Sentimento
está no DNA da classe dominante brasileira, que historicamente derruba, pelas
armas se for preciso, toda ameaça ao seu domínio, seja qual for a sigla.
Não vi a
entrevista do Jô com a Dilma, mas, conhecendo o Jô, sei que ele não foi
diferente do que é no seu programa: um homem civilizado, sintonizado com seu
tempo, que tem suas convicções — muitas vezes críticas ao governo — mas
respeita a diversidade de opiniões e o direito dos outros de expressá-las. Que
Jô fez uma matéria jornalística importante e correta, não é surpresa. Como não
é surpresa, com todo esse vitríolo no ar, a reação furiosa que causou pelo
simples fato de ter sido feita.
A deterioração
do debate político no Brasil é consequência direta de um antipetismo
justificável, dado os desmandos do próprio PT no governo, e de um ódio ao PT
que ultrapassa a razão. O antipetismo decorre, em partes iguais, da frustração
sincera com as promessas irrealizadas do PT e do oportunismo político de quem
ataca o adversário enfraquecido. Já o ódio ao PT existiria mesmo que o PT
tivesse sido um grande sucesso e o Brasil fosse hoje, depois de 12 anos de
pseudossocialismo no poder, uma Suécia tropical. O antipetismo é consequência,
o ódio ao PT é inato. O antipetismo começou com o PT, o ódio ao PT nasceu antes
do PT. Está no DNA da classe dominante brasileira, que historicamente derruba,
pelas armas se for preciso, toda ameaça ao seu domínio, seja qual for sua sigla.
É inútil
tentar debater com o ódio exemplificado pela reação à entrevista do Jô e
argumentar que, em alguns aspectos, o PT justificou-se no poder. Distribuiu
renda, tirou gente da miséria e diminuiu um pouco a desigualdade social — feito
que, pelo menos pra mim, entra como crédito na contabilidade moral de qualquer
governo. O argumento seria inútil porque são justamente estas conquistas que
revoltam o conservadorismo raivoso, para o qual “justiça social” virou uma
senha do inimigo.
Tudo isto é
lamentável mas irrelevante, já que o próprio Lula parece ter desesperado do PT.
Se é verdade que o PT morreu, uma tarefa para investigadores do futuro será
descobrir se foi suicídio ou assassinato. Ele se embrenhou nas suas próprias
contradições e nunca mais foi visto ou pensou que poderia ser a primeira
alternativa bem-sucedida ao domínio dos donos do poder e acordou um dia com um
tiro na testa?
De qualquer
maneira, será uma história triste.
Via http://oglobo.globo.com/opiniao/odio-16546533#ixzz3e6tq5Ghe
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ameaças por causa de uma entrevista
ResponderExcluiragora imagine o lobao que sofre alem de ameaças boicote do governo