quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

PORQUE A INTERNAÇÃO COMPULSORIA DE DEPENDENTE DE CRACK É NECESSÁRIA

Ilustrativa
A dependência química é uma doença crônica classificada pela Organização Mundial de Saúde cujos sintomas compulsivos reaparecem. Por isso, o dependente não deve ser tratado como um marginal, mas como um doente que precisa de tratamento.
Em geral, a decisão inicial de usar drogas é voluntária. No entanto, a dependência pode se estabelecer e, nesse momento, a capacidade de exercer autocontrole pode ficar seriamente comprometida. Nesse caso, sair das drogas deixa de ser um ato de vontade.
Estudos de imagens do cérebro de dependentes químicos mostram mudanças físicas em áreas do cérebro críticas para julgamento, tomada de decisão, aprendizagem, memória e controle do comportamento.
 Acredita-se que essas mudanças alteram o funcionamento do cérebro, explicando, pois, os comportamentos compulsivos e destrutivos do dependente. Por isso, a dependência é considerada uma doença mental.
Se o dependente químico é um doente mental que não possui critério para decidir por si próprio porque não possui autocontrole, é preciso que alguém decida por ele. Isso dito, é preciso que existam mecanismos de internação compulsória.
Não bastam ações que mais parecem o jogo de “gato e rato” ou afirmar que há uma boa infra-estrutura de assistência hospitalar à disposição daquele que quer largar as drogas. Não se trata de uma decisão de vontade.
O fato é que, hoje, quem depende da rede pública para o atendimento de um familiar dependente de drogas enfrenta uma burocracia que não combina com urgência da situação. Um dependente em surto coloca em risco sua família e si próprio.
Os mecanismos de internação compulsória adotados, atualmente, interferem na agilização que a situação exige. Sem eles, não é possível enfrentar o problema da cracolândia. Acresce que não há, em São Paulo, nenhum hospital de referência em atendimento aos dependentes químicos. Como é possível enfrentar esse problema sem uma infraestrutura que de suporte aos encaminhamentos?
Na verdade, muitos médicos e hospitais sequer sabem como proceder diante da situação e não atendem o paciente como um doente, mas como um marginal. O usuário é estigmatizado.
Pergunto às autoridades: o que fariam se tivessem um filho dependente químico na cracolândia? Deixá-lo-iam “perambular em busca de mais droga até que ele pedisse ajuda?” Não se trata apenas de um problema de segurança, mas também de saúde pública. Aceitem ou não é uma doença que precisa de tratamento especializado.
Às autoridades faltam compaixão e bom senso.


*Beatriz Silva Ferreira
Fundadora do Grupo Amor Exigente/São Luís
Especialista em Dependência química
Mediadora e terapeuta Famíliar
Autora dos livros Só Por Hoje Amor Exigente e Filhos que Amam Demais
Participação de um capítulo do livro “Aconselhamento em Dependência Química.”, organizado por Neliana Buzi Figlie, Selma Bordin e Ronaldo Laranjeira

4 comentários:

  1. Beatriz.

    Só vejo um pequeno problema, a mesma pessoa que fecha a chave é a que abre! Se esta pessoa gostar de manter os viciados dentro da internação aí que começa todos os problemas.

    Leia O Alienista de Machado de Assis, o cara era brilhante. Se tivermos algum Dr. Simão Bacamarte no sistema os viciados estarão ferrados.

    Rogério Maestri via Portal LN

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  2. Concordo plenamente, Beatriz. Frequentemente tenho batido nessa tecla, da necessidade do Estado, ou melhor, da obrigação do Estado de tratar os seus cidadãos. É preciso, sim, que profissionais competentes no assunto seja contratados pelo Estado de maneira a começar a resolver essa situação. As ONGs cumprem o seu papel, é muito legal, bacaninha, mas é necessário um trabalho mais profissional, que o tema seja tratado como assunto de saude pública pelo Ministério da Saude.

    Alexandre Carlos Aguiar via Portal LN

    Evidentemente, que o discurso sempre descamba para aquele (tosco) falso dilema: por que não se investem também contra o álcool e o cigarro, da mesma forma que para com as drogas ilícitas? Para começar, como já disse aí, é um debate sem sentido e tosco. As drogas chamadas ilícitas são ilegais ainda e estão, por isso, envovlidas com a criminalidade.

    Embora o alcoolismo e o tabagismo também sejam assunto de saude pública, com muita gente precisando de ajuda, ainda não se mata e não se rouba com tanta veemência como com as drogas de abuso. E os dependentes acabam envolvidos por sua condição mental fragilizada. Andam na linha tênue entre a doença e a bandidagem.

    Está mais do que na hora de se falar seriamente, sem chorinhos hipócritas, desse assunto.

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  3. O dependente químico requer cuidado.....e é na droga que nasce o nosso maior problema hoje, a segurança. O viciado, na sua grande maioria, cria um elo muito estreito com o crime pois, para manter o vício, o drogado faz qualquer negócio.....Mas, o viciado é um doente, a vítima e o lado mais fraco...precisa de atenção e cuidado. Não acho que o problema drogas tenha solução....uma "indústria" que movimenta trilhões, maior que muitos PIB's de muitos países...não vejo como combater , principalmente em razão dos tentáculos estarem tão enraizados e, bem sedimentados, em esféras pra lá de "altas".....

    Agora, o drogado precisa de tratamento, mas um tratamento adequado....e depois precisará de acompanhamento...ad infinitum......pois ele sempre será um compulsivo. Agora, tratamento e acompanhamento são bem diferentes de confinamento.

    Dê via Portal LN

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  4. Peço vênia para colocar minha colher nessa sopa. Apesar do termo não sou rábula. Sou um cara que pensa e a muito tempo já escrevi que criança não tem vontade, não tem livre arbítrio e não pode ser abandonada. Vamos por partes. Não tem vontade: não se pode, em caso de abuso sexual, ou de outras situações alegar que a criança quis. Não tem livre arbítrio: não terá ela conhecimento suficiente para definir o que é bom ou mau para ela. Não pode ser abandonada: criança é incapaz e incapaz não pode ser abandonado, pela família, pela sociedade e pelo poder público sob pena de fazer incidir sobre eles a força da Lei.Se tudo isso não serve para uma criança normal que diremos de uma criança cheia de krack e óxi. Mais, adulto que pratica crime sob o efeito de drogas, não tem aliviado a pena por não ter capacidade de raciocinar? Será ele capaz de tomar decisão em que ele sequer acha que tem problemas? Creio se tratar também de abandono de incapaz e passível de abordagem pela lei. Quando uma mãe desesperada prende de alguma forma um filho dependente, está se arriscando a ser julgada por algum tipo de crime, quando ela só está lutando pela vida do filho incapaz de pensar? E a sociedade e as autoridades,que normalmente não agem a tempo, já abandonaram o incapaz?

    15 de agosto de 2011 09:57

    Maestri, num de meus posts sobre o assunto, coloquei que quando não sabemos gerenciar um problema, ou não conseguimos, proíbe-se ou libera-se, fugindo da responsabilidade de decidir, investir, resolver ou errar tentando resolver o problema. Vamos colocar assim, o alienista retrata uma época, que em grande parte, vemos na atualidade. Só que existem mecanismos novos para que não aconteçam os chaveamentos com a perda da chave. Para todas as atividades humanas, devem existir regras, controle e punição por descumprimento. O acerto das medidas nos trará a resolução dos problemas.

    JOEL BENTO CARVALHO via Portal LN

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