domingo, 7 de junho de 2015

PT errou ao não enfrentar a mídia


Por Bruno Pavan, no jornal Brasil de Fato:


A Câmara dos Vereadores de São Paulo recebeu a etapa livre do 5o Congresso do PT com o tema comunicações e mídias sociais. O evento, que aconteceu na manhã do último sábado (30), contou com a presença de diversos especialistas no assunto, entre eles, o sociólogo Sérgio Amadeu, a jornalista Laura Capriglione e o deputado estadual José Américo.


Uma das avaliações centrais dos comunicadores foi a de que governo federal não teve o devido envolvimento na regulamentação do meios de comunicação. Para a coordenadora do Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé, Renata Mielle, apesar da dificuldade política que o governo vive atualmente é possível avançar no setor.


“Hoje, voltamos a perseguir as rádios comunitárias como se elas fossem caso de polícia. No entanto, elas são instrumentos importantíssimos para a comunidade. É preciso também dar relevância política para a Empresa Brasileira de Comunicação (EBC). A presidenta Dilma, por exemplo, nunca deu uma entrevista para a TV Brasil. O erro cometido nesses 12 anos do PT foi não ter feito o enfrentamento ideológico que os meios de comunicação fizeram desde o primeiro dia do governo Lula”, criticou.


A posição política da mídia empresarial no Brasil também foi alvo de críticas. O secretário nacional de comunicação do PT e deputado estadual paulista José Américo analisa que os meios de comunicação já nasceram como mini-partidos políticos no Brasil. “Vender jornal sempre foi secundário. Se você pegar o Estado de S. Paulo, ele tem mais definições políticas do que a maioria dos partidos no Brasil”, analisou.


Política tecnológica


No encontro de comunicadores promovido pelo PT, as práticas através de novas tecnologias foi apresentado como o principal desafio da comunicação hoje. Para Sérgio Amadeu, professor da Universidade Federal do ABC, ao mesmo tempo em que é necessário colocar regras na radiodifusão, é preciso estar atento para o uso da internet e os riscos que empresas como Google e Facebook representam à privacidade na rede.


“O software delimita a sua ação. Ele não é neutro assim como não existe jornalismo neutro. Hoje temos algo chamado modulação de conteúdo. Experimente mandar um e-mail dizendo que você quer viajar para a Bahia e veja o que vai acontecer com as publicidades na sua página. O Google e o Facebook estão cada vez mais conduzindo o internauta e recolocando a força do poder econômico: 'Você é livre desde que use a minha plataforma'”, disse.


O embate entre os discursos também é algo cada vez mais presente no Facebook e, na avaliação de Amadeu, a esquerda está saindo atrás do discurso. Ele reforçou a presença de páginas conservadoras que incitam o ódio, como a TV Revolta e os Revoltados On-line, e seu grande crescimento nos últimos tempos por conta de investimento em postagens patrocinadas. O professor acredita que é um erro da esquerda diminuir a necessidade de fazer uma política tecnológica.


“O difícil hoje não é falar, mas ser ouvido. O [partido] Podemos, na Espanha, tem uma comissão específica de aplicativos e a pergunta que fica é: como eu faço para o meu conteúdo chegar a mais pessoas? Não se faz comunicação sem uma política tecnológica. O poder das teles e das grandes empresas de mídia estão indo em direção à internet. Se já éramos contra a concentração de poder antes, imagina o estrago que eles podem fazer na internet”, encerrou.


Novas narrativas


A dificuldade do campo progressista em se comunicar com as novas mídias também foi um dos temas do encontro. A jornalista Laura Capriglione, membro da rede Jornalistas Livres, explicou como esse coletivo vem buscando construir uma narrativa diferente dos protestos em relação ao que a grande mídia noticia.


Como exemplo, Laura cita a primeira cobertura da rede, nos protestos do dia 13 de março – realizado pelos movimentos populares e centrais sindicais – e do dia 15 do mesmo mês – com grupos pró-impeachment do governo Dilma e a favor da ditadura milita.


“A Rede Globo, desde o início da manhã [do dia 15], mobilizou toda a sua equipe fazer a cobertura do ato em tempo real. Eles investiram em tomadas aéreas e a ideia era sempre dizer que era a volta das Diretas Já. Além de reforçarem todo o tempo que era a festa da família brasileira. Fizemos o jornalismo mais tradicional possível: fomos pra rua e começamos a filmar. Esse fato foi o suficiente para desnudarmos a natureza fascista e autoritária daquela manifestação”, acredita.

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