Por Danyele
Soares
Nesta
sexta-feira (17), a maior operação de combate à corrupção e à lavagem de
dinheiro do país completa três anos. Tudo começou com quatro investigações da
Polícia Federal: Dolce Vita, Bidone, Casablanca e Lava Jato. As três primeiras
são nomes de filmes clássicos, escolhidos de acordo com o perfil de cada
doleiro investigado. A última fazia referência a uma lavanderia e a um
posto de combustíveis em Brasília, que eram usados pelas organizações
criminosas. Desde então, já se foram 38 fases da Operação Lava Jato. Nesse
período, os investigadores apuraram fatos relacionados a empreiteiras,
doleiros, funcionários da Petrobras e políticos.
De acordo com
dados do Ministério Público Federal no Paraná atualizados em fevereiro, foram
57 acusações criminais contra 260 pessoas, sendo que em 25 já houve sentença
por crimes como lavagem de dinheiro, corrupção, organização criminosa e tráfico
transnacional de drogas. Até agora, a Lava Jato conseguiu recuperar R$ 10
bilhões aos cofres públicos, entre valores que já foram devolvidos ou estão em
processo de recuperação.
Para o
procurador da República Diogo Castor, que faz parte da força-tarefa, a operação
começou a mudar a ideia de que crimes do colarinho branco ficam impunes. “A
Lava Jato democratizou a Justiça Criminal, demonstrou como deve ser uma Justiça
Criminal eficiente, uma coisa que o brasileiro não está acostumado. O povo está
acostumado ao setor público ineficiente em todas as esferas, desde o
Judiciário, Legislativo, Ministério Público. A Lava Jato é a única coisa que
deu certo no sistema de Justiça Criminal no Brasil”, avalia.
Prisões
em Curitiba
Nesse período,
importantes políticos e empresários foram condenados pelos crimes apurados na
operação. No Complexo Médico Penal de Pinhais (CMP), na região metropolitana de
Curitiba, estão presos nove réus da Lava Jato, entre eles o ex-ministro José
Dirceu, o deputado cassado Eduardo Cunha, o ex-senador Gim Argello, o
ex-diretor da área Internacional da Petrobras, Jorge Zelada, e o ex-tesoureiro
do PT, João Vaccari Neto.
O diretor do
Departamento Penitenciário do Paraná, Luiz Alberto Cartaxo, garante que não há
nenhuma regalia para esses presos. Ele explica que o CMP foi criado como uma
unidade de saúde para abrigar presos com problemas mentais, mas hoje reúne
também servidores públicos e policiais condenados por diversos crimes, além dos
internos da Lava Jato. O local abriga cerca de 670 presos que ficam em celas de
12 metros quadrados.
Cartaxo diz que
há apenas algumas diferenças no CMP em relação às outras unidades prisionais. O
uniforme, por exemplo, é formado por calça cinza e camiseta branca - nas outras
unidades a roupa é alaranjada. No complexo, os internos têm acesso à água
quente, mas as visitas íntimas são proibidas, já que se trata de uma unidade de
saúde.
“A rotina deles
é o seguinte: às 6h, alvorada e café-da-manhã. São dois pães, café com leite ou
só café. Após isso, eles saem das celas, têm banho e banho de sol. Às 11h30 é o
almoço, quando é servida uma alimentação composta por carboidrato e proteína,
que varia entre 850 e 900 gramas, que envolve uma carne, arroz e feijão ou
macarrão, verduras e legumes”, diz.
O diretor
também diz que cada preso, inclusive os da Lava Jato, tem direito a uma sacola
com peças íntimas e produtos de higiene pessoal. “Não há nenhuma diferenciação.
Uma vez por semana, todos os presos do Sistema Penitenciário do Paraná podem
receber uma sacola que envolve comidas não- perecíveis, produtos de higiene
pessoal e algumas roupas íntimas, que o sistema não fornece. Mas é evidente que
existe uma diferença entre a sacola do então preso, que já saiu da lá, Marcelo
Odebrecht, para a sacola do 'João Antônio das Neves', que é um ladrão de
varal”, compara.
Além do CMP,
também há presos da Lava Jato na carceragem da Polícia Federal em Curitiba e
até em outras cidades, como o Rio de Janeiro. Na carceragem estão, por exemplo,
o empresário Marcelo Odebrecht, o ex-ministro Antônio Palocci, o ex-diretor de
Serviços da Petrobras Renato Duque e o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro.
Perfil
diferente
Alguns presos
da Lava Jato estão remindo a pena por meio do trabalho ou da leitura. José
Dirceu, por exemplo, trabalha na distribuição de livros. A cada três dias
exercendo a função, reduz a sentença em um dia. Outros fazem a remissão a
partir da leitura: a cada exemplar lido – que é escolhido pelo professor de
acordo com o perfil do preso – o detento faz uma resenha e uma apresentação
oral e, se aprovado, consegue diminuir a pena em quatro dias.
O juiz Eduardo
Lino, da Vara de Execuções Penais do Paraná, explica que recebe com frequência
atestados de trabalho ou leitura de presos da Lava Jato para reduzir a pena. E
diz que o perfil dos detentos de crimes do colarinho branco destoa do restante
da população carcerária.
“É uma coisa nova esse perfil de sentenciados.
Geralmente o espectro econômico é muito ruim, são pessoas pobres. E agora tem
essa situação nova com pessoas de melhor condição econômica, mas estão
condenadas e têm que se submeter a penas privativas de liberdade. E estão
encontrando uma forma de que isso possa ser feito sem riscos para ninguém. Que
eles possam cumprir essa pena, com dignidade como todos devem e, passado esse
período, ganharão a liberdade e que parem de praticar novas atividades
criminosas de todo o tipo.”
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