Pesquisa
mostra que 63% é favorável ao Impeachment da Dilma, porém, 58% não sabem
justificar o motivo
Pesquisa
inédita do Ibope, concluída recentemente, mostra que 63% dos brasileiros apoiam
o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Até aí, pouca novidade. O Data folha já constatara a ampla maioria antiDilma em outra pesquisa. O diferencial desta pesquisa é que o Ibope perguntou os motivos: "Por qual razão algumas pessoas
estão apoiando o impeachment?". A maioria das respostas aponta
razões que podem ser justas, mas não estão previstas na Constituição. Se fosse
só por causa delas, não haveria base para impeachment.
A principal
causa citada pelos brasileiros em geral, e ainda mais pelos que são a favor da
retirada de Dilma do poder, é:
A
economia - 31%
mencionaram a situação econômica do Brasil, a inflação, os juros e o
desemprego. Não é à toa: preços sobem sem parar, há cada vez mais gente sem
emprego, os investimentos sumiram e os juros voltaram à estratosfera. Mas
não há artigo constitucional que preveja impeachment por incompetência.
E esse parece ser o motivo pelo qual a maioria dos brasileiros quer ver Dilma
descendo a rampa do Planalto.
A
má administração - 27% disseram
espontaneamente ao Ibope que a razão para o impedimento é a má administração,
ou, em outras palavras, ela "não está governando o País como
deveria". De novo, é justo, mas insuficiente.
É típico do
torcedor brasileiro querer trocar o técnico quando o time só perde. Mas, embora
a paixão seja a mesma, há mais regras no jogo de poder do que no de futebol.
Não fosse assim, a política seria um Brasileirão - um entra e sai de
comandantes que não costuma levar ao título, mas ao aprofundamento da crise.
Aos 31% e aos
27% somam-se repostas espontâneas e múltiplas que revelam o clima de Fla x Flu
para 4%:
- 2% dizem que ficaram insatisfeitos com o resultado da eleição, e
- 2% simplesmente não gostam de Dilma. Fora os 8% que defendem a saída da presidente, mas não sabem dizer por que.
Além dos
descontentes com a economia e dos desafetos antiPT, há um terceiro grupo de
respostas que revela um sentimento de traição:
- 6% dizem que Dilma mentiu na campanha eleitoral sobre a situação econômica do país e traiu a confiança da população. A estas, somam-se citações à redução de benefícios trabalhistas, e
- 1% que falam que ela não cumpre o que promete.
O quarto grupo
de respostas é o segundo em tamanho. São os que mais se aproximam de apontar um
motivo previsto na Constituição para o impeachment:
- 21% citam corrupção (genérica) no governo,
- 12% falam especificamente da Lava Jato e de roubos na Petrobras e
- 3% se referem a um suposto envolvimento pessoal de Dilma com corrupção.
Mesmo assim,
não é por nenhum desses motivos que a presidente pode perder seu mandato. As
razões que a oposição tenta emplacar são outras - e que praticamente ninguém
conhece.
Apenas 1% dos
brasileiros se referiu às irregularidades das contas do primeiro mandato de
Dilma, as chamadas pedaladas fiscais - algo que está para ser julgado pelo
Tribunal de Contas da União e que o PSDB trabalha para virar processo na
Câmara.
Menos de 0,5% lembraram de que - nas palavras categóricas do ministro
Gilmar Mendes -, "ao que parece, havia, supostamente, entrada ilegal de
recursos públicos" na campanha à reeleição.
Se Dilma for
impedida por obra do TCU ou do TSE, muita gente vai comemorar. Mas menos de 2%
saberão o motivo que permitiu tal comemoração. E daí? O que importa é o
resultado, certo? Sim, nisso a política se parece cada vez mais com o futebol:
os fins justificam os meios. Mão na bola é só do adversário, para o time mais
popular é sempre bola na mão. Há um porém.
Se a população
se acostumar a trocar de presidente como troca de técnico a cada trombada da
economia, os próximos no poder enfrentarão uma instabilidade política que tende
a perpetuar a instabilidade econômica. É ganhar o jogo e perder o campeonato.
* José Roberto
de Toledo é coordenador do Estadão Dados
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