segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Brasil já indenizou 8,7 mil portadores de hanseníase por isolamento forçado


Mais de 8,7 mil pessoas que, entre as décadas de 1950 e 1980, contraíram hanseníase e foram internadas compulsoriamente em hospitais-colônias já estão recebendo pensão como indenização do Estado.

Os dados são da Secretaria de Direitos da Presidência da República, responsável pela coordenação da comissão que analisa os processos. Os números se referem até setembro deste ano. Eles foram apresentados hoje (1º), durante o 8º Simpósio Brasileiro de Hansenologia, na capital paulista. Inicialmente, a estimativa do governo federal é que 4 mil pedidos seriam feitos.
Desde 2007, com a Lei Federal 11.520, pessoas submetidas ao isolamento forçado passaram a ter direito a uma pensão de um salário mínimo e meio. Até 1986, uma lei recomendava a internação desses pacientes em locais chamados, à época, de leprosários. Com o fim dessa política de prevenção, as unidades foram transformadas em hospitais gerais. No total, foram feitas 11.963 solicitações, mas apenas 3.171 foram indeferidas.

Maria Eugênia Gallo, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, informou que, em alguns casos, faltam documentos que comprovem o isolamento. “Esses livros [de registro de internação de pacientes] são muito preciosos. Infelizmente, das dezenas de leprosários que tivemos em todo o país, temos apenas três livros para consultar. O restante da documentação é muito precária ou inexistente.”

Ela destacou os isolamentos ocorridos no Acre, onde está boa parte (46 dos 145) dos pedidos de indenização judicializados. “Temos levantamento, mas poderia dizer que 90% são totalmente incapacitados. Eles eram diagnosticados e mandados para os seringais, onde continuavam exercendo a profissão, sem nenhuma orientação ou tratamento adequado. Não temos como avaliar o processo, porque não existe documentação.” O Acre perde apenas para Minas Gerais, com 63 do total de casos judicializados.

O Movimento de Reintegração das pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan) luta para estender esse direito aos filhos de portadores de hanseníase que foram entregues para adoção, gerando a separação de milhares de famílias. Thiago Flores, diretor nacional do movimento, disse que, embora exista a percepção de que essa é uma reparação importante, os entraves atuais para andamento do projeto de lei no Congresso são políticos e financeiros.

“Hoje, você tem dificuldade para conseguir um projeto que traga mais gastos para o governo. Do ponto de vista do reconhecimento de direitos, conseguimos avançar bastante. Nosso principal problema é econômico. O que trava o projeto é a questão orçamentária”, afirmou Flores. A estimativa é que 10 mil brasileiros ainda buscam familiares separados pelo isolamento compulsório de pacientes com hanseníase.

Preconceito
Para o diretor da Morhan, o combate ao preconceito e a capacitação de profissionais para diagnóstico precoce são os principais desafios para enfrentar a hanseníase. Segundo ele, hoje a doença é tratada como outra qualquer e o risco transmissão é interrompido a partir da primeira dose do tratamento.
“Muitas pessoas ainda têm a visão da doença como lepra bíblica, uma visão de que a doença é uma maldição, um castigo. A partir do momento em que não temos informação de que a doença é comum, fica muito difícil a adesão ao tratamento.”

Flores é filho de pais com hanseníase e que foram isolados compulsoriamente na colônia Santa Izabel, em Betim, Minas Gerais. Quando ele nasceu, já era permitido que os pais permanecem com os filhos. É lá que eles moram até hoje.

“Na minha época, a colônia já era aberta, livre e não tinha mais a questão dos filhos separados.” Segundo Thiago Flores, desde 1984, em Santa Izabel, os pacientes tinham direito a deixar a colônia. Acrescentou que a maioria permaneceu no local por viver lá há décadas e ter perdido o vínculo com a família, além do medo do preconceito.

Passados 30 anos, ele reconhece que, apesar de a colônia existir como um bairro comum no município, ainda há preconceito, pela falta de informação sobre a área da Santa Izabel. “As pessoas ainda carregam um estigma muito grande, principalmente nas cidades, porque essas colônias foram construídas em áreas isoladas. Tem diminuído, mas ainda há preconceito em relação às pessoas que ainda vivem em regiões de colônias, por causa da falta de informação.”

De acordo com o Ministério da Saúde, a hanseníase é uma doença crônica, infectocontagiosa, que atinge pele e nervos periféricos, podendo levar a sérias incapacidades físicas. No Brasil, foram 31.064 novos casos diagnosticados em 2014.

sábado, 31 de outubro de 2015

Oito coisas que aprendi com a educação na Finlândia

Ensino finlandês é uma das referências mundiais em qualidade da educação
Por Paula Adamo Idoeta - Da BBC Brasil  
Dona de um dos sistemas de ensino mais elogiados do mundo, a Finlândia recebeu, de fevereiro a julho deste ano, 35 professores de institutos federais brasileiros para treinamento e capacitação.

Embora em 2012 o país nórdico tenha caído do topo para a 12ª posição do Pisa, o principal exame internacional de educação (o Brasil ficou na 58ª posição do ranking, entre 65 países), ele ainda é apontado pela OCDE – a entidade que aplica o Pisa – como "um dos líderes mundiais em performance acadêmica" e se destaca pela igualdade na educação, alta qualificação de professores e por constantemente repensar seu currículo escolar.

