Paulo Henrique dos Santos do
Politize-se
Existe uma possibilidade real
de você já ter se encontrado com um robô por aí e nem ter percebido. Pode até
ter tentado discutir com um deles – muito provavelmente sem sucesso. A verdade
é que, disfarçados de pessoas, eles estão à solta. Mas não precisa ficar
paranoico, ao menos fora do Facebook, Twitter e outras redes sociais. Os social bots, como são
chamados esses perfis falsos automatizados, estão por aí e podem tentar
influenciar seu voto nas
próximas eleições. Pode parecer complicado, mas não se preocupe que a gente te
ajuda a entender!
Os bots: o que são e para que servem?
Mas o que são bots? Como o nome
sugere, bots são basicamente robôs, mas não espere nada saído de Blade Runner
ou Exterminador do Futuro. Na realidade, são programas, linhas de código feitas
para simular o comportamento humano de forma automatizada em perfis online.
Eles podem ser inofensivos e práticos, como os chatbots que agilizam o
atendimento de empresas na internet. Podem também ter fins humorísticos ou
culturais, como alguns perfis do Twitter.
No entanto, existem aqueles que, como é o caso
dos social bots discutidos neste artigo, podem ser ameaças à democracia na
medida que tentam influenciar e poluir o debate público. Ao menos é o que
muitos têm defendido.
Os social bots são softwares desenvolvidos
para gerarem conteúdo e interagirem com outros usuários dentro de redes sociais
como o Facebook e o Twitter. Com isso, podem inflar os números de curtidas e
seguidores de um político, figura pública ou até mesmo de uma ideia ou evento,
dando a sensação de um apoio que na realidade não existe. Uma vez que são
projetados para parecerem humanos, podem atrair usuários para links cheios de
boatos e fake news, além de conseguirem criar ou se intrometer em
discussões virtuais.
Os bots fazem parte de uma mudança na maneira
de se discutir e fazer política no mundo todo. Na última década, boa parte do
debate público tem se dado nas redes sociais. No âmbito das eleições,
trata-se de um fenômeno visto em praticamente todos os pleitos desde 2008,
quando Barack Obama se elegeu presidente
dos Estados Unidos com uma campanha focada na internet.
Desde lá, querendo ou não, o investimento de campanhas
eleitorais em redes sociais virou quase obrigatório. A
internet, por natureza manipulável, tornou-se então terreno fértil para o uso
de técnicas duvidosas em escala inédita. Os bots, assim como as fake news, são mais um
capítulo dessa história.
Bots em eleições:
o caso dos EUA
O exemplo mais marcante até o momento é o
norte-americano. Quem acompanha o noticiário internacional com certeza já se
deparou com matérias sobre a suposta influência russa nas eleições americanas
de 2016. Dentre as várias suspeitas, estão justamente o uso de robôs para
apoiarem o candidato vitorioso Donald Trump.
Uma pesquisa publicada pelo Computational Propaganda Research Project, da Universidade de Oxford, identificou o impacto dos
bots em 2016. Segundo os autores, os exércitos coordenados de bots, os botnets, permitiram a
“manufatura de consenso” – isto é, por meio de hashtags, likes e retweets em
massa dados pelos robôs, fabricou-se uma sensação (falsa) de apoio. Com isso,
não só um candidato de fora da política – como Trump – foi legitimado, como
conseguiu atrair para si muita atenção da mídia,
conquistando a partir daí apoiadores reais.
A pesquisa aponta ainda um aspecto pouco
comentado dos bots. É o seu efeito de democratizar as
ferramentas de propaganda online. Afinal, em teoria, qualquer militante
independente com algum conhecimento de programação consegue montar seu exército
de robôs. Os pesquisadores admitem, inclusive, a possibilidade de terem
sidos esses a maioria dos bots atuantes durante as eleições de 2016, e não os
supostamente comandados pelos russos. No entanto, trata-se de uma questão ainda
em aberto.
E no Brasil?
A acirrada disputa eleitoral de
2014 entre a petista Dilma Roussef e
o tucano Aécio Neves é o primeiro caso bem documentado de uso de bots no
Brasil. Segundo pesquisa da Diretoria de Análise de Políticas Públicas
da FGV (FGV/DAAP), os robôs geraram cerca de
11% das discussões durante o período. Apesar do candidato
do PSDB ter tido mais apoio de contas automatizadas, ao longo da disputa
eleitoral ambos contaram com seus robôs.
De acordo com outra pesquisa do “Computational
Propaganda Research Project”, um tipo
diferente de bot deu as caras nas eleições municipais
de 2016. Foram os ciborgues. Através da ferramenta “doe um like”, o político pedia
aos eleitores que lhe concedessem o poder de curtir e compartilhar postagens
por três meses. Os perfis passavam então a atuar de forma automatizada para o candidato.
Entrevistada pelos pesquisadores, uma profissional, envolvida em campanhas que
usaram o recurso,
acredita na possibilidade do método ter garantido vitórias em algumas cidades.
A pesquisa da FGV analisa ainda atividades de
contas automatizadas durante as manifestações do impeachment,
as eleições municipais de 2016, a greve geral de
28 de abril de 2017 e a votação da reforma
trabalhista no Senado. Todos esses momentos decisivos da
história recente brasileira contaram, em maior ou menor grau, com a presença de
bots atuantes nas redes sociais. Contudo, assim como no caso americano, não é
possível afirmar quem os criou: se os próprios partidos,
militantes agindo de forma independente, ou ainda alguma outra força externa.
A presença dos bots não se limita às eleições.
Os horários
eleitorais nas televisões podiam ter terminado, mas na
internet, o brasileiro não só continuou a debater e discutir política, como
também continuou a ser alvo de tentativas de manipulação e influência. Enquanto
isso, a sociedade foi tomada por uma crescente polarização – não por menos, os
pesquisadores da FGV identificaram uma tendência dos bots de ocuparem
justamente extremos do
espectro político. Teriam eles contribuído para a radicalização do
debate? É difícil dizer. Até que ponto os robôs conseguem influenciar uma
sociedade é uma questão em aberto e muitos estudiosos são céticos quanto a
isso. No entanto, sua existência e intenções já são certas para os
pesquisadores.
No caso brasileiro, táticas de campanha como
os bots só passaram a fazer sentido a partir do momento em que a internet se
tornou um dos principais espaços de debate público. Esse foi um processo
gradual, consolidado nos protestos de Junho de 2013 e que ainda não acabou.
Afinal, ano após ano o brasileiro está mais conectado. Segundo a Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), divulgada pelo IBGE em
2015, houve um crescimento de 6,7 milhões de novos internautas em relação a
2014 – um número que deve continuar a aumentar nos próximos anos. Não há,
portanto, por que acreditar que estaremos livres dessas questões em um futuro
próximo.
E isso nos leva a mais uma pergunta…
E nas eleições de 2018? Como vai ser?
De modo geral, as próximas
eleições terão um uso ainda mais intenso de tecnologia. E, apesar de haverem
novidades como o big data, os social bots vão continuar marcando presença,
segundo entrevistados desta matéria publicada pela Folha de São Paulo.
O Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) vem se preparando para lançar as novas regras
de comportamento online para candidatos. Segundo a apuração da BBC Brasil, nas novas normas os robôs
não seriam totalmente proibidos. Assim, as contas automatizadas para a
divulgação de agendas e plataformas de governo estariam autorizadas. No
entanto, botsusados para ofender oponentes ou
manipular pesquisas online
seriam proibidos e passíveis de punição. Outras formas de manipulação,
como as fake news,
também estão na mira do TSE.
Ainda segundo a reportagem, o TSE terá acesso
às ferramentas desenvolvidas pela Agência Brasileira de Inteligência (ABIN)
para monitorar grupos extremistas às vésperas das Olimpíadas do Rio em
2016. Elas serão utilizadas para identificar e investigar as ações de robôs ao
longo da disputa eleitoral. A iniciativa de combater
a manipulação na webtem participação ainda da Polícia Federal e
do Centro de Defesa Cibernética do Exército, além de empresas privadas como
Google e Facebook.
Como identificar um social bot?
Além de softwares desenvolvidos para essa
tarefa, é possível muitas vezes identificar se um perfil é ou não um bot sem
nenhum recurso além do olhar treinado. Abaixo, colocamos algumas dicas que
podem te ajudar!
- Os social bots
fazem muitas postagens em um mesmo dia, podendo chegar até a casa das centenas;
- Baixa atividade
também pode ser um indicativo. Quando coordenados em botnets, os robôs podem
fazer poucas postagens e, mesmo sem seguidores/amigos, ainda assim conseguirem
muitas curtidas, compartilhamentos, retweets etc;
- São
monotemáticos. A verdade é que bots políticos não costumam ter muito assunto,
além de… política. Vão estar focados em falar bem ou mal de apenas de um
candidato, por exemplo;
- Interagem pouco
com outros usuários. Robôs sofisticados capazes de conversar são raros, por
isso muitas vezes as interações não vão passar de retweets ou compartilhamentos;
- Bots tendem a
não terem muitas informações pessoais em seus perfis por motivos óbvios: eles
não existem.
Agora
que você já sabe tudo sobre os social bots nas eleições, que tal revisar o
conteúdo no infográfico abaixo? Boa leitura!
Clique na imagem para ver tamanho original
Paulo Henrique dos Santos – É estudante de
jornalismo da UFRJ interessado em política e história.