Presente ao Conselho de
Ética do Senado, que investiga as relações do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, o senador Demóstenes Torres,
atrasado por mais de 30 minutos, quebrou o silêncio. Na abertura de seu
discurso, o acusado de integrar a organização criminosa disse que chegou a
pensar na renúncia ao mandato, mas optou por responder aos questionamentos de
seus pares, no plenário da Comissão de Ética. A defesa de Demóstenes, para o
ex-aliado senador Álvaro Dias (PSDB-PR), consiste em uma espécie de “missão
impossível”. O próprio acusado abriu seu discurso de defesa remetendo a questão
ao Divino.
– Eu só pude chegar até hoje porque redescobri Deus. Parece um
fato pequeno, mas acho que minha atuação era pautada mais pelos homens do que
por Deus – disse Demóstenes.
Advogado, ex-secretário de Segurança do Estado de Goiás,
Demóstenes optou por seguir, passo a passo, nas denúncias formuladas contra
ele, sem abranger a questão de fundo, que é a ligação mantida com o
contraventor, cujas atividades o acusado disse desconhecer porque não tinha
“lanterna na popa”. Assim, ele se lançou à resposta de uma denúncia, formulada
na revista Carta Capital,
sobre a participação do senador no faturamento das máquinas caça-níqueis
mantidas pela quadrilha de Cachoeira. O senador citou um “informe do delegado
Deuselino Valadares”, que informava da utilização de parte dos recursos obtidos
com o jogo no “caixa-dois da campanha”, de acordo com o depoimento de Rui
Cruvinel, preso por ser dono de um casa clandestina de jogos.
– Todas as autoridades que atuaram nesse inquérito disseram,
textualmente, que eu não tenho nada com o jogo – disse o acusado, antes da leitura
dos autos.
O advogado dele, Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakai, já
havia adiantado, na chegada ao prédio do Senado, que o parlamentar usaria os
primeiros 20 minutos da sessão para falar sobre sua atuação na vida pública,
ficando, a seguir, à disposição para responder perguntas dos colegas. Na CPI,
no entanto, Kakai já adiantou que ele poderá ficar calado, exercendo o direito
de não fornecer provas contra si.
– Estou inteiramente aberto a confrontar as denúncias com a
defesa dele e elaborar um relatório levando em consideração tudo isso – disse o
relator Humberto Costa (PT-PE), em entrevista à Rádio Senado.
As outras testemunhas indicadas por ele, o advogado Ruy Cruvinel
e o próprio Carlos Cachoeira se recusaram a depor. Desde que começou a analisar
a representação contra Demóstenes, o Conselho ouviu dois delegados responsáveis
pelas operações Vegas e Monte Carlo que resultaram na prisão de Cachoeira e
revelaram a ligação do bicheiro com parlamentares.
Apesar da decisão de comparecer, e falar, diante da Comissão de
Ética do Senado, a situação de Demóstenes era a pior até mesmo entre
ex-aliados, como o senador Alvaro Dias (PSDB-PR). Ao chegar à reunião do
Conselho de Ética, que considera a defesa do senador Demóstenes Torres (Sem
partido-GO) uma “missão impossível”.
Para o líder do PSDB, houve quebra de decoro.
– Os fatos são contundentes e nada pode reverter essa
expectativa de cassação de mandato – disse.
As perguntas do relator do processo, Humberto Costa (PT-PE),
e dos senadores foram respondidas por Demóstenes. O advogado do acusado,
Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakai, ficou
incumbido de responder às perguntas dos repórteres que cobrem o caso.
Na CPMI
À tarde, na reunião da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito
(CPMI) doCachoeira,
seria votada a convocação de três governadores e a quebra dos sigilos bancário,
fiscal e telefônico relacionados á direção nacional da Delta Construções. A
convocação dos governadores Sérgio Cabral (PMDB-RJ), Marconi Perillo (PSDB-GO)
e Agnelo Queiroz (PT-DF) tem sido motivo de polêmica nas últimas semanas. O
assunto somente seria analisado no dia 5 de junho; mas, diante da pressão de
alguns dos integrantes da CPMI, o presidente Vital do Rêgo (PMDB-PB) antecipou
a decisão para esta terça-feira, contando com o apoio dos parlamentares do
PMDB, PT e PSDB. Os senadores Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), Pedro Taques
(PDT-MT) e Kátia Abreu (PSD-TO) e os deputados Miro Teixeira (PDT-RJ) e Sílvio
Costa (PTB-PE), por sua vez, protestaram, pois queriam que os requerimentos
para as convocações tivessem sido apreciados na quinta-feira.
Outro assunto polêmico da pauta era a quebra de sigilo da Delta
em âmbito nacional. Na semana passada, com a revelação de que recursos de
contas da construtora no Rio de Janeiro abasteceram empresas de fachada que
serviam à organização criminosa, o próprio relator da CPI, deputado Odair Cunha
(PT-MG), que inicialmente era contrário à ideia, admitiu pela primeira vez a
necessidade de se investigar as atividades da matriz da empresa.
– A quebra de sigilos das filiais da Delta, no Centro-Oeste
apontou indícios de que o ex-diretor Cláudio Abreu tinha autorização para
movimentar contas nacionais da construtora – afirmou Odair Cunha.
Agenda
Os próximos passos da CPI e do Conselho de Ética para a semana
de 29 de maio a 1º de junho:
• 30/05 (quarta-feira) às 10h15: depoimento na CPI mista de
Cláudio Abreu, José Olímpio de Queiroga Neto, Gleyb Ferreira da Cruz, Lenine
Araújo de Souza e Jayme Eduardo Rincón;
• 31/05 (quinta-feira) às 10h15: depoimento de Demóstenes Torres
na CPI.
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