As
indefinições e alterações significativas na meta fiscal impactam as
expectativas para a inflação e cria uma percepção negativa sobre o ambiente
econômico. A avaliação consta da ata da última reunião do Comitê de Política
Monetária (Copom), divulgada hoje (29) pelo Banco Central (BC).
A última
reunião do Copom ocorreu nos dias 20 e 21 deste mês, quando o governo já
havia avisado que revisaria a meta de resultado fiscal para este ano. Na
última terça-feira (27), o governo anunciou de que o Orçamento de 2015
deverá ter meta de déficit primário (despesas maiores que
receitas) de R$ 51,8 bilhões, que corresponde a 0,8% do Produto Interno Bruto
(PIB), soma de todos os bens e serviços produzidos no país. Esse valor não
inclui os atrasos nos repasses a bancos públicos. Inicialmente, a meta de
superávit primário, economia para pagamento de juros da dívida, para União,
estados, municípios e estatais correspondia a R$ 66,3 bilhões (1,1% do PIB)
para este ano. Em julho, por causa da queda na arrecadação federal, a equipe
econômica diminuiu a meta para R$ 8,747 bilhões, 0,15% do PIB.
“Sobre o
combate à inflação, o comitê destaca que a literatura e as melhores práticas
internacionais recomendam desenho de política fiscal consistente e sustentável,
de modo a permitir que as ações de política monetária [definições sobre a taxa
básica de juros, a Selic] sejam plenamente transmitidas aos preços”, diz a ata
do Copom.
Para o comitê,
há incertezas relacionadas à inflação no futuro. Uma das incertezas está
associada “à velocidade do processo de recuperação dos resultados fiscais e à
sua composição” e ao processo de realinhamento de preços relativos (internos em
relação aos externos e livres em relação aos administrados), que está “mais
demorado e mais intenso que o previsto”.
Nesse cenário
de incertezas, o BC retirou da ata a expectativa de que a inflação se
encaminharia para o centro da meta em 2016. O comitê cita apenas
“horizonte relevante” como prazo para levar a inflação para a meta, ou seja, em
dois anos. Assim, a inflação só convergirá para a meta em 2017. “Nesse
contexto, o comitê entende que, independentemente do contorno das demais
políticas, a política monetária deve se manter vigilante, de forma a assegurar
o cumprimento dos objetivos do regime de metas e a convergência da inflação
para a meta de 4,5% no horizonte relevante”, diz o documento.
O BC também
retirou da ata divulgada hoje a afirmação de que trabalhava para os efeitos de
ajuste de preços relativos ficasse circunscrito a 2015, ou seja, não passaria
para a inflação de 2016.
A meta de
inflação tem como centro 4,5% e limite superior em 6,5%. Neste ano, o BC já
esperava estouro da meta. A projeção do BC é que o Índice Nacional de
Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chegue a 9,5%. A estimativa do
mercado financeiro é 9,85%. Para 2016, a expectativa do mercado financeiro está
cada vez mais próxima do teto da meta (6,5%). Na última estimativa divulgada
na segunda-feira (26), a projeção das instituições financeiras para o
IPCA, no próximo ano, estava em 6,22%.
Para tentar
levar a inflação ao centro da meta em 2016, o Comitê de Política Monetária
(Copom) elevou a taxa básica de juros, a Selic, por sete vezes consecutivas.
Nas duas últimas reunião, no entanto, o Copom optou por manter a Selic em
14,25% ao ano.
A taxa é usada
nas negociações de títulos públicos no Sistema Especial de Liquidação e
Custódia (Selic) e serve como referência para as demais taxas de juros da
economia. Ao reajustá-la para cima, o BC contém o excesso de demanda que
pressiona os preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam
a poupança.
Projeções
de preços
O Banco
Central (BC) aumentou a projeção para o aumento do preço energia elétrica, este
ano, de 49,2% para 51,7%. Também subiu a estimativa para o reajuste da gasolina
de 8,9% para 15%. A projeção para o aumento do preço do botijão de gás subiu de
15% para 19,9%, segundo a ata do Copom.
As tarifas de
energia elétrica e os preços da gasolina e do gás fazem parte dos preços
administrados por contrato e monitorados. Para o conjunto desses preços, o BC
projeção aumento de 16,9%, este ano, contra 15,2%, previstos, em setembro.
Para 2016, a
projeção para o aumento dos preços administrados ficou em 5,8% em 2016, 0,1
ponto percentual acima da estimativa de setembro.