Os docentes brasileiros foram selecionados pelo programa Professores para o Futuro, do CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Ministério da Educação), para passar cinco meses estudando a educação finlandesa.

A BBC Brasil conversou com quatro desses professores, para conhecer o que viram na Finlândia e saber se lições trazidas de lá podem facilitar seu trabalho em sala de aula e melhorar o aprendizado nas instituições públicas de ensino onde atuam.

Apesar das diferenças com o sistema brasileiro, os professores disseram ver como "pequenas revoluções" o que podem agregar do ensino finlandês em suas rotinas.

"Vou começar com um trabalho de formiguinha, mostrando aos meus colegas o que aprendi, gravando minhas aulas e adaptando (as metodologias) à nossa realidade e aos nossos estudantes", diz a professora Giani Barwald Bohm, do Instituto Federal Sul-rio-grandense.

Os 25 institutos federais que enviaram professores ao país nórdico reúnem cursos de ensino médio, profissional e superior com ênfase em ciência e tecnologia.

Veja o que os professores aprenderam na Finlândia:

1. Usar mais projetos nas aulas
Os professores entrevistados pela BBC Brasil dizem que projetos elaborados por alunos e a resolução de problemas estão ganhando protagonismo no ensino finlandês, em detrimento da aula tradicional.

São as metodologias chamadas de "problem-based learning" e "project-based learning" (ensino baseado em problemas ou projetos). Neles, problemas – fictícios ou reais da comunidade – são o ponto de partida do aprendizado. Os alunos aprendem na prática e buscam eles mesmos as soluções.

"Os projetos são desenvolvidos sem o envolvimento tão direto do professor, em que os alunos aprendem não só o conteúdo, mas a gerir um plano e lidar com erros", diz Bruno Garcês, professor de Química do Instituto Federal do Mato Grosso, que pretende aplicar o método em aulas de experimentos práticos.

Professores brasileiros passaram cinco meses em capacitação na Finlândia
Os professores brasileiros visitaram, na Finlândia, cursos superiores baseados inteiramente nessa metodologia.

"Um curso de Administração tem disciplinas tradicionais no primeiro ano. Mas, nos dois anos e meio seguintes, os alunos deixam de ter professores, passam a ter tutores, formam empresas reais e aprendem enquanto desenvolvem o negócio", diz Francisco Fechine, coordenador do Instituto Federal de Tecnologia da Paraíba.

Não é uma estrutura que sirva para qualquer tipo de curso, mas funciona nos voltados, por exemplo, a empreendedorismo, explica Joelma Kremer, do Instituto Federal de Santa Catarina.

"E os alunos têm uma carga de leitura, para buscar (nos livros) as ferramentas que precisam para resolver os problemas."

2. Foco na produção de conteúdo pelos alunos
A resolução de problemas e projetos é parte de um ensino mais centrado na produção do próprio aluno. Ao professor cabe mediar a interação na sala de aula e saber quais metas têm de ser alcançadas em cada projeto.

"Nós (no Brasil) somos mais centrados em o professor preparar a aula, dar e corrigir exercícios. O aluno faz pouco. Podemos dar mais espaço para o aluno avaliar o que ele vai desenvolvendo", diz a professora Giani Barwald Bohm, do Instituto Federal Sul-rio-grandense.

"No modelo tradicional de ensino, quem mais aprende é o professor. Lá (na Finlândia) é o aluno quem tem de buscar conteúdo, e o professor tem que saber qual o objetivo da aula. Para isso você não precisa de muita tecnologia, mas sim de capacitação (dos docentes)", agrega Joelma Kremer.

Professores Fechine, Bruno Garcês e Kelly Santos em sala de aula finlandesa: mais projetos práticos e autonomia dos alunos
3. Repensar o papel da avaliação
Nesse contexto, a avaliação tem utilidade diferente, diz Kremer: "A avaliação está presente, mas os alunos se autoavaliam, avaliam uns aos outros, e o professor avalia os resultados dos projetos".

"Ao reduzir o número de testes (formais) e avaliar mais trabalhos em grupo e atividades diferentes, os professores têm um filme do desempenho do aluno, e não apenas a foto (do momento da prova)", diz Fechine.

"Conhecemos um professor de física finlandês que avaliava seus alunos pelos vídeos que eles gravavam dos experimentos feitos em casa e mandavam por e-mail ou Dropbox."

4. Usar tecnologia e até a mobília para ajudar o professor
A tecnologia não é parte central desse processo, mas auxilia o trabalho do professor em estimular a participação dos alunos finlandeses.

"Em vez de proibir o celular, os professores os usam em sala de aula para estimular a participação dos alunos – por exemplo, respondendo (via aplicativos especiais) enquetes que tivessem a ver com as aulas", conta Kremer.

Algumas salas têm mobília especialmente projetada para que os alunos possam ser agrupados ou separados
Salas especialmente projetadas e tecnologia amparam o trabalho do professor
"Isso torna a aula mais interessante para eles. E é complicado para a gente ficar dizendo, 'desliga o celular', algo que já começa estabelecendo uma relação de antipatia com o aluno."

Os professores brasileiros também conheceram algumas salas de aula com mobília especialmente projetada, diferente do modelo tradicional de cadeiras individuais voltadas à lousa.

