm direito a este consumo. Mas aqueles que consomem, sem
nada produzir em troca, são fardos para a sociedade, pois outros terão que
trabalhar para mantê-los.
Para se ter noção da falta de
coerência e da perversidade que hoje significa o sistema cambial, basta
observar os fatos presentes:
Se os Estados Unidos entrarem em
guerra contra o Iraque, por que o Real se desvaloriza em relação ao dólar? Não
é estranho? Não deveria a moeda norte americana se desvalorizar, já que são
eles que estão gastando bilhões de dólares nesta batalha? Ou seja, tudo que
acontece no cenário mundial desvaloriza nossa moeda. Que lógica há nisto tudo?
A única lógica é que alguém ganha e alguém perde com toda esta especulação. E
com certeza não é o setor produtivo, que se vê como um barco à deriva, em meio
a toda esta tormenta. Para uma economia realmente globalizada, assim como fez a
União Européia, teremos que caminhar gradativamente para uma moeda única e
mundial. Sabemos que não será fácil, pois requer significativas melhorias nas
condições econômicas dos países menos desenvolvidos. Mas este será um caminho
necessário.
Outro problema que estrangula a
economia é o juro. Nosso governo insiste na fórmula de aumentar o juro para
conter a inflação. Embora tenha efeitos no curto prazo, uma vez que retém uma
parte do capital especulativo mundial, no longo prazo os efeitos são
arrasadores.
O
que acontece quando o país aumenta sua taxa de juro?
A dívida do governo aumenta de forma
geométrica, que por sua vez necessita aumentar seus impostos, que hoje, no
Brasil, já chega a 34% do PIB. Com isso o setor produtivo enfraquece, uma vez
que o dinheiro em circulação diminui (está sendo sugado para o governo pagar
suas dívidas) e o custo do dinheiro para investimentos fica cada vez mais caro.
Por sua vez, os novos empreendedores se vêem em dificuldades para criar
novas organizações. Sem esta atuação do Espírito humano no trabalho, forma-se menos
capital. Sem capital a população empobrece. E sem surgimento de novas empresas
e sem novos investimentos no setor produtivo o desemprego aumenta. E este é um
círculo vicioso que corrói e destrói a base econômica do nosso país. O governo
alega que necessita conservar o juro alto para manter o capital especulativo
estrangeiro no país. Mas um dia ele terá que deixar-nos uma vez que este só
visa lucro fácil. Ou o governo favorece o setor produtivo ou favorece o
especulativo. E se o governo não favorecer a produção, sua maior base de
arrecadação, ele também morre.
Outra alegação do aumento do juro
foi defendida pelo Banco Central baseando-se no aumento da inflação. E que esta
inflação estaria elevada pelo aumento de circulação de dinheiro na economia.
Este dado não condiz com o relatório do próprio Banco Central, que em 2002
constatou a diminuição das remunerações dos brasileiros. Se a renda diminuiu,
como o dinheiro em circulação poderia ter aumentado? Em nossa opinião a
inflação atual tem base em três pilares principais:
• o jogo especulativo do câmbio que
desvalorizou sobremaneira a nossa moeda;
• os aumentos constantes das tarifas
públicas, bem acima da inflação e os aumentos programados pelos setores
regulados pelo governo, como energia e telecomunicações;
• o aumento dos impostos.
No fundo não sabemos se a dívida
brasileira é ou não pagável. Mas não é difícil entender o quanto estamos sendo
sacrificados para saldar seus juros. E também não é difícil prever que, se hoje
seja possível quitá-la, com estas taxas de juros exorbitantes, em pouco tempo
não mais será.
Não será fácil para o país agir para
não mais atrair este capital especulativo que aqui hoje reside. Será um remédio
amargo e com certeza aprofundaremos em uma crise. Mas se não tomarmos as
providências necessárias em tempo hábil, certamente experimentaremos algo muito
pior.
Como citou R.Steiner, aumentar os
juros para conter a alta dos preços é o mesmo que estar sentindo frio e
aumentar a coluna de mercúrio de um termômetro.
Hélcio de Castro Padrão, Thaïs
Abi-Sâmara e Berenice von Rückert, são membros da Associação de Pedagogia
Social e consultores da Éthica Consultoria e Treinamento.
Se Paradigmas De Uma Economia Fraterna tivesse iniciado a viagem histórica até os tempos da instituição de Bancos na Flandres, os ricos comerciantes recebendo as mercadorias que lhes chegavam do Novo Mundo, plantando as primeiras instituições bancárias que mais tarde iriam financiar as guerras do pequeno e inútil napoleão,bandido de primeira espécie, assaltante, hoje herói perdedor francês, teria iniciado e encerrado um ciclo completo, da mais recente praga da humanidade: A exploração financeira, o porquê de sociedades em lutas, em guerras, mesmo depois e apesar de Marat ter gritado Liberdade, Igualdade, Fraternidade. Explicaria também o sucesso dos EUA, a revolta alemã contra a pesada indenização de guerra que os banqueiros presentes no trem da rendição em Versailles lhes impuseram e que culminou no aparecimento de Hitler e a segunda guerra mundial. Eu sou a favor do capital. Do capital justo com ligeira margem de lucro e risco... O resto é exploração.
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