quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

O que se esconde por trás do discurso do professor Carlos Fico (UFRJ) sobre os 50 anos do golpe militar


O que se esconde por trás do discurso do professor Carlos Fico (UFRJ) sobre os 50 anos do golpe militar, no programa levado ao ar pelo café história, em 15 de janeiro de 2014, disponibilizado no youtube


A causa do golpe civil-militar de 1964, que já vinha sendo planejado bem antes da data em que ocorreu, foi muito mais econômica que política. A participação e apoio dos EUA (inclusive através de um consórcio das ditaduras do cone sul sob sua coordenação - Operação Condor - e colaboração com armas, instrutores, um centro de comunicações no Panamá e dinheiro, além da participação direta no Brasil de Lincoln Gordon, embaixador dos EUA e não apenas a Operação Brother Sam), dos latifundiários e empresários brasileiros (muitos deles hoje participantes e aliados do governo Dilma) se deve a algumas medidas anunciadas e implementadas por João Goulart, como o controle da taxa de remessa de lucros e a desapropriação de latifúndios às margens de BR's, que ameaçavam efetivamente os interesses vitais dos EUA e dos empresários e latifundiários brasileiros. O discurso de que os que apoiaram o golpe civil-militar de 1964 e os 21 anos de ditadura militar não previam a instalação de um regime, uma ditadura militar tão duradoura, e que o foco na luta armada de resistência prejudica a compreensão desse período e fenômeno histórico, por levar a uma leitura "romantizada", "heroificante", é pura balela e esconde a verdadeira intenção de isentar responsabilidades sobre as torturas, assassinatos e ocultações de cadáveres durante esse período, sobretudo isentar a responsabilidade do Estado brasileiro, banalizar a prática de tais crimes, e incriminar as organizações de esquerda que realizaram a luta armada, por não lhes restar outra forma de resistência, promover a rejeição do povo à luta armada e a violência revolucionária como uma exigência histórica inevitável para uma efetiva mudança estrutural do país por conta dos interesses antagônicos e irreconciliáveis das classes componentes da sociedade, o que as leva a uma luta constante, franca, dissimulada, direta ou indireta. O referido discurso predominante no meio acadêmico tem ainda por objetivo, consolidar na maioria da população a ideia da possibilidade da mudança estrutural da sociedade brasileira pela via institucional/eleitoral, jogar a opinião pública contra as verdadeiras organizações de esquerda no país e contra os comunistas. Assim, as universidades públicas e privadas brasileiras, e seus professores, doutores, reitores, diretores de departamentos, orientadores de cursos de mestrado e doutorado, cumprem com fidelidade canina seu papel histórico de aparelhos ideológicos de Estado e difusores, reprodutores da ideologia dominante, no que consiste a sua verdadeira e única excelência.




* Paulo Oisiovici . É Professor de História e Filosofia

6 comentários:

  1. https://www.facebook.com/photo.php?fbid=639346236118009&set=a.166289026757068.51918.100001279155176&type=3&src=https%3A%2F%2Fscontent-a-gru.xx.fbcdn.net%2Fhphotos-ash3%2Ft1%2F1014037_639346236118009_1514308569_n.jpg&size=480%2C474 Participei desse Seminário Internacional sobre a Operação Condor e os depoimentos que ouvi dos juízes argentinos, de Martín Almada, do Paraguay, de juízes do Chile, do Uruguai e de Patrice McSherry, da Universidade de New York, maior estudiosa sobre a Operação Condor e a participação e o patrocínio dos EUA em golpes e ditaduras militares na América Latina, provam o contrário do que diz o Profº Carlos Fico, ao justificar o fato dos assassinos e torturadores da ditadura militar no Brasil até hoje não terem sido julgados e punidos por seus crimes e ao comparar as ditaduras militares da Argentina e do Brasil. O profº Carlos Fico demonstrou desconhecer o fato do Brasil ser processado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos e as razões dessa condenação. Fundamento meu comentário nos documentos apresentados pelos participantes dos diversos países do cone sul e da participante dos EUA, além de seus depoimentos que estão gravados, registrados pela secretaria de taquigrafia da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados e levado ao ar pela TV Câmara e reprisado periodicamente.

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  2. O Seminário Internacional sobre a Operação Condor, foi realizado em 4 e de julho de 2012, em Brasília-DF, na Câmara dos Deputados, no auditório Nereu Ramos, sob a presidência da deputada Luiza Erundina.