"Muitas salas têm sofás, poltronas, mesas ajustáveis para trabalhos individuais ou em grupo e vários projetores", agrega Kremer. "É um mobiliário pensado para essa metodologia diferente de ensino."

Fechine vai reproduzir parcialmente a ideia no Instituto Federal da Paraíba, trocando as carteiras de braço por mesas que possam ser agrupadas para trabalhos.

5. Desenvolvimento de habilidades do século 21
A professora Giani Barwald Bohm conta que o ensino fundamental finlandês continua dividido em disciplinas tradicionais, mas focado cada vez mais no desenvolvimento de habilidades dos alunos, e não apenas na assimilação de conteúdo tradicional.

"(São desenvolvidas) competências do século 21, como comunicação, pensamento crítico e empreendedorismo", diz ela.

Para Fechine, estimular a independência do estudante é uma forma de romper o ciclo de "alunos passivos, que só fazem a tarefa se o professor cobrar, interagem muito pouco".

Universidade de Tampere, na Finlândia; jornada escolar finlandesa tem intervalos mais frequentes
6. Intervalos mais frequentes entre as aulas
A Finlândia adota aulas de 45 minutos seguidas de 15 minutos de intervalo na educação básica – prática que Bruno Garcês acha que poderia ser disseminada por aqui. "Tira a tensão de ficar tantas horas sentado", diz.

Fechine também considera a ideia interessante, mas aponta que a grande carga horária no ensino médio brasileiro dificulta sua aplicação e lembra que na Finlândia ela é acompanhada de uma forte cultura de pontualidade. "As aulas começam no horário e aluno rapidamente entra na (rotina de) resolução de problemas."

7. Cultivar elos com a vida real e empresas
Muitos dos projetos dos estudantes finlandeses são tocados em parcerias com empresas, para aumentar sua conexão com a vida real e o mercado de trabalho, algo que Garcês acha que poderia ser mais frequente no Brasil.

"Aqui na área rural do Mato Grosso podemos ter uma interação maior com as fazendas locais, ministrando aulas a partir do que os produtores rurais precisam."

A vantagem disso é que o aluno vê sentido prático e profissional no que está aprendendo, explica Giani Barwald Bohm. "Ele desenvolve algo diretamente para o mercado de trabalho, que vai ter relevância para o próprio estudante e é contextualizado com as empresas locais."

Ela destaca também as competições de habilidades práticas desenvolvidas por escolas locais (um preparativo para a competição internacional WorldSkills, que neste ano será realizada em São Paulo, pelo Senai, entre quarta e sábado desta semana).

"As empresas são envolvidas na organização e acompanham os alunos no dia a dia e até ficam de olho para contratá-los depois."

Competição de habilidades entre alunos finlandeses; ensino é voltado para a prática
8. Formação mais prática e valorização do professor
A formação dos professores é apontada como a principal chave do sucesso do ensino finlandês. Os brasileiros observaram lá uma capacitação mais prática, voltada ao dia a dia da sala de aula, e mais interação entre o corpo docente.

"Algumas salas têm dois professores - um como ouvinte do outro caso seja menos experiente", relata Fechine.

"Há uma relação mais direta (entre os professores), com muita conversa entre quem dirige o ensino e quem dá aula", agrega Barwald Bohm.

"Além disso, há uma valorização cultural do professor lá, semelhante à de outras profissões. O salário é equivalente e as condições de trabalho dão bastante tempo para o planejamento das aulas", diz Bruno Garcês.

Diferenças e semelhanças da educação no Brasil e na Finlândia



Comentários sobre as diferenças e semelhanças educacionais entre Brasil e Finlândia. As ações de gestão que proporcionaram o 1º. lugar da Finlândia na avaliação internacional da qualidade da educação. As principais razões do sucesso do sistema educacional da Suécia.

Ana Cristina Canettieri (*)

No período de 27 de abril a 14 de maio, um grupo de educadores participou da viagem educacional à Escandinávia, interessados em conhecer detalhes do modelo educacional da Finlândia e da Suécia e identificar as principais razões do sucesso na avaliação do PISA. Destaca-se, o orgulho de todos por ter feito parte da primeira missão brasileira a ser oficialmente recebida pelos governos dos dois países.

Na Suécia houve um encontro especialíssimo, no Palácio Real de Estocolmo, com a Rainha Silvia, filha de brasileira e pai alemão, viveu em São Paulo dos 4 aos 13 anos, fala o português sem sotaque, é adorada pelos suecos, tem 3 filhos, e sua filha primogênita, a Princesa Vitória, é a primeira na linha de sucessão ao trono sueco.

A Escandinávia possui hoje o mais elevado padrão de vida, mesmo entre as nações desenvolvidas. Nos últimos 30 anos, a Finlândia vem se destacando positivamente no cenário europeu e a educação tem papel fundamental na obtenção desse status quo . Hoje, esses países, e especialmente a Finlândia, que obteve a primeira colocação no exame do PISA, constituem modelos de excelência na educação e despertam grande interesse de governos, educadores, economistas e empresários do mundo todo.

A comitiva, formada por mais de 70 educadores de várias regiões do Brasil, participou de seminários sobre o sistema educacional sueco e finlandês e realizou visitas a dezenas de escolas, com objetivo de conhecer e comparar o papel do Estado e da escola privada, a capacitação e o papel fundamental do professor, o grau de autonomia dado às crianças e aos jovens, a inclusão natural de todos os estudantes, inclusive dos imigrantes, o sistema de avaliação das escolas.

