Pela internet, adeptos da tática já fizeram doação de sangue e organizaram ajuda para vítimas de enchentes
Em vez do tradicional Papai Noel, jovens mascarados e vestidos de preto entregando presentes para crianças e distribuindo alimentos para famílias carentes. Foi assim que alguns adeptos da estratégia black bloc passaram a véspera do Natal em São Paulo, na Praça da Sé, região central da cidade. Taxados de violentos, os adeptos da polêmica estratégia de manifestação, que consiste em destruir símbolos do capitalismo e do Estado durante os protestos, têm organizado e apoiado ações solidárias para ajudar as classes menos favorecidas. Consequentemente, parecem tentar romper com as críticas de que são apenas “vândalos”, segundo a professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Esther Solano Gallego.
“Acho muito relevante o assunto das ações sociais. É interessante ver como tentam se posicionar perante a sociedade de outra forma, tirar o estigma de ‘vândalos-depredadores’”, explica a pesquisadora, que foi em inúmeros protestos e entrevistou vários dos adeptos dessa estratégia.
Por meio de uma página no Facebook, eles já organizaram e participaram do “Black Blood”, quando fizeram doação de sangue em massa em hospitais da capital paulista, e da “Operação Salve Espírito Santo”, ocasião em que recolheram doações para as vítimas das enchentes do Estado. Mas, na opinião da pesquisadora, essas iniciativas não sugerem que eles vão deixar de usar a estratégia black bloc nos protestos que devem tomar as ruas do País em 2014. Isso porque, para os jovens que aderiram à tática, ambas as ações são contra “a opressão”.
“Para eles, tanto a doação de sangue como jogar uma pedra em um banco têm um simbolismo político, são ações políticas. Dessa forma estão se comunicando com a sociedade, tentando falar ‘olha, não somos aqueles baderneiros que vocês pensam, nos preocupamos com população e é por isso optamos por seguir a tática black bloc’. É uma ruptura absoluta porque ninguém espera ver um black bloc doando um brinquedo para uma criança carente. Eles tentam romper como esse paradigma”, afirma
Ainda que adotem ações de cunho social, na opinião da pesquisadora, isso não significa que o black bloc pode ser classificado como um grupo comum. “Efetivamente eles se definem como tática, mas, como qualquer dinâmica social (como acontece com os black blocs aqui em São Paulo), as ações conjuntas, pensada e realizadas de forma conjunta, acabam também lhes configurando como grupo, mas um grupo social aberto, dinâmico, inclusive difuso, que vai mudando com o tempo, em que se integram e saiam pessoas, não o clássico grupo fechado. Ou seja, a utilização de uma tática, de uma forma de protesto, compartilhar uma filosofia comum, objetivos similares, acaba perfilando um grupo social”, argumenta.
Perspectiva 2014:
Surgida nos anos 1980 na Alemanha no âmbito dos movimentos de contra-cultura e em defesa dos squats, a tática de protesto black bloc originalmente pode ou não usar a violência. Da década de 1990 em diante, a técnica se espalhou pelas cenas anarquistas, punk, anti-facistas e ecológicas. E ganhou força em mobilizações contra o neoliberalismo e o capitalismo, como na reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC) em 1999, em Seattle, em 2001, em Roma, ou durante a reunião do G20 em Toronto, em 2010. Recentemente, grupos black blocs atuaram em diferentes protestos contra os governos na Grécia, na Turquia, no Chile e no México.
Via Ultimo Segundo
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