Ídolo de gerações, ‘movido a álcool’ e embalado a humor, cartunista Jaguar é reverenciado por outros artistas e ganha homenagem hoje, dia de seus 80 anos
Rio - Um de nossos grandes cartunistas e cronistas, Jaguar chega hoje aos 80 anos de idade — ou 20, já que ele nasceu num ano bissexto, no dia 29 de fevereiro, que só ocorre a cada quatro anos. E o melhor: em plena atividade, já que ele publica em O DIA suas charges às segundas e quintas-feiras, um cartum às sextas e uma crônica aos sábados.
Fundador do lendário jornal ‘O Pasquim’, que muito incomodou os militares durante a ditadura (a equipe chegou a ser presa), Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe, nome completo de Jaguar, é reverenciado por seus contemporâneos e pelas gerações seguintes.
Artistas fazem homenagem ao cartunista que completa 80 anos |
“Ele é um dos melhores humoristas do Brasil. É um homem à frente e atrás de seu tempo, o primeiro humorista movido a álcool”, brinca Marcelo Madureira, do ‘Casseta & Planeta’.
O cartunista Laerte não poupa elogios. “Acho o Jaguar um gênio da raça. É um dos maiores mestres que eu já tive. É antes e depois do Jaguar. É um cara que ensina muito sobre a vida no Brasil, a nossa cultura”, diz.
Amigo de Jaguar desde os anos 60, o jornalista e escritor Sérgio Cabral recorda a criação do ‘Pasquim’. “Ele deu o nome. Na reunião, eu levei uns 50 títulos para o jornal, mas, depois que ele falou, nem mostrei os meus. Só lamento que nossas vidas caminharam em direções diferentes e hoje quase não nos vemos. E uma das coisas boas da vida é conviver com Jaguar, com seu humor, ler suas crônicas no jornal”, diz Cabral. “Ele só precisa me consultar de vez em quando, porque troca as bolas. Tenho uma memória melhor do que a dele. Mas Jaguar pode tudo!”, brinca.
O cantor e compositor Martinho da Vila é outro amigo do cartunista. “O Jaguar é um grande brasileiro e, além do seu talento como cronista e como cartunista, é mesmo uma pessoa que gosta da vida, do Brasil, e gosta da boemia, do samba. Ele é uma coisa fantástica”, derrete-se.
Caindo nos 80
Começou com Elizabeth Taylor, minha colega etária, 79 anos, que cantou pra subir, seguida pelo nosso vice-presidente e outros menos votados. Ainda bem que pararam um pouco de morrer. A onda agora é comemorar os 80. Afinal, viver é melhor que morrer (há controvérsias). O mais novo octogenário é o chatíssimo e genial João Gilberto, inventor da Bossa Nova e da técnica de seduzir a mídia dando a impressão de que foge dela como o diabo da cruz.
Não temos como escapar da versão baiana da Greta Garbo. Nas rádios, tevês e folhas só dá ele, 24 horas por dia, de paletó e gravata, se escondendo atrás de um banquinho e um violão. A tardinha cai, o barquinho vai: mas volta sempre, como a barca da Cantareira.
Homenagens e especiais continuarão acontecendo seguramente até João Gilberto apagar um bolo de 81 velinhas. Ziraldo, que, como eu, vai fazer 80 no ano que vem, acusou o golpe: “Vocês não perdem por esperar! O pessoal de Caratinga desde já está se mobilizando para o meu ‘octogenário’. Virão oitenta ônibus lotados de lá para os festejos no Rio!” Preparem-se: em setembro de 2012 o Rio vai ficar entupido de caratinguenses.
Quanto a mim, que faço 80 no dia 29 de fevereiro (como sou bissexto, na verdade completo 20 anos), pretendo usar só um ônibus. Meu plano é ir para a rodoviária, ler os letreiros dos guichês e comprar um bilhete para alguma cidade de que nunca ouvi falar. Sempre detestei a ideia de comemorar aniversários. Festejar o quê? Um ano a menos de vida?
A menos que o diretor da Underberg (que é produzida no Brasil desde o ano em que nasci, 1932) aproveite a data para me convidar para conhecer a fábrica na Alemanha, como promete.
Rebelde inventor de piadas não-perecíveis
Não é só como cronista e jornalista que Jaguar mostra seu lado politizado: ele já protagonizou atos de rebeldia. Em 26 de outubro 1999, foi para a frente da Academia Brasileira de Letras protestar contra a posse de Roberto Campos, ex-ministro do Planejamento do governo de Castelo Branco, em plena ditadura militar. Vestido a caráter, com fardão dos imortais, jogou ovos da escadaria do lugar.
“As pessoas vão pisar em ovos ao entrar. Este será o pior dia da Academia, o mais vergonhoso”, disse à época.
Em 2006, em 22 de junho, voltou a protestar: devolveu a medalha Pedro Ernesto, porque a mesma comenda foi dada ao ex-deputado Roberto Jefferson, cassado por corrupção.
“É um cartunista que quanto mais velho fica, mais ácido e escroto é o humor. Longe de ser um velhinho fofo”, observa o cartunista Allan Sieber, outro fã de Jaguar. “Jaguar é o nosso único humorista não-perecível. É impressionante como ele nunca fica datado, cartuns que ele publicou nos anos 50 ainda não estão com o prazo de validade vencido. Eu rio toda vez”, concorda o cartunista Arnaldo Branco. “Outra coisa: é um dos melhores textos do nosso jornalismo”, elogia.
O poeta Ferreira Gullar já era amigo do cartunista antes da criação do ‘Pasquim’, onde também foi colaborador. “Jaguar tem muito talento, senso de humor, é um dos maiores cartunistas do País. É excelente, criativo, original, não só nas ideias, mas no desenho. O desenho em si já é muito engraçado. Ele se tornou um patrimônio da cidade”, diz.
Dois encontros com Fidel
Outro episódio engraçado na vida de Jaguar é a história de quando conheceu Fidel Castro em Cuba. Há mais de 40 anos, ele foi ao país participar de um salão de humor em Santo Antonio de Los Baños, cidade próxima a Havana. A viagem era proibida pelo regime militar no Brasil, mas Jaguar conseguiu ir pelo Panamá.
“Festejando a façanha, exagerei no rum e acabei subindo num palco onde alegres comunistas tocavam bongô e rebolavam do jeito deles, com os ombros. Tirei meu tamborim da mochila e me esbaldei”, lembrou ele.
Fidel, que assistia, depois parou ao lado do brasileiro para cumprimentar um ‘camarada’. Anos depois, Jaguar voltou a encontrar Fidel em Havana, em evento oficial.
Via odia.ig
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