Para ampliar ao máximo a visão sobre o sistema sueco e finlandês, foram incluídas visitas a instituições de ensino de diferentes níveis, do pré-escolar à universidade, pública e privada, de periferia e de bairros tradicionais.

Sobre o PISA

O PISA, sigla de Programme for International Student Assessment , é uma avaliação internacional da qualidade da educação, patrocinada pelos países participantes da OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, com coordenação nacional a cargo do INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, órgão vinculado ao Ministério da Educação.

A avaliação feita no PISA ocorre a cada ciclo de 3 anos, com um plano estratégico que se estenderá até 2015. As áreas principais, a que se dedicam 2/3 do tempo das provas são: Leitura, em 2.000, Matemática, em 2003 e Ciências, em 2006.

No ano de 2006, 56 países membros da OCDE e países convidados, que é o caso do Brasil, participaram da avaliação do PISA. Em cada país são avaliados entre 4.500 a 10.000 alunos, de 15 e 16 anos, das 7ª. e 8ª. séries do ensino fundamental e do 1º. e 2º. anos do ensino médio, de escolas públicas e privadas.

O PISA tem uma particularidade, se comparado ao nosso SAEB, (*) Sistema de Avaliação da Educação Básica: a prova abrange, não somente os domínios curriculares, que é o caso do SAEB, mas, especialmente, os conhecimentos relevantes e as habilidades necessárias à vida adulta, com ênfase no domínio dos procedimentos, compreensão dos conceitos e capacidade para responder a diferentes situações do dia-a-dia.

(*) Em 2005, a Portaria Ministerial n.º 931 alterou o nome do histórico exame amostral do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), realizado desde 1990, para Avaliação Nacional da Educação Básica (Aneb). Por sua tradição, entretanto, o nome do Saeb foi mantido nas publicações e demais materiais de divulgação e aplicação deste exame.

Sobre a Finlândia

De um lado, ao extremo norte, a Finlândia faz fronteira com a Suécia, e de outro, em quase toda a sua extensão, com a Rússia. Helsinque, sua capital, é banhada pelas águas pouco salgadas do mar Báltico, e por esta razão se congela no inverno com uma camada de mais de 2 palmos de gelo. Neste período, os finlandeses praticam esqui sob o mar congelado, e alguns, os mais corajosos, fazem furos no gelo para pescar salmão.

Devido à inclinação do eixo da terra, uma vez ao ano, entre os dias 17 e 24 de junho, a Finlândia fica exposta ao sol 24 horas por dia – é o sol da meia-noite. Este período é tão importante que há festival de danças típicas ao ar livre para celebrá-lo.

Ao longo dos tempos, Suécia e Rússia dominaram a Finlândia – são 800 anos de história com a Suécia e 100, com a Rússia. Após a revolução russa, em 1917, a Finlândia ficou independente, portanto, apenas há 90 anos!

A população da Finlândia é de 5.200 milhões de habitantes e de Helsinque, 560 mil. Para efeito de comparação entre as cidades de referência, Estocolmo tem 900 mil, Oslo 529, Berlim 3.300 milhões e St. Petersburgo, 4.660 milhões, que juntas não alcançam a população de São Paulo!

E obrigado em finlandês é  kiitos !

A Educação na Finlândia

A nossa comitiva foi privilegiada ao ter tido não apenas um, mas dois encontros com Mrs. Eeva Pentilla, uma das mais respeitadas vozes em Educação da União Européia e responsável pelas escolas de Helsinque. Mrs. Pentilla, nos fez dois longos e apaixonantes relatos sobre a educação de seu país e nos confidenciou que pouco antes de sair o resultado do exame do PISA havia marcado uma reunião para discutir alguns pontos que considerava que não estavam nada bons nas escolas de Helsinque!! - Foi uma surpresa o 1º. lugar, não somos muito bons em matemática, gastamos mais tempo ensinando línguas, disse.

O sistema educacional da Finlândia é pequeno se comparado a muitos estados brasileiros. São 161 escolas básicas, as comprehensive schools – de 7 a 16 anos e 38 escolas secundárias, que totalizam pouco mais de 70 mil estudantes. Soma-se a este sistema os 26 mil alunos matriculados nas 37 escolas vocacionais ou técnicas, 130 mil nas 31 politécnicas e 176 mil nas 20 universidades.

No período em que a Finlândia fez parte da Suécia, a educação era feita pela igreja, que exigia que toda pessoa que quisesse se casar na igreja deveria saber ler. Saber ler é fazer parte da sociedade, é muito importante um indivíduo ser aceito pela sociedade, ser aceito pelo vizinho, afirmam os finlandeses. Assim, esta idéia persiste até hoje, a única mudança é que a sociedade não quer só; saber ler, quer também a conclusão de todo o ciclo escolar básico.

Em 1970 houve uma grande revolução na educação finlandesa. Isso foi necessário pois no antigo sistema 20% no máximo completava o ciclo básico. Em 20 anos a Finlândia reverteu significativamente essa porcentagem. Já em 2004, as estatísticas mostraram que 9 alunos estavam fora da escola, e atualmente, 12 alunos. Notem, não estou me referindo à porcentagem! E esses 12 alunos têm ocupado o tempo de vários educadores buscando diferentes formas do sistema educacional reabsorvê-los.

