Tuma Jr. (Imagem da internet) |
Para quem quer
entender como funciona a mídia.
Li Kwong Kwen
foi preso, em 2010. A Polícia Federal apurou que ele, conhecido como Paulo Li,
era chefe de uma máfia chinesa que promovia contrabando de celulares
falsificados procedentes da China. A quadrilha também intermediava vistos de
permanência no Brasil para imigrantes chineses em situação irregular.
Gravações
mostraram conversas comprometedoras de Li com o então secretário nacional da
Justiça, Romeu Tuma Jr. Nas conversas, Tuma Jr chegou a fazer encomendas a Li (Uma muambazinha não dói).
Era uma
relação tão próxima que, quando foi preso, Li
telefonou para Tuma Jr na frente dos agentes da Polícia Federal.
Coisas do
Brasil da governabilidade: Tuma Jr chegou à Secretaria Nacional de Justiça numa
negociação para que o partido de seu pai, Romeu Tuma, aderisse à base aliada do
governo Lula.
Para encurtar,
Tuma Jr acabaria demitido.
Três anos
depois, ele aparece com um livro no qual, segundo a Veja, existem revelações
“estarrecedoras”. Repare: não são “acusações”. São “revelações”.
O livro é
assinado pelo jornalista Claudio Tognolli, parceiro de Lobão na biografia 50
Anos a Mil.
Lobão, no
Twitter, vem promovendo intensamente o livro do parceiro. Tognolli, também no
Twitter, parece eufórico: “Está para sair minha biografia de Romeu Tuma: o país
vai ficar de joelhos.” Sobre Tognolli nada fala tanto quanto um tuíte no qual
ele define Chico, Caetano e Gil como “comunas”.
Você pode
imaginar quais são os alvos da vingança de Tuma Jr. Ou melhor: o alvo. Lula,
Lula e ainda Lula.
Como age a
mídia nestes casos, além de tratar acusações como revelações? Esquecendo, por
exemplo, de dizer quem é o acusador e o que está por trás de suas acusações.
Fiz uma breve
pesquisa e fui dar num artigo do jornalista Carlos
Brickman de alguns meses atrás, publicado no Observatório da Imprensa,
de Alberto Dines.
Brickman
falava do livro, que estava por sair. Já no título o veredito de Brickman
estava manifestado: “Um livro fura a imprensa”. Quer dizer: se fura é porque é
sério, profundo, embasado.
Li duas vezes
o texto de Brickman em busca de alguma informação que me ajudasse a entender
quem é Tuma Jr, e o que estava por trás de suas acusações.
Nada.
Repito: nada.
Não há uma
única menção às relações de Tuma Jr com a máfia chinesa, e sua consequente
demissão.
De Brickman
vou ao site da Veja. Topo com Reinaldo Azevedo. Em negrito, ele inicia assim
seu artigo:
“O LIVRO-BOMBA
– Tuma Jr. revela os detalhes do estado policial petista.”
Enfrentei,
estoicamente, o texto copioso de Azevedo. Como em Brickman, nem uma única
menção ao passado de Tuma Jr. Ao pobre leitor são negadas informações
essenciais se você quer cobrir com decência um caso de denúncia.
Vejo que Tuma
Jr, numa de suas mais estridentes acusações – ou “revelações” –, invoca o pai
morto.
Quer dizer: o
“documento” que ele apresenta no caso é a palavra, aspas, do pai morto.
Isto diz tudo.
Quanto a mim,
aguardo um livro-bomba de Carlinhos Cachoeira e Policarpo Júnior com revelações
devastadoras sobre Lula, e rio sozinho ao imaginar o aproveitamento que a Veja
dará a isso.
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Abração
Dag Vulpi