Por Bruno Pavan,
no jornal Brasil de
Fato:
A Câmara dos Vereadores de São Paulo recebeu a etapa livre do 5o Congresso do
PT com o tema comunicações e mídias sociais. O evento, que aconteceu na manhã
do último sábado (30), contou com a presença de diversos especialistas no
assunto, entre eles, o sociólogo Sérgio Amadeu, a jornalista Laura Capriglione
e o deputado estadual José Américo.
Uma das avaliações centrais dos comunicadores foi a de que
governo federal não teve o devido envolvimento na regulamentação do meios de
comunicação. Para a coordenadora do Centro de Estudos de Mídia Alternativa
Barão de Itararé, Renata Mielle, apesar da dificuldade política que o governo
vive atualmente é possível avançar no setor.
“Hoje, voltamos a perseguir as rádios comunitárias como se elas fossem caso de
polícia. No entanto, elas são instrumentos importantíssimos para a comunidade.
É preciso também dar relevância política para a Empresa Brasileira de
Comunicação (EBC). A presidenta Dilma, por exemplo, nunca deu uma entrevista
para a TV Brasil. O erro cometido nesses 12 anos do PT foi não ter feito o
enfrentamento ideológico que os meios de comunicação fizeram desde o primeiro
dia do governo Lula”, criticou.
A posição política da mídia empresarial no Brasil também foi alvo de críticas.
O secretário nacional de comunicação do PT e deputado estadual paulista José
Américo analisa que os meios de comunicação já nasceram como mini-partidos
políticos no Brasil. “Vender jornal sempre foi secundário. Se você pegar o
Estado de S. Paulo, ele tem mais definições políticas do que a maioria dos
partidos no Brasil”, analisou.
Política tecnológica
No encontro de comunicadores promovido pelo PT, as práticas através de novas
tecnologias foi apresentado como o principal desafio da comunicação hoje. Para
Sérgio Amadeu, professor da Universidade Federal do ABC, ao mesmo tempo em que
é necessário colocar regras na radiodifusão, é preciso estar atento para o uso
da internet e os riscos que empresas como Google e Facebook representam à
privacidade na rede.
“O software delimita a sua ação. Ele não é neutro assim como não existe
jornalismo neutro. Hoje temos algo chamado modulação de conteúdo. Experimente
mandar um e-mail dizendo que você quer viajar para a Bahia e veja o que vai
acontecer com as publicidades na sua página. O Google e o Facebook estão cada
vez mais conduzindo o internauta e recolocando a força do poder econômico:
'Você é livre desde que use a minha plataforma'”, disse.
O embate entre os discursos também é algo cada vez mais presente no Facebook e,
na avaliação de Amadeu, a esquerda está saindo atrás do discurso. Ele reforçou
a presença de páginas conservadoras que incitam o ódio, como a TV Revolta e os
Revoltados On-line, e seu grande crescimento nos últimos tempos por conta de
investimento em postagens patrocinadas. O professor acredita que é um erro da
esquerda diminuir a necessidade de fazer uma política tecnológica.
“O difícil hoje não é falar, mas ser ouvido. O [partido] Podemos, na Espanha,
tem uma comissão específica de aplicativos e a pergunta que fica é: como eu
faço para o meu conteúdo chegar a mais pessoas? Não se faz comunicação sem uma
política tecnológica. O poder das teles e das grandes empresas de mídia estão
indo em direção à internet. Se já éramos contra a concentração de poder antes,
imagina o estrago que eles podem fazer na internet”, encerrou.
Novas narrativas
A dificuldade do campo progressista em se comunicar com as novas mídias também
foi um dos temas do encontro. A jornalista Laura Capriglione, membro da rede
Jornalistas Livres, explicou como esse coletivo vem buscando construir uma
narrativa diferente dos protestos em relação ao que a grande mídia noticia.
Como exemplo, Laura cita a primeira cobertura da rede, nos protestos do dia 13
de março – realizado pelos movimentos populares e centrais sindicais – e do dia
15 do mesmo mês – com grupos pró-impeachment do governo Dilma e a favor da
ditadura milita.
“A Rede Globo, desde o início da manhã [do dia 15], mobilizou toda a sua equipe
fazer a cobertura do ato em tempo real. Eles investiram em tomadas aéreas e a
ideia era sempre dizer que era a volta das Diretas Já. Além de reforçarem todo
o tempo que era a festa da família brasileira. Fizemos o jornalismo mais
tradicional possível: fomos pra rua e começamos a filmar. Esse fato foi o
suficiente para desnudarmos a natureza fascista e autoritária daquela
manifestação”, acredita.
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