No antigo sistema só a educação primária de 6 anos era gratuita, o restante da educação era paga. Em 1970, a educação básica passou a ser obrigatória e gratuita e com 9 anos de escolaridade e funcionamento das 8 às 15 horas. Também são gratuitos, durante os primeiros 9 anos, o transporte, a refeição e todo o material escolar. Após este período, os alunos têm que pagar os livros.

Na Finlândia, não se ensina a ler no ensino pré-escolar - a criança tem o direito de ser criança por mais tempo, ensinam, e está pronta para aprender a ler a partir dos 7 anos, afirmam.

Respondendo sobre a principal diferença entre o sistema educacional sueco e finlandês, Mrs. Pentilla deu o seguinte exemplo: se pais suecos saem para esquiar com o filho e o filho cai, eles correm para acudir; pais finlandeses, na mesma situação, simplesmente olham e dizem: - se levanta você é capaz, você consegue. Assim, a palavra de ordem no sistema educacional finlandês é: AUTONOMIA.

Existem escolas privadas na Finlândia, as independentes, como são chamadas. Todas são gratuitas, totalmente financiadas pelo Estado e abertas ao controle do Estado. A expansão do ensino privado é bastante incentivada pelo governo - só o setor privado reúne condições para atender às necessidades de uma sociedade que demanda por serviços educacionais cada vez mais diversificados.

Os reitores das escolas independentes, assim como os das públicas, são executivos recrutados no mercado, que têm que provar, ano a ano, que aplicaram bem os recursos recebidos para continuar no cargo.

Na Finlândia as escolas são consideradas um ótimo local para se trabalhar. Muitos querem atuar nas escolas, especialmente na docência. O prestígio dos professores é alto. Esses profissionais são valorizadíssimos e é comum auferirem salários superiores aos dos reitores, e ganham ainda mais aqueles que ensinam nos dois primeiros anos iniciais, considerados os mais importantes na motivação da aprendizagem. Se não forem adequados, podem interferir negativamente em todos os anos seguintes, afirmam. Os professores que atuam no nível fundamental contam com um suporte de psicólogos para atendê-los.

Se alguns alunos têm continuamente problemas de aprendizagem, a escola dispõe de professores especiais para recuperá-los. Na prática, se a dificuldade é em matemática, o aluno vai estudar com um professor especializado em problemas de aprendizagem, não com um professor de matemática. E a “recuperação” não ocorre após as aulas: mais tempo não motiva a criança ao aprendizado, pelo contrário, só faz cansá-la ainda mais. Também não são dados muitos exercícios aos alunos com dificuldades de aprendizagem - a quantidade de tarefa escolar é de acordo com as necessidades de cada um. E, ademais, as aulas e os exercícios escolares são organizados de tal forma que o aluno tenha tempo para o lazer.

Os alunos com dificuldades de aprendizagem não muito severas estão integrados na mesma turma, e neste caso, a classe conta com um professor assistente. Pode ocorrer de ter 2 ou 3 professores em sala de aula. Para aqueles com dificuldades mais sérias, há escolas especializadas que funcionam dentro das escolas normais.

A formação do professor é feita na universidade que dura de 5 a 6 anos, a do professor-assistente, nas escolas politécnicas. Assim como a dos médicos é na universidade e a dos enfermeiros, na politécnica.

Em Helsinque para cada 800 alunos há um psicólogo e um assistente social, com locais de trabalho próprios dentro das escolas. Todos os alunos quando ingressam na escola têm uma entrevista com o psicólogo e com o assistente social. Graças a essa rotina de entrada, mais tarde, se eventualmente vierem a precisar de ajuda, não se sentirão estigmatizados pois já os conhecem.

As mulheres finlandesas são consideradas “beges”, ou seja, são as que menos gastam com cosméticos em toda a União Européia, por outro lado, são bem motivadas para os estudos. Segundo resultado de uma pesquisa, elas atribuem muito valor ao homem que esteja no mesmo nível intelectual. Do universo feminino 70% tem curso superior, contra 40% do masculino, e a tendência é aumentar, na medida em que as mulheres vêm obtendo melhores resultados nos históricos escolares.

Muitos homens, por não terem cursado a universidade nem a escola politécnica, estão fora do mercado de trabalho. Isso pode ser uma das causas pela qual a Finlândia enfrenta um problema bastante sério – o alto índice de suicídio, especialmente dos homens entre 20 e 30 anos. Diante disso, os responsáveis pela educação vêm desenvolvendo intensamente ações para ampliar a participação masculina no ensino superior.

Um dos aspectos que contribuíram para os excelentes resultados no PISA é o nível de formação das mães, que é alto na Finlândia. Cabe mais à mãe e não aos pais, a responsabilidade em motivar os filhos à aprendizagem. Soma-se aos bons resultados os alunos serem motivados, permanentemente, a ler muito.
É um mau exemplo na Finlândia os pais levarem as crianças de carro à escola. Elas são levadas a se virarem por si mesmas.

Uma tradição finlandesa muito popular é o hábito de se fazer sauna. Como a escola deve ser uma extensão da casa e toda casa tem sauna, então na escola também deve haver uma. E regularmente alunos e professores fazem sauna, e não são encontros puramente festivos ou de lazer, são oportunidades para contextualização de conhecimentos.

