Por Vladimir Saflate na Folha de S.Paulo
Na próxima
quarta-feira (10/12/2014), a Comissão Nacional da Verdade deve apresentar o
relatório de seus trabalhos. Espera-se que nomes de torturadores e assassinos
sejam enfim publicados, que seus crimes sejam fartamente descritos, a fim de
que, ao menos, ganhem força processos para terminar com a impunidade aos que
cometeram crimes contra a humanidade durante a ditadura militar.
Mas, como por
ironia da história, neste exato momento, o Brasil conhece manifestações
periódicas de pessoas que saem às ruas pedindo por um golpe militar. Não uma
mobilização pelo dever de memória, mas um clamor para a repetição da destruição
do país.
Mas o que
dizer destas pessoas? Estariam elas a exercer seu direito de liberdade de
expressão expondo seu descontentamento com a situação política atual ou
estariam a cometer o mais vil e torpe de todos os crimes, o mais imperdoável, a
saber, este que clama pela destruição do mínimo de liberdade que dispomos
atualmente?
Notem, quem
sai à rua e levanta um cartaz pedindo "intervenção militar" não está
fazendo a mesma coisa que alguém a gritar "Fora Dilma" ou "Fora
FHC". "Fora X, Y ou Z" é algo que se ouve em todas as partes do
mundo onde há descontentamento. Significa normalmente um pedido de impeachment,
de renúncia ou a afirmação da deslegitimação do poder.
Já quem clama
por um golpe militar pede, necessariamente, a implementação de um regime de
exceção, com assassinatos sistemáticos de Estado contra oponentes, comandado
por uma casta militar que fará o que o Brasil nomeará na quarta: a destruição
física e simbólica de quem não está acostumado com o silêncio.
Quem quer a
causa quer as consequências. Por isto, pedir por uma "intervenção
militar" não é uma "opinião" política, mas pura e simplesmente o
crime por excelência.
Claro que
haverá aqueles a dizer que eu deveria então criticar os que saem às ruas e
pedem, por exemplo, por "revolução" (onde? Faz tempo que não vejo
ninguém fazer isso). No entanto, uma revolução é uma sublevação popular que dá
voz ao poder instituinte. Nada a ver com um golpe que, por sua vez, é a forma
máxima do fim da política.
Por isso, quem
levanta um cartaz a favor de um golpe militar não pode estar na rua, mas
deveria estar ou respondendo a processos por incitação à forma máxima de
violência ou diretamente na cadeia.
Uma sociedade
que não pune quem pratica tal violência, mas convive com os que a elogiam como
se fosse algo meio pitoresco, cava sua própria cova.
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