Procuradores
da Suíça não acharam uma só conta secreta, mas quatro, pelo menos, cujo
controle é atribuído ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), segundo a Folha apurou junto a investigadores que atuam no caso.
Uma dessas
contas tem como beneficiários Cunha e sua mulher, a jornalista Claudia Cordeiro
Cruz, que foi apresentadora de telejornais da Rede Globo ente 1989 e 2001.
Nesta quarta
(30) o presidente da Câmara se recusou a comentar se tinha conta no exterior.
Em março deste ano, em depoimento à CPI da Petrobras, ele disse que não tinha
dinheiro fora do Brasil.
A Folha
revelou nesta quarta (30) que a Suíça descobrira contas, sem especificar o
número delas
Os valores
depositados nas quatro contas foram bloqueados pelas autoridades suíças por
causa da suspeita de que receberam recursos de suborno, que chegaram àquele
país por meio de processos de lavagem de dinheiro.
A Suíça não
revelou ainda o montante que foi bloqueado.
As contas
foram abertas em nome de empresas offshores, que ficam em paraísos fiscais para
dificultar as investigações, já que esses países, diferentemente da Suíça, não
costumam colaborar com apurações sobre lavagem de dinheiro e corrupção.
Para evitar
receber dinheiro de terrorismo, de drogas e de suborno, a Suíça exige que toda
conta tenha um beneficiário final. Em quatro delas o beneficiário é Cunha,
segundo as autoridades que investigam o caso.
O Ministério
Público da Confederação Suíça começou em abril a investigar a suspeita de que
Cunha escondera dinheiro naquele país.
A Suíça não
irá prosseguir a apuração criminal sobre Cunha, como ocorre com outros
suspeitos da Lava Jato. O país decidiu mandar para o Brasil todo o material
encontrado sobre o presidente da Câmara para que a apuração seja feita aqui.
A
transferência da investigação para o Brasil está prevista no acordo de
cooperação em matéria criminal que a Suíça assinou com o Brasil em 2009. Não é
a primeira vez que isso ocorre. Autoridades suíças já haviam transferido para o
país a apuração sobre o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró.
DEPÓSITO DE
LOBISTA
Uma das contas
cujo controle os suíços atribuem a Cunha recebeu recursos de um lobista do PMDB
chamado João Augusto Henriques, preso pela Operação Lava Jato em 21 de
setembro.
Em depoimento
à Polícia Federal, Henriques disse que fizera um depósito na conta de Cunha sem
saber que era do deputado. Segundo o lobista do PMDB, ele fizera a transferência
a pedido do economista Felipe Diniz, filho do deputado Fernando Diniz
(PMDB-MG), que morreu em 2009.
Ainda segundo
Henriques, o valor depositado não era propina, mas uma comissão lícita porque
Diniz o ajudara a costurar um negócio que resultara na compra pela Petrobras de
um campo de exploração de petróleo no Benin, na África.
Os
investigadores na Lava Jato desconfiam que essa versão possa ter sido criada
por Henriques para proteger Cunha.
OUTRO LADO
O advogado de
Cunha, o ex-procurador geral da República Antonio Fernando de Souza disse por
meio de nota que não comentaria as contas encontradas na Suíça. Souza disse que
pretende se defender no inquérito contra o presidente da Câmara instaurado no
Supremo Tribunal Federal.
A Folha não
conseguiu localizar o advogado de Fernando Diniz.
O QUE PODE
ACONTECER COM CUNHA
No STF
Caso o Supremo
aceite a denúncia contra Cunha, ele vira réu e pode ser condenado
Cassação
Pode enfrentar
processo por quebra de decoro na Câmara e ter o mandato cassado
Renúncia
Cunha pode
deixar a presidência da Câmara para tentar minimizar seu desgaste
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