Não há câmeras espalhadas pelas escolas, em hipótese alguma. As escolas são ambientes familiares - se não há câmeras nas casas não haveria razão de tê-las nas escolas. Em algumas escolas, alunos, professores, e funcionários, tiram os sapatos ou tênis com intuito de fazerem menos barulho e também para se sentirem mais confortáveis como se estivessem em casa.

Registra-se que durante as visitas às escolas não houve citação de nomes de teóricos que dão sustentação ao ensino na Finlândia. Enfaticamente é reforçada a autonomia dos professores, a confiança depositada neles no fazer bem o trabalho de ensinar. Há métodos de alfabetização específicos para ensinar famílias de imigrantes, outros, para ensinar crianças com maior nível de informação e domínio da língua, enfim, a educação é individual não é algo que se faça em massa.

Sobre a Suécia

A capital do Reino da Suécia é Estocolmo, que está construída sob 14 ilhas e há muitas e muitas pontes. É considerada a Veneza do Norte.

A religião dominante é luterana (94%) católica (4%) e outras (2%). As três coroas é o símbolo da Suécia.

Dizem os suecos que é mais barato manter a monarquia do que mudar o presidente de 4 em 4 anos, e as primeiras-damas a fazerem as mudanças nas cortinas, nos sofás...

A Educação na Suécia

A Suécia conquistou a 10ª. posição na avaliação do PISA, e de uma forma geral, há muita similaridade nos dois sistemas de ensino, assim, muitas situações encontradas nas escolas da Finlândia se repetem nas da Suécia e vice-versa.
Tal como na Finlândia, o sistema escolar sueco está baseado na autonomia . Desde 1991, foi delegada muita responsabilidade para as escolas, para os gestores e para a municipalidade. O governo e o parlamento ditam a forma e os objetivos a seguir e as escolas devem fazer avaliação periódica para constatar se as exigências legais estão sendo seguidas.

Nos últimos 20 anos houve muita modificação na pré-escola. Segundo a legislação sueca, se os pais querem trabalhar a comuna tem que garantir a integração da criança na escola. Assim, a pré-escola tem 2 funções: permitir que os pais trabalhem e garantir a possibilidade de inserção da mulher no mercado de trabalho. Para isso, as escolas infantis funcionam das 6:30 às 18:30 horas. Estão integradas no ensino infantil 98% das crianças com 3 e 4 anos.

Formação Técnica

A partir de 1980 houve uma mudança de paradigma na formação profissional dos técnicos – aformação profissional , dá lugar à preparação profissional. Antes, os alunos só aprendiam a trabalhar com as mãos. Para ser um cidadão, não se pode ter conhecimentos só da prática. Há que se dominar a língua e se ter conhecimentos matemáticos. Hoje, 1/3 dos estudos é teórico. Os empregadores consideram que os estudantes de hoje não são tão rápidos no ofício. Por meio de encontros e reuniões, as escolas buscaram a mudança de mentalidade dos empresários para melhor aceitação e conseqüentemente manutenção do emprego desse novo técnico. O professor tem como uma de suas atribuições visitar freqüentemente as empresas em busca do ajuste da formação. E a formação pedagógica desses professores deve ser garantida pela escola.

Todas as escolas fundamentais, secundárias ou pós-secundárias funcionam em período integral – das 8 às 15 horas.

A licença maternidade é longa na Suécia – 14/16 meses. É um direito da criança e não dos pais. É a criança que tem o direito de estar junto dos pais por mais tempo.

No período de 1991 a 2006 cresceu muito o número de escolas privadas na Suécia, e, assim como na Finlândia, são totalmente gratuitas. A razão principal dessa expansão, se deve ao incentivo dado pelo governo, por entender que as escolas independentes podem atender melhor as diferentes peculiaridades e anseios da comunidade, e ainda, permitir a livre escolha do aluno, que por meio de um “ vaucher” decide onde quer estudar.

Há uma escola, por exemplo, só para alunos que têm pais trabalhando no exterior e pais do exterior trabalhando na Suécia. Numa outra escola, a peculiaridade é a prova de música ser eliminatória para o acesso. Os alunos fazem “cursinho” de canto, se quiserem estudar nesse tradicional ginásio. Já numa outra, que tem por missão ser uma escola politécnica europeia: não se aceita professores americanos, latinos ou asiáticos, por exemplo, nem alunos de outra nacionalidade que não a dos países europeus, e os temas estudados são de interesse tão somente da Europa.

Nas escolas, mesmo nas mais elitizadas, é comum ter oficinas e cozinhas para que os alunos, a partir de 13 anos, aprendam a consertar bicicletas, aparelhos domésticos, entendam os fundamentos da hidráulica, da elétrica, da mecânica, preparem o almoço e lanche, etc. É o conceito da autonomia presente. E atenção: meninos e meninas participam!

Como cada aluno traz o seu vaucher , mais aluno significa mais dinheiro para a escola, aí se estabelece a concorrência entre as escolas. A escola que não atrai um número mínimo de alunos é fechada, assim, para se tornar mais competitiva a qualidade e os feitos das escolas são bastante divulgados.