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    1. Muito interessante e pertinente o seu texto, Paulo. Você começa falando muito bem sobre os latifundiários, empresários, políticos que apoiaram o golpe de 1964 e atualmente fazem parte da base aliada do governo PT, o que é algo que não vem de hoje. E quando se fala sobre isso é fundamental dar nomes aos bois. Paulo Maluf, Sarney, Delfim Neto, Collor, entre outros facínoras, fascistas declarados fazem parte da bancada governista nazista do PT. Sem contar que, o Brasil é o único país da América Latina que não puniu os seus torturadores, mesmo sendo condenado na Corte Interamericanas de Direitos Humanos pelos crimes cometidos durante o regime militar. Isso nos mostra o quão longe estamos de uma verdadeira democracia e, consequentemente, nos prova que a ditadura burguesa sanguinária continua firme e forte. Outra parte bastante agradável do texto é sobre as universidades públicas e privadas do Brasil. Os professores, doutores, reitores, etc, cumprem com uma fidelidade incondicional o seu papel histórico de difusores do aparelho ideológico do Estado burguês, formando não massas pensantes, mas sim rebanhos para o mercado. Isso é uma verdade, pois vai justificar as diversas análises errôneas, equivocadas e simplistas que os mestres de academias fazem não somente acerca do regime militar fascista, mas também de vários períodos históricos importantes do nosso país.

      Tadeu Queiroz Thurler

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  3. O americano Dan Mitrione era especialista em interrogatórios do Serviço de Segurança Pública (OPS, na sigla em inglês), uma agência americana de fachada da CIA extinta um ano antes do nascimento da Condor. Em 16 anos de vida, essa agência treinou um milhão de policiais no chamado Terceiro Mundo.
    Mitrione desembarcou no Rio de Janeiro um ano antes do golpe de 1964 e ao sair, três anos depois, a OPS tinha adestrado 100 mil agentes brasileiros, 1/6 da força policial do país. Mitrione assumiu a OPS do Uruguai em 1969, quatro anos antes do golpe de Estado deflagrado pelo presidente Juan Maria Bordaberry, com um lema que definia seus princípios: “A dor precisa, no lugar preciso, na quantidade precisa, para o efeito desejado”.
    O delegado Sérgio Paranhos Fleury (1933-1979) foi o monstro mais notório produzido nos porões do regime militar. Em 1968, ele liderava o Departamento de Ordem Política e Social (Dops) de São Paulo na "caça aos subversivos"
    O delegado Sérgio Paranhos Fleury (1933-1979) foi o monstro mais notório produzido nos porões do regime militar. Em 1968, ele liderava o Departamento de Ordem Política e Social (Dops) de São Paulo na "caça aos subversivos"
    O brasileiro Sérgio Fleury, delegado do DOPS, era internacionalmente conhecido como líder do clandestino Esquadrão da Morte, de onde importou métodos de combate ao crime comum para uso na repressão política.
    Seis meses antes do golpe de junho de 1973, o embaixador americano em Montevidéu, Charles Wallace Adair Jr., avisou Washington que oficiais da alta hierarquia militar do Uruguai foram treinados no final de 1971 pelo Brasil para combater a insurgência. Um dos treinadores brasileiro levados aos aprendizes de Mitrione era o experiente Fleury. http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/politica-cia/as-garras-do-brasil-na-nefanda-opertacao-condor-alianca-clandestina-entre-orgaos-de-repressao-das-hoje-extintas-ditaduras-militares-do-cone-sul/

