O flagrante no helicóptero dos Perrellas no Espírito Santo |
Na esteira da
denúncia de que delegados da Polícia Federal envolvidos na operação Lava Jato
fizeram campanha para Aécio Neves, vale a pena relembrar um episódio recente e
rumoroso em que a PF teve um papel, no mínimo, estranho. Falo do Helicoca.
O helicóptero
da família Perrella foi apreendido com 445 quilos de cocaína numa fazenda no
interior do Espírito Santo em 24 de novembro de 2013. Vai fazer um ano.
Apenas quatro
míseros dias depois, a ligação dos Perrellas com o crime foi descartada. Segundo
o delegado responsável, Leonardo Damasceno, não existiam indícios de
participação dos parlamentares.
“Pará nós,
essa questão está encerrada”, disse ele. “O deputado [Gustavo, filho de Zezé]
não estava no local e a contratação do frete foi feita pelo copiloto, que
subcontratou o piloto”.
No inquérito,
o proprietário do local onde ocorreu o pouso foi inocentado também, sem uma
explicação convincente. A Superintendência da PF em Minas ouviu Gustavo,
mas apenas como testemunha. “Hoje não há nada que indique que ele tivesse
conhecimento sobre a droga”, afirmou Damasceno.
Uma escala num hotel fazenda
em Jarinú (SP), onde, de acordo com documentos, ficaram 50 quilos do
entorpecente, foi ignorada. O juiz federal Marcus Vinícius Figueiredo de
Oliveira Costa relacionou algumas questões sem resposta: “Há realmente diversos
aspectos que dependem de investigação, como a origem da droga apreendida, a
dúvida sobre a internacionalidade, o papel dos envolvidos e a possível
participação de terceiros”.
Quem é
Leonardo Damasceno? Ele formou-se em Direito pela Universidade Federal de Minas
Gerais e é pós-graduado em Direito Público e Processual pela Consultime-Unives,
de Vitória. Em 1996, foi nomeado para o cargo de agente fazendário em Belo
Horizonte.
Fez carreira
em terras capixabas. Em janeiro, assumiu a secretaria de Defesa Social do
município de Serra, o mais populoso do ES e um dos mais violentos do
Brasil. O prefeito é Audifax Barcelos (PSB), que trabalhou pela reeleição
de Renato Casagrande (derrotado). Ambos apoiaram Aécio.
Damasceno
ficou cerca de três meses na função e teria saído por causa de conflito de
interesses. Ele esteve à frente de operações como “Duty Free”, que desbaratou
um bando especializado em crimes ligados à área do comércio exterior, e
“Calouro”, que apanhou fraudadores de mais de 50 vestibulares em 30
instituições de ensino superior privadas.
O jornalista
Joaquim de Carvalho falou com o policial na série de reportagens sobre o
Helicoca publicada no DCM. Escreve Joaquim: “Leonardo Damasceno é de uma
família de funcionários públicos. Seu irmão, auditor fiscal em Minas Gerais,
ocuparia um cargo de confiança no governo mineiro. Sobre a hipótese de conflito
de interesses, já que Zezé Perrella, dono do helicóptero, é aliado político de
Aécio Neves, Leonardo diz:
– Não tenho
ideia do que fazem meus irmãos. Ilações todo mundo faz. Dizem, por exemplo, que
por eu ser Galo (torcedor do Atlético Mineiro) não poderia defender alguém que
é do Cruzeiro (Zezé Perrella era presidente do clube).
Parecia
empenhado na investigação, mas o fato é que, depois da entrevista em que
isentava Perrella, entrou de férias e quem assina o relatório final do
inquérito é a delegada Aline Pedrini Cuzzuol.”
Do DCM
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Dag Vulpi