As razões do sucesso das melhores escolas são atribuídas à escolha meticulosa dos professores. Eis as características de um bom professor:
  • possuir amplo conhecimento da matéria;
  • dar ao aluno a responsabilidade de seus estudos;
  • ser colaborador com seus colegas professores;
  • ter uma perspectiva alargada para ensinar.
Embora a direção das escolas tenha autonomia para determinar a quantidade de alunos em cada sala de aula, a média é em torno de: 17 nas escolas infantis; 20 nas escolas fundamentais e 30 nas secundárias.

O percentual de alunos que termina o liceu, o equivalente ao ensino médio, e vai para o ensino superior é de 44%. Todavia, nem sempre basta ter o diploma e boas notas pra ingressar na universidade, às vezes, é preciso vir de uma escola renomada. É assim, por exemplo, na conceituada universidade de pesquisa de Estocolmo, a Royal Institute of Technology – RTH, pronuncia-se kô-te-rro, que exige, digamos assim, pedigree no diploma do ensino médio. A RTH atua com foco em Arquitetura e Engenharia, tendo por missão “excelência em educação, pesquisa e empreendedorismo”. Suas áreas mais procuradas são: Arquitetura e Energia, e mais ultimamente, a tendência é para a área de Ecologia Industrial. Constitui área de interesse em todas as disciplinas da RTH o tema Desenvolvimento Sustentável.

Os reitores têm total autonomia na aplicação dos recursos recebidos da administração central, e a quantidade não está vinculada aos resultados de desempenho. Implicitamente isso quer dizer que todas as escolas têm que ser competentes na sua finalidade última. As palavras mais importantes que os reitores devem conduzir seus alunos a serem são: competentes , ativos e curiosos , e tudo isso tem que ser buscado de forma agradável.

Educação Multicultural

Na Suécia, 87% dos estudantes têm outra língua materna. Há princípios que regem o bem estar da criança na escola, e, um deles, é ter a própria língua falada na escola. Se a língua for “viva” em casa ela deverá ser dada na escola. Por conta disso, o ensino da língua ocupa um espaço muito especial na Suécia. Para se ter uma idéia dessa especialidade, há um departamento pertencente à Secretaria de Educação de Estocolmo que tem 430 professores para atender as escolas em 52 diferentes línguas. E para se ensinar a língua é preciso que o professor seja do país de origem. Assim, há muitos professores estrangeiros na Suécia. Como exemplo, numa das escolas visitadas havia mais de 20 idiomas representados! Investe-se muito dinheiro na formação dos professores de línguas.

Avaliação das Escolas na Suécia

O primeiro nível de avaliação é feito pela própria escola e um dos pontos essenciais que deve ser levado em consideração é o atendimento dos objetivos propostos pela escola.

Assim acontece a inspeção das escolas:

  • os inspetores se apresentam à escola e informam que entre 2 a 8 meses retornarão para visitá-la
  • avaliam in loco a qualidade da escola: olham o site , a relação da escola com os pais, com a família, assistem aulas, entrevistam professores e alunos
  • são discutidos com a escola os principais pontos e apresentam um relatório de 15 páginas, com considerações sobre os pontos fortes e fracos e os pontos que necessitam de mudança
  • após 6 ou 8 meses da visita, se reúnem com os professores, alunos e diretores para checar o que foi feito, tendo por base o relatório feito durante a visita.

As visitas de inspeção das escolas são feitas ao longo de 3 anos. Os inspetores são bem vindos, especialmente pelas escolas particulares, pois têm neles um consultor de graça. Às escolas é solicitado que coloquem nos seus sites os relatórios de avaliação, no entanto, só 20% o fazem, geralmente as melhores avaliadas. Anualmente as escolas têm que entregar à administração central o “Quality Report”, e não existe avaliação de professores separadamente, a avaliação é da escola.

Ênfases

Existem três assuntos que tanto escolas suecas como finlandesas dão muita ênfase – religião, línguas e arte.

Religião - o ensino religioso é obrigatório. A todos os alunos se ensina a religião, de cada um deles. A partir de 3 alunos de uma determinada religião, a escola deverá se organizar para oferecer a religião deles, e não precisam ter a mesma idade para compor a turma.

Línguas – aos 9 anos de idade toda criança deve começar o aprendizado de uma segunda língua. Se aos 9 anos um aluno escolher outra língua que não o inglês, aos 10, obrigatoriamente deve escolher o inglês. Assim, todos, sem exceção, devem alcançar conhecimentos iguais em duas línguas, sendo o inglês uma delas. Além disso, aos 11 anos, cerca de 70% escolhem uma terceira língua. Entre os alunos do liceu, mais da metade aprendem 4 línguas! Há uma preocupação do sistema educacional no ensino da língua materna aos imigrantes. Pesquisas comprovam que uma pessoa perde 40% de sua inteligência se ela não fala a sua língua materna. Ademais, a língua materna é a língua dos sentimentos. Quando um imigrante chega à Finlândia, passa um ano estudando na sua língua materna para se habituar à cultura, aos costumes e muito intensivamente à língua finlandesa. Depois disso, estará apto para ir à escola que escolher. A Finlândia faz isso também por questões econômicas, é preciso que haja pessoas com boa formação em qualquer ocupação, seja ela qual for.

Artes – a arte está por toda parte em todas as escolas, com funções altamente educativas e culturais. Há exposições de fotos, desenhos, pinturas, esculturas, instalações, concertos musicais, mostras de textos literários, poesias, etc. Nas paredes das salas de aula, nas portas, nos corredores, nos pátios, estampam-se muitas informações sobre o mundo das artes. Essa profusão de cores, formas, designs , ativam diferentes funções do cérebro.

Por fim, a Finlândia afirma que é a escola que tem a responsabilidade pela aprendizagem do aluno e não a família; esta se responsabiliza pela criação. Diferentemente do nosso país que constitucionalmente diz que a educação é dever, também, da família. O que temos assistido nas últimas três décadas, são centenas de milhares de famílias e de escolas colhendo juntas os frutos amargos da incompetência da arte de ensinar.

Em 2003, a avaliação aplicada pelo Ministério da Educação, por meio do SAEB, reafirma o péssimo desempenho das escolas: 95,2% das crianças concluem a 4ª. série sem saber ler nem escrever adequadamente e 96,8% dos adolescentes concluem a 8ª. série sem raciocínio básico de matemático! O desempenho do Brasil no PISA não poderia ser diferente diante desse cruel cenário nacional – está posicionado na rabeira do mundo!

Para que as escolas brasileiras possam melhorar seus indicadores de qualidade não há mágica, é preciso muito esforço de todos, no entanto destaco como prioritário: 100% de atenção ao novo curso de Pedagogia, que desde 2006 é responsável pela formação dos professores que vão atuar nas cinco séries iniciais do Ensino Fundamental, e foco dos gestores das escolas na eficácia da alfabetização.

(*) Ana Cristina Canettieri, administradora, com pós-graduações em universidades nacionais e internacionais. No período de 1980 a 1992 foi assessora técnica no Ministério da Educação, em Brasília. É sócia diretora da Cadec, desde 1993, e diretora do Centro Educacional Paulo Nathanael, escola de formação técnica profissional de gestores escolares.

Cresce diferença de desempenho entre ricos e pobres até em escolas públicas


A diferença de desempenho escolar entre as escolas públicas mais pobres e mais ricas no Brasil aumentou desde 2005. É o que mostra a comparação do NSE, índice que avalia o rendimento dos estudantes de nível socioeconômico mais baixo e mais alto na Prova Brasil, avaliação oficial do governo federal para medir o desempenho em Língua Portuguesa e Matemática a cada dois anos.
O NSE é calculado pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), com base em dados de escolaridade, ocupação e renda fornecidos para a avaliação. Em 2005, a diferença de desempenho na prova entre os 20% com nível socioeconômico mais baixo e os 20% de nível mais alto para o 5º ano em Língua Portuguesa foi de 20,34 pontos. Em 2013, dobrou: 42,7 pontos, um salto de 110%. O mesmo problema é observado em Matemática: a diferença avançou de 20,03 pontos para 47,97, um acréscimo de 139%. A prova de 2015 ainda não foi feita.
A desigualdade também cresceu no 9º ano, mas em menor proporção. Em 2005, a diferença entre a média das escolas de nível socioeconômico mais baixo e mais alto para Português foi de 24,39 pontos. Em 2013, subiu para 27,77, um salto de 14%. Já em Matemática, a diferença cresceu 16%.
Apesar disso, tanto o nível mais baixo quanto o mais alto tiveram notas aquém do esperado. O movimento Todos pela Educação considera que, nos anos iniciais, os estudantes deveriam ter obtido, no mínimo, 200 pontos em Língua Portuguesa e 225 em Matemática --as notas ficaram em 182,72 e 205,10 pontos, respectivamente. Nos finais, as notas mínimas deveriam ter sido 275 pontos em Português e 300 em Matemática, mas alcançaram 237,78 e 242,35, respectivamente.
A redução desta diferença precisará estar no topo das prioridades do Ministério da Educação, de Estados e municípios nos próximos anos. É o que prevê o novo PNE (Plano Nacional de Educação). Faltam, no entanto, estratégias concretas para isso. Desde que o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, assumiu a pasta, em setembro, o MEC tem afirmado que vai alterar os programas que atendem unidades mais carentes.
Os dados da Prova Brasil ainda mostram que o aumento na diferença das notas ocorre principalmente pela dificuldade de as escolas com alunos mais pobres progredirem. No 5º ano, a nota de Português da faixa de NSE mais baixo praticamente não variou de 2005 a 2013 - foi de 168 para 168,99 (1%). Já os alunos de NSE mais alto variaram 12% --de 188,34 para 211,69. Em Matemática para o mesmo ano, o NSE mais baixo melhorou a nota em 4% e o mais alto, em 18%.
A situação é mais complicada em Matemática no 9º ano, em que os alunos mais pobres tiveram uma piora no desempenho: no mesmo período, as notas caíram 2% e foram de 231,6, em 2005, para 227,35 em 2013.

Ideb

A mesma lógica é observada em outro levantamento apresentado pelo Inep em setembro. Na ocasião, houve comparativo do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), principal indicador de qualidade educacional, entre escolas com NSE baixo e alto, sob as mesmas condições de gestão (número de alunos e ciclos). A diferença é de 62,2%: 3,3 para o NSE baixo e 5,3 para o alto.
Para a pesquisadora do Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação e Ação Comunitária) Vanda Mendes Ribeiro, as ações do MEC, mesmo quando buscaram a melhoria na educação, não focaram nos níveis socioeconômicos. De acordo com ela, uma das formas de combater a desigualdade é ter alunos de diferentes origens na mesma sala. "As crianças têm de caminhar juntas." As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".

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