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  4. Em setembro de 1975, Pinochet e o vice-diretor da DINA, coronel aviador Mario Jahn, discutiram a expansão internacional da repressão chilena. O coronel era o homem encarregado por Contreras de pilotar as incursões além-fronteiras da Condor, desafio que sempre demandava gastos maiores. Na conversa na sala de jantar do general, presenciada por um civil amigo de Pinochet, Jahn explicou:
    – Os americanos estão ajudando por meio do Brasil. Este é o momento de se mover, avançar e levar a luta para o nível mundial – propôs o coronel a Pinochet, informado de que treinamento da CIA era fornecido por meio do Brasil. Brasília era definida, na conversa, como o “canal de treinamento” de técnicas de interrogatório e tortura para os agentes da DINA.
    Um memorando de 15 de setembro de 1975 de Contreras a Pinochet pede um reforço de US$ 600 mil no orçamento daquele ano da DINA. No item 1 da nota, o coronel justifica ao general: “Aumento do pessoal da DINA ligado às missões diplomáticas do Chile. Um total de dez pessoas: 2 no Peru, 2 no Brasil, 2 na Argentina, 1 na Venezuela, 1 na Costa Rica, 1 na Bélgica e 1 na Itália.”
    Em 1999, o jornal O Globo deu outra pista segura sobre a presença da DINA em solo brasileiro. Ele revelou uma destinação adicional ao pedido de verbas feito por Contreras a Pinochet em 1975: o custeio dos oficiais da DINA que, a cada dois meses, faziam um curso de seis semanas no Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS) do Exército brasileiro, em Manaus, no coração da maior floresta tropical do mundo.
    Durante algum tempo, um de seus principais instrutores foi o adido militar da embaixada da França em Brasília entre 1973 e 1975. O general Paul Aussaresses, especialista em inteligência, era veterano de duas épicas derrotas francesas em guerras coloniais: a da Indochina (1946-1954) e a da Argélia (1954-1962). Foi herói na Segunda Guerra Mundial, saltando de paraquedas na Normandia para fazer a ligação entre a Resistência francesa e as tropas aliadas do Dia D. Foi vilão no fronte argelino, como mestre da tortura aplicada pelas tropas paraquedistas do general Jacques Massu. Graças a Aussaresses, a França introduziu no seu vocabulário uma deformação paraestatal que só condenava nos outros povos: os macabros ‘esquadrões da morte’.
    Quase duas décadas antes do jornalista Vladimir Herzog aparecer “suicidado” no porão do DOI-CODI em São Paulo, Aussaresses mandou “suicidar” em Argel um dos líderes da Frente de Liberação Nacional (FLN), o argelino Larbi Ben M’Hidi, que apareceu enforcado na prisão após um interrogatório pesado, em 1957. Na sequência, outro suicídio: o influente advogado Ali Boumendjel “atirou-se” do sexto andar do prédio onde estava preso. Em 2000, o general reconheceu que nenhum se suicidara. Ambos foram mortos pela tortura executada sob suas ordens. Mas Aussaresses não se arrependia:
    – A tortura é um mal menor, mas necessário, que deve ser usado para evitar o mal maior do terrorismo.http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/politica-cia/as-garras-do-brasil-na-nefanda-opertacao-condor-alianca-clandestina-entre-orgaos-de-repressao-das-hoje-extintas-ditaduras-militares-do-cone-sul/

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  5. Marcos Rebello

    Para piorar ainda mais a elucidação dos FATOS PRINCIPAIS e prolongar o GOLPE contra a sociedade brasileira temos uma interminavel discussão sobre uma série de bobagens. É uma discussão interminavel sobre que parte da Resistencia foi armada ou não, se deveria ou não estar armada, quantos na guerrilha eram comunistas ou simplesmente nacionalistas, se houve ou não houve torturas e desaparecimentos, se vai ou não vai punir fulano ou ciclano, se o estado deveria ou não ser responsavel, e por aí vai. Enquanto isso o sistema vai dando mais voltas na sociedade e cada vez mais impossivel do país retomar o rumo e adotar um governo que de fato cuida dos seus interesses originais. O resultado está no inchasso da massa e nas dívidas já impagaveis novamente.

    No lado otimista é tambem outra farsa. Ficam acenando com um petroleo ainda debaixo do pre-sal, debaixo de uma imensidão de água, que na realidade está sendo roubado em licitações porque os de fora tem todo o acesso às informações secretas e a estatal que TERIA as condições de processor este petróleo foi e está sendo espiada para não poder ter condições de realizar este processamento, porque as espionagens são eminentemente economicas para frustrar qualquer plano de desenvolvimento que proporcione uma independencia ao país.

    E aonde está o diálogo nacional em uma discussão de alto nivel para resolver as questões de peso? Simplesmente não há porque por um lado o governo tenta tapar os buracos resultado do subdesenvolvimento estrutural e tecnológico e a sociedade emburrecida por uma cultura importada e altamente controlada agora pela massificante industria do entretenimento afunilada hoje pela internet.

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