Por Mariana
Ribeiro*
"O que
você faz é política."
Essa frase tem
me acompanhado nos últimos dois anos, desde que empreendi - na companhia de
três apaixonantes malucos - o Imagina na Copa.
Passamos 18
meses viajando o Brasil, buscando, investigando e documentando histórias de
jovens que estão transformando o país para melhor, atuando em causas diversas,
de maneiras diversas. Foram
75 curtas documentários, com 150 vozes, pelos 27 Estados.
Mas o que isso
tem a ver com política, mesmo?
Ouvir alguém
qualificar o meu trabalho como um trabalho político era algo maravilhoso e
assombroso ao mesmo tempo. Por um lado, trazia um sentimento de felicidade,
pela percepção de que existe uma transformação coletiva sendo feita através
dele. Pra mim, na sua essência, fazer política tem a ver com isso: uma
capacidade e uma vontade de representar a coletividade e atuar em prol dela.
Por outro
lado, também era tomada por uma sensação de desamparo e de pequenez. Se esse
trabalho é político, ele não deveria ser muito maior? Será que estamos fazendo
o suficiente?
O fantasma do
"suficiente" sempre me rondou, desde quando decidimos que mudaríamos
nossas vidas para abraçar esse projeto. Conversando com outros empreendedores
sociais, percebo que não estou sozinha.
Há quem já
tenha sentido a presença do fantasma. Alguns relatam ter ouvido sua voz. E há
os clarividentes, que tomam café, almoçam e jantam na presença consciente dele,
tão acostumados já estão. Será que podemos ser julgados por fazermos o bem, mas
fazermos pouco?
Já faz alguns
meses, tive a oportunidade de conhecer Sara Parkin,
numa palestra que ela fez em São Paulo. Sara, uma senhora brilhante de 68 anos,
foi uma das fundadoras do Partido Verde, no Reino Unido, depois se desligou da
política institucional e hoje coordena o Forum For the Future. Ela esteve aqui
para apresentar seu livro O
Divergente Positivo.
"Divergente
positivo", nas palavras dela, é a "pessoa que faz as coisas certas em
prol da sustentabilidade, a despeito de estar rodeado por estruturas
institucionais erradas, processos equivocados e pessoas teimosamente não
cooperativas".
Sara defende
que não podemos mais esperar por tratados internacionais, reformas
institucionais ou lideranças governamentais esclarecidas - "soluções de
longuíssimo prazo". A única opção, segundo ela, é o maior número possível
de pessoas, no mundo inteiro, assumir esse compromisso e fazer a coisa certa.
O que ela
traz, pra mim, é uma resposta às minhas questões sobre o
"suficiente". Quando se trata de política no Brasil - um assunto tão
complexo, tão codificado e tão profundo - a sensação de impotência é quase
inevitável.
Se eu fizer
minha parte, vai surtir algum efeito? Adianta?
A resposta é
"sim". O que Sara traz é um grande sim para qualquer coisa que
fizermos que nos leve adiante, enquanto sociedade. E, pasmem, ela própria afirma
que "fazer a coisa certa" pode ter qualquer tamanho.
Pode ser um
ato individual tão simples quanto trocar o carro pelo transporte público no dia
a dia. Ou pode ser um ato tão grande quanto iniciar uma mobilização em torno de
um tema importante para você. Não importa.
O que importa
é divergir positivamente, é colocar-se no caminho certo, mesmo quando as
estruturas te empurram para o lado contrário, quando tudo colabora para que
você permaneça exatamente onde está, inclusive - ou principalmente - sua própria
consciência.
Minha clareza
a respeito disso trouxe muita tranquilidade para minha atuação. Em vez de
"o que eu posso fazer para mudar a política no Brasil", eu passei a
me perguntar "qual é a coisa boa o bastante que eu posso fazer para ser
uma boa eleitora?"
Minha decisão
pessoal foi começar a estudar sobre o assunto.
Fiz um post no Facebook, prometendo pagar um café a quem se dispusse a
conversar comigo sobre política. Me inscrevi num curso de "Política para não políticos", no Cinese. Comecei a
participar mais ativamente da pesquisa do Sonho
Brasileiro da Política. Pedi pra entrar no grupo que estava organizando a Virada Política e
colaborei com eles.
Mas sabe qual
foi a decisão política mais importante que eu tomei nos últimos tempos? A
decisão de comprar uma passagem de São Paulo para o Rio no dia 5 de outubro,
para estar lá e poder votar nessas eleições.
Obrigada,
Sara. O fantasma foi embora. Finalmente sinto que fiz algo bom o suficiente.
Carioca em
roaming nova iorquino. Jornalista de formação, gestora de marca por
oportunidade, empreendedora social de propósito. Foi cofundadora do Imagina na Copa, com o qual viajou o
Brasil para documentar histórias de jovens que estão transformando o país para
melhor. Adora tapioca, cafuné de avó, cervejinha com os amigo, pisar com o pé
na terra, o eterno namoro com o Rio de Janeiro, as saudades de São Paulo,
abraçar estrangeiros, meia pros dias frios, ventilador pros dias quentes e
escrever. Ah, fica mais feliz quando perto